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  • Dramas humanos e Teologia
    Vol. 84 No. 328 (2024)

    “Confia no Senhor e faze o bem!” (Sl 37,3); “Vinde a mim vós todos que estais cansados e sobrecarregados e eu vos darei descanso (Mt 11,28). Estas ou outras referências, bíblicas ou não, podem introduzir o tema-dossiê deste número da REB: Dramas humanos e Teologia. Pois, dramas remetem à sobrecarga e canseira e à busca por solução. Manifestam-se nas cotidianas interrogações existenciais, seja em nível coletivo (em decorrência de desafios colocados pelo conjunto social humano e/ou por sociedades ou setores das mesmas, que podem encontrar perspectivas de equação ou degenerar em conflitos e tragédias) seja em nível pessoal (resultantes de problemas, aflições, tensões etc., provindos de limitações naturais, insuficiência do próprio Eu, maldades, divisões, desencantos, depressões, solidão, desespero...). Os artigos deste número/REB tratam, prevalentemente, deste segundo aspecto e, ainda, de modo particular, do referente a lideranças religiosas. Pois, todos são pessoas, participantes da condição humana. Como tais (incluídos, pois, clero e consagrados/as), até onde são capazes de chegar em seus desejos e em suas utopias, e a partir de qual energia se posicionam ou por que também podem desistir de si mesmas? Com quem podem contar? Como, apesar dos desafios, também podem contribuir em benefício dos mais desamparados e injustiçados? A solidária rede social da civilização basta? Equacionar a singularidade enquanto solitude, sendo senhor/a de si mesmo/a, basta? Como e em que a reflexão, o silêncio teológico/espiritual, bem como o aporte das ciências voltadas à saúde podem ajudar? É o que compartilham os autores deste número/REB, pontuando aspectos de algumas situações humanas desafiadoras e indicando caminhos. São eles: Sérgio Lasta, Ney de Souza e Rodolfo Gasparini Morbiolo, Waldir Souza e Michel Eriton Quintas, Antonio de Lisboa Lustosa Lopes e Rodrigo Victor de Souza Pereira e Renan Mascarenhas Santos, Marco Aurélio Knippel Galletta e Jéssica Gorrão Lopes Albertini, Elismar Alves dos Santos, Vagner Sanagiotto, Marta Helena de Freitas e Rubens Nunes da Mota, Jorge Henrique Barro e Marlon Figueiredo, Gelson Luiz Mikuszka e José Amarildo Luciano da Silva.

    Ademais, o compromisso ético com a construção de entendimento e a colaboração entre os seres humanos que os arquitetos digitais e usuários da Inteligência Artificial podem e devem desenvolver é colocado por Martín Carbajo-Núñez.

    O itinerário do ministério episcopal de Dom Pedro Paulo Koop, realçando sua participação no Concílio Vaticano II e seu empenho em estimular sua igreja particular inspirado nas diretrizes do mesmo Concílio, é ilustrado por Reuberson Rodrigues Ferreira.

    Sandro Ferreira e Sergio Cezar Rodrigues de Moraes Junior, por sua vez e por ocasião dos 60 anos da promulgação do decreto conciliar Presbyterorum Ordinis, apontam a espiritualidade presbiteral ali configurada – um aporte decisivo no “humano” dos presbíteros.

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    Elói Dionísio Piva, ofm

    Redator

  • Liturgia do Povo de Deus
    Vol. 84 No. 327 (2024)

    “A Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (SC 10). Pois, cremos o que rezamos e celebramos/rezamos o que cremos. O Povo de Deus – imagem cara ao Vaticano II para se referir aos discípulos de Jesus Cristo –, centrado no Mistério Pascal, celebra o amor salvador de Deus – Pai, Filho e Espírito Santo. Na ação celebrativa acolhe a iniciativa de Deus enquanto porção da humanidade, caracterizada por pluralidade e evolução histórico-cultural. Portanto, sua ação litúrgica, para ser fiel a Deus e ao ser humano, conserva o dom recebido e evolui na compreensão e manifestação, ou seja, na linguagem ritual e simbólica que lhe é característica.

    É isto que se ressalta neste número da REB, ou seja, e em outras palavras, por um lado, a noção de Tradição (o reportado de geração em geração) e, por outro, a linguagem ritual e simbólica no contexto da evolução humana em sua diversidade de povos e culturas. Paolo Cugini, Matheus da Silva Bernardes, Joaquim Fonseca, Marcos Vieira das Neves e Luís Felipe Carneiro Marques, Tatiana Oliveira Ribeiro e Henrique Fortuna Cairus, José Reinaldo Martins Filho e Daniel Carvalho da Silva, Abimar Oliveira de Moraes e Wagner Francisco de Sousa Carvalho vão, pois, em busca da melhor correlação entre o conservar e o mudar, hoje.

    Em “Temas Variados”, pertinentes destaques: o prosseguimento do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade da Igreja. Primeiramente registram-se convergências, questões a afrontar e propostas para a implementação provindas da primeira fase do Sínodo (cf. em Grande Sinal, v. 78, n. 01, 2024: síntese da Síntese da primeira parte do Sínodo) e, em seguida, revisita-se, interpreta-se (com atenção à participação do laicato) o percurso histórico da sinodalidade e se apresentam mais sugestões sinodais para a vida e a missão da Igreja (ver também REB, v. 83, n. 324, p. 223-352, 2023). Seguir com Agenor Brighenti e Antonio José de Almeida.

    Allan Silva Coelho ilustra a práxis e a pedagogia transformadoras do Papa Francisco a partir do Evangelho.

    A “Casa Comum” e a emergência/urgência climática encontram-se no realce dado à Exortação Apostólica Laudate Deum por Elvis Rezende Messias.

    Encerrando, uma janela sobre desistências na Vida Religiosa Consagrada, no contexto civilizatório atual, por Vagner Sanagiotto e Wilmar Santin.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Pluralismo religioso e Identidade católica
    Vol. 83 No. 326 (2023)

    É rotineira a utilização de palavras, como: educar, expressar, externar, aflorar. Não raro também se empregam imagens, como: vir ou trazer à luz do dia, vir à tona. Ou ainda, podemos criar expressões ou alegorias como estas ou semelhantes: evocou um instante de transcendente beleza, do silêncio veio ao som, abriu a boca e formatou a palavra, do nada veio ao ser. O evangelista João, em chave cultural grega cravou: “e o Verbo se fez carne”. Estas e outras semelhantes palavras ou expressões alegóricas expressam, externam, afloram, trazem à ciência, de alguma forma e por um instante, um segredo, um mistério que, se, por um lado, o manifestam, por outro, também o escondem. Assim, talvez se possa aludir ao destaque deste número/REB: pluralismo religioso e identidade católica. Sendo que, por “pluralismo”, se acena à manifestação de multiforme e inesgotável enigma; e por “identidade”, ao inimaginável manancial gerador, possibilitador, inspirador, ele mesmo em movimento a partir de quem o imagina, mas que sempre se retrai. Indicam-se, ademais, as igrejas como sinalizadoras desse “mistério” identitário; alude-se a Deus como “mistério”, à salvação como “mistério” des-velado e re-velado, bem como à interpelação ética, à sinalização de possibilidade e alegria de convivência, de anúncio, de cidadania polifonicamente pluralista e também a ideologias!

    É o que as contribuições, a partir de diversos pontos de vista, apresentam para consideração, admiração e anúncio promissor. Cf. com: Francisco Borba Ribeiro Neto, José Reinaldo Felipe Martins Filho, Ana Paula Cavalcante Luna de Andrade e Fernando Gomes de Andrade, Paulo César Nodari, Paolo Cugini, Paulo Sérgio Lopes Gonçalves, Jacqueline Crepaldi Souza e Sérgio Rogério Junqueira, Márcia Guena e Jadnaelson da Silva Souza, Gerson Lourenço Pereira, Bárbara Romeika Rodrigues Marques, Glícia Gripp, Celeide Agapito Valadares Nogueira.

    A pluralidade das sinalizações da identidade sugere uma condizente grandeza de escuta, admiração e humildade diante do mistério admirável da Vida e um alargado modo sinodal de ser e coexistir, na justiça.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Papa Francisco: 10 anos
    Vol. 83 No. 325 (2023)

    Cronos vivificado por kairós – 10 anos do pontificado do Papa Francisco. Restringindo-nos à Igreja católica, sabemos que toda ela, no individual e no coletivo, é sujeito no cronos e no kairós, e/mas Jorge Mário Bergoglio foi escolhido para ser sujeito e porta-voz do Espírito, que mantém e restaura a Igreja na fidelidade à Aliança. E ele, ciente de sua missão e desafio, buscou inspiração em são Francisco, aquele que, segundo o cronista dele contemporâneo Jacques de Vitry, fez o que era antigo ser novo, sem que isso significasse retrocesso cultural e/ou religioso.

    Embora em curso, 10 anos de pontificado possibilitam esboçar legado e perspectivas, mesmo que a Igreja se situe também no âmbito do mistério. A REB se associa ao esforço de delineá-los. Na missão apostólica de confirmar os irmãos na fé, no hoje do mundo e da própria Igreja, Francisco aponta para a alegria do Evangelho (do amor salvador que procede de Deus). Este vetor incide no interno da Igreja, na cura de seus males, na funcionalidade samaritana de suas iniciativas/instituições, no reforço de seu modo sinodal de ser. Sinaliza também para a heterorrefencialidade que, a partir da dignidade da pessoa e no diálogo, promove e incentiva humanismo nas relações humanas, na economia, na relação ecológica – enfim, desencadeia uma renovada sinergia a partir do Evangelho de Jesus Cristo. Embarquemos para fazer este percurso, guiados por Carlos Eduardo Sell, João Décio Passos, Rodrigo Grazinoli Garrido e Alessandra Paula Baldner Rodrigues, Donizete José Xavier e Dirceu Augusto da Câmara Valle e Cláudio Antônio Delfino, Paulo Sérgio Lopes Gonçalves e André Luiz Rossi, Renato Tarcísio de Moraes Rocha, Ney de Souza e Rodolfo Gasparini Morbiolo – a quem todos agradecemos.

    Além disso: o pós-cristianismo assusta? Mas, esta vertente cultural não abriria um novo horizonte para relacionar, com efeitos práticos, Encarnação do Filho de Deus e pessoa humana e vice-versa, envolvendo toda a criação? A “conversa” é com Paolo Cugini.

    A comunicação on-line abre possibilidades e complementa, particularmente no contexto amazônico, a interação humana, a evangelização – assunto para ver com Clélia Peretti e Raimundo Nonato Araújo Maia.

    Ritualizar faz parte do cotidiano, é próprio do ser humano; portanto, também a ação litúrgica é ritualizada – confira com Clóvis Ecco e Daniel Carvalho da Silva.

    A reforma da Igreja também passa pelo Ministério do Confessor, segundo Luís Felipe Carneiro Marques; confira com ele a necessidade e o convite para uma nova sensibilidade teológica a respeito.

    Martín Carbajo Núñez, por ocasião dos 800 anos, apresenta a força inspiradora da Regra bulada de são Francisco para se viver segundo o Evangelho, em contexto secularizado.

    Que a variedade e a riqueza das abordagens evangélico-culturais aqui apresentadas inspirem o discernimento e alimentem a alegria do Evangelho.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Mulheres na Sociedade e na Igreja católica
    Vol. 83 No. 324 (2023)

    Mulheres na sociedade e na Igreja católica. Neste número, a REB apresenta um recorte de gênero, visita a missão da referida Igreja e lida com aspectos culturais da plural e dinâmica sociedade humana. Esta é apresentada, também, como um amplo quadro de fundo e a referência ao feminino se caracteriza pelo destaque de figuras paradigmáticas. Algumas delas tão somente. E, despretensiosamente, pois agrupa-se o que foi oferecido.

    No que diz respeito à vocação e resposta-missão da Igreja, a experiência aqui recolhida se apresenta como exercício de discernimento, uma vez que, por um lado, porta consigo a inquietação da incerteza e, por outro, a alegria de vislumbrar o caminho da verdade e da vida. Este exercício de discernimento tem por objeto a vontade de Deus, revelada em e por Jesus Cristo. Por isso, enquanto resposta ele se expressa como experiência de Deus, mística, encontro, paixão, razão e impulso vital, discipulado e compromisso sociotransformador. Em termos histórico-culturais, manifesta-se, sempre pontualmente, como compromisso voltado à superação de injustiças sociais e de insensibilidades ecossociais, frutos de desamor. Culturalmente, mulheres na sociedade e na Igreja aqui evidenciadas pressionam por mais espaço em meio à cultura patriarcal, contribuem de maneira própria na expressão da experiência de Deus, em trabalhos sociais, na implementação de ecoteologia integral, na diversidade inclusiva. Portanto, são inspiradoras de integração na Igreja e na sociedade. São inspiradoras de sinodalidade. Nesse sentido cabe destacar neste número da REB a expressiva participação de mulheres, sozinhas ou em coautoria. Portanto, mulheres na sociedade e na Igreja católica, com colaboração de Nelson Maria Brechó da Silva e Tiago Cosmo da Silva Dias, Nilton Rodrigues Junior, Faustino Teixeira, Maria Clara Bingemer, Márcio Luiz Fernandes e Cleiton Costa de Santana, Amauri Carlos Ferreira e Maria Helena dos Santos Morra e Yonne de Souza Grossi, José Abel de Sousa e Beatriz Gross e Elaine de Azevedo Maria, Ceci Maria Costa Baptista Mariani, Maria Aparecida Correa Custódio.

    Além dessa rica inspiração, contamos com Mário Marcelo Coelho, que, a propósito da relação entre sinodalidade e sensus fidelium, propõe mais espaço à consciência pessoal no acesso aos sacramentos. Por fim, mas não por último, José Antonio de Almeida, motivado pelo modo sinodal de a Igreja ser, através da participação dos leigos em eventos sinodais ao longo da história eclesial, vê a mudança cultural transitar da Igreja-comunhão para a Igreja povo de Deus – um movimento de superfície.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Igreja católica e Pandemia Covid-19
    Vol. 82 No. 323 (2022)

    Este número da REB vem no quase imediato pós-auge da crise pandêmica da Covid-19 e na memória da abertura do Concílio Vaticano II – 60 anos depois. Pode-se, certamente, associar estas duas indicações aos sinais dos tempos, tão inspiradamente evocados por São João XXIII, e tomá-las como convite ao discernimento da vontade de Deus. Aqui, porém, só será tomada em consideração a primeira indicação, ou seja, a crise da Covid-19. E também não o será no alcance do título do dossiê – Igreja católica e pandemia Covid-19 –, mas não de minúsculas evocação e convocação.

    Em resumo, parte-se da constatação, em nossa cultura ocidental (relativamente globalizada e, aqui, com destaque no Brasil), do esforço humano e fundamental para transpor a finitude que a morte inexoravelmente apresenta. De tal maneira, porém, que foge-se desta, minimizando-a e negando-a socialmente. Ora, a tese é que sua banalização e, portanto, o não confrontar-se com ela significa proporcional descaso para com a pessoa que a padece, em outras palavras, para com a vida. Neste contexto, não há como não ouvir a pergunta pela missão dos discípulos-missionários de Jesus Cristo e de como ser testemunhas do amor do Pai, no Espírito Santo, que ele, Jesus, traz como boa nova de esperança e de vida plena. Este testemunho de amor se manifestou, se manifesta e manifestará no cuidado pastoral de toda a Igreja que, assim, manifesta o cuidado personalizado de Deus Pai em relação a toda a humanidade e a toda criatura. Portanto, o sinal dos tempos da aludida pandemia é também um forte convite de renovação, pessoal e estrutural, no sentido de alinhamento com o Concílio Vaticano II, ou seja, de ater-se ao Evangelho de Jesus Cristo e à dignidade da pessoa humana e, a partir dessa premissa, proceder a uma decorrente conversão eclesiológica e pastoral, fazendo com que as lideranças do Povo de Deus estejam ora à frente, ora no meio, ora atrás do rebanho. Uma provocação e tanto, e sadia. Cf. as contribuições de Renato Alves de Oliveira, Tiago de Fraga Gomes e Luís Felipe Carneiro Marques.

    Não menos importantes e sugestivas as ofertas de Paulo Cugini, Paulo Sérgio Lopes Gonçalves e Douglas Felipe dos Santos, que apontam conectividade entre o que se entende por secularização e/ou pós-modernidade e a afirmação cristã da Encarnação do Verbo de Deus; de José Aparecido Gomes Moreira, que relaciona a Carta a Diogneto à Fratelli Tutti; de Martín Carbajo Núñez, que apresenta a economia do nós da Escola franciscana; e de Alvori Ahlert, Silvana Filippi Chiela Rodrigues e Irineu Costella, que, ainda no contexto da pandemia, atestam um exemplo de consciência solidária.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Teologia e Organização social
    Vol. 82 No. 322 (2022)

    Teologia e organização social são como cortina de palco. Ao evocar esta imagem, pretende-se abri-la. E eis que nos deparamos com cenários multifacetários, temporal e localmente dinâmicos. No controle remoto, “teologia” e “organização social” também são opções de ingresso. Não, porém, pré-determinadas, pois dispõem de características próprias, de acordo com o dono do controle remoto. Conceitos e delimitações diferenciados lhes são atribuídos. Em outras palavras, é o ser humano que se auto apresenta em sua diversidade, mas que, migrante, também e principalmente busca sentido para si mesmo. Aqui, neste número/REB e quanto à organização social, parte-se da sociedade brasileira, em si mesma um poliedro. Bate-se à porta de alguns aspectos da atualidade e de tempos pretéritos no intuito de discernir e interpretar a realidade e sinalizar liberdade, justiça social, convivência plural, enfim, valores humanos, que, por natureza, permitem percepções de dignidade e transcendência. Especificamente, pode-se conversar com Evaldo Luís Pauly sobre consciência crítica, ou seja, sobre exercício de decodificação do atual cenário político brasileiro; com Ari Pedro Oro, sobre a escolha de Ministro para o STF, tendo como referência o Estado laico referendado pela Constituição Federal; com Antonio Carlos Ribeiro, sobre promoção e integração social; com Volney José Berkenbrock, Rodrigo Portella e Nilmar de Sousa Carvalho, sobre justiça social; com Amarildo José de Melo, sobre liberdade religiosa – sempre a partir de enquadramentos relativamente pontuais.

    Na seção Artigos Variados, a 60 anos da abertura do Concílio Vaticano II, Ney de Souza e Reuberson Rodrigues Ferreira, refazendo e interpretando os passos de Dom Henrique Golland Trindade, apresentam a recepção do Concílio na Arquidiocese de Botucatu, SP. Elismar Alves da Silva discute ética cristã e ética do bem viver, referências para se pensar em sua repercussão nas relações sociais. Martín Carbajo Núñez assinala atuais possibilidades técnicas de eliminação do outro e clama pelo banimento de armas “irracionais” e de destruição em massa. Augustin Ramazani Bishwende, situado culturalmente na África e apresentando a Igreja como família de Deus, pleiteia inclusão social, à luz de Deus. Por fim, mas não por último, Antonio José da Almeida visita os principais concílios eclesiais desde o nascimento da Igreja até o Renascimento, por si mesmos, expressão de sua natureza sinodal, conferindo presença e atuação de leigos e leigas.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Sinodalidade e Renovação Eclesial
    Vol. 82 No. 321 (2022)

    Com destaque para a Sinodalidade, a REB se coloca em sintonia com o convite do Papa Francisco: engajar-se num Sínodo para trazer à tona o próprio fundamento de Sínodo, a sinodalidade da Igreja. O convite é, na verdade, uma convocação que desencadeia uma preparação de dois anos (2021-2023). Nela, uma programação que, mediante ampla consulta e participação esperada, visa retornar às fontes da Tradição, redescobrir e retomar jovialmente o modo de ser da Igreja e, portanto, o anúncio da Boa Nova da salvação. “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão” aponta para a redescoberta de, juntos, percorrer o caminho de Jesus. Trata-se de um percurso em que, em sintonia com a tradição conciliar e sinodal reproposta pelo Concílio Vaticano II, aguça os ouvidos. Ouvir a Jesus Cristo, ouvir os irmãos de percurso, ouvir pessoas de outras sendas, ouvir a partir da comunhão que a todos aproxima e une, e, no diálogo, construir pontes e tecer diversidade. Aguça os ouvidos, desperta a inteligência e acalenta o coração, contribuindo, assim, com o evangelho da Luz do Mundo, para o bem de todo ser, de toda pessoa, de toda a humanidade.

    Estes são alguns indícios do potencial renovador que Francisco de Aquino Júnior, Mário de França Miranda e Elias Wolff explicitam neste número da REB, e que se somam às indicações oferecidas e a oferecer neste tempo de preparação do Sínodo, no acontecer sinodal propriamente dito e no depois do evento.

    Além da conversão sinodal aqui pressuposta, Agenor Brighenti e Stefano Raschietti, trazem o que o Sínodo para a Amazônia e o Espírito sugerem para o modo de ser Igreja e de apresentar a salvação de Jesus Cristo. Na mesma linha e a partir do mesmo Sínodo, Martín Carbajo Núñez acentua a conversão ecológica e o modelo de Igreja culturalmente pluriforme. E ainda, Matthias Grenzer, Paulo Freitas Barros e José Anselmo Santos Dantas, constatando a presença de pássaros e os sentidos a eles atribuídos nos salmos, apresentam elementos de ecoespiritualidade, topo da sensibilidade atual. Nilo Agostini e Francisco Deusimar Andrade Albuquerque evidenciam que a controversa encíclica Humanae Vitae também tem dimensão social e ecológica e que se situa, pois, num contexto abrangente. Por sua vez, Rogério Luiz Zanini, partindo da carta do Papa Francisco sobre o ministério de catequista, realça que a identidade dos ministérios na Igreja é o serviço aos pobres e necessitados. O nem sequer poder despedir-se dignamente dos acometidos pela Covid-19 deu oportunidade a Rodrigo Grazinoli Garrido de realçar a importância antropológica dos rituais funerários. Uma pesquisa conduzida por Aureliano Pacciolla e Vagner Sanagiotto entre padres e religiosos brasileiros sobre Síndrome de Burnout constata que eles são atingidos, sim, mas também que não poucos podem ser considerados exaustos, porém, realizados. Sinivaldo Silva Tavares, no bojo da sinodalidade, resgata o conceito de “Tradição viva” de Johann Adam Möhler, para quem criatividade e fidelidade à Tradição se conjugam.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • O anúncio de Jesus Cristo
    Vol. 81 No. 320 (2021)

    O anúncio de Jesus Cristo. Não só o enunciado por Jesus, mas, sobretudo, o anúncio da pessoa Jesus por quantos foram e são tocados por ela. Anúncio que foi e é boa notícia. Anúncio feito pelas mais diversas formas da linguagem humana, mas, sobremaneira, por aquela que se traduz pela caridade.

    Cremos não haver dúvida: situamo-nos na nascente do percurso humano e, simultaneamente, cristão. Situar-se junto a esta fonte, beber de sua casta água, dar notícia e testemunho dela significa, certamente, deparar-se com a sede e com a saciedade, com a morte e com a vida, com a condição humana e o chamado à sua transcendência. O anúncio de Jesus é o anúncio da unção, do destino feliz do percurso, da salvação.

    Este anúncio, é obvio, pode ser conjugado em vários tempos verbais. Amparados na experiência do encontro com Jesus feita pelos que com ele estiveram presencialmente e por ele foram enviados, aqui o conjugamos no tempo presente, marcado por multipluralismos. Vários autores se propuseram fazer esta conjugação. E, com certeza, podemos afirmar – sem demérito de quem que se seja –, que cada um deles só apresenta um aspecto deste anúncio. Por isso, dão conta seja da limitação humana seja da luz divina que a resgata. Agradecemos, pois, a cada um/a deles/as, e a REB convida a Você, Leitor/a, a dialogar com eles, enquanto percorrem juntos o caminho. Referimo-nos a: Elias Wolff, Dirce Gomes da Silva, Márcio Luiz Fernandes, Felipe Sérgio Koller, João Pedro da Luz Neto; Francisco Reinaldo Gonçalves Oliveira, Antonio de Lisboa Lustosa Lopes, Thales Martins dos Santos, Paulo Sérgio Carrara, Gelson Luiz Mikuszka e José Abel de Sousa.

    Além do tema da centralidade do anúncio de Jesus, o Cristo, e da atualização de suas formas, Você também pode, Leitor/a, trazer para sua consideração a interessante compreensão do modo mais comum de os seres humanos se relacionarem, hoje, trazendo para a representação uma sociedade em rede e relacioná-lo com o modo de habitar, de estar no mundo, de se relacionar, decorrente do encontro pessoal com Jesus. Dessa conjugação decorre o estilo de acolhimento samaritano, próprio dos seguidores de Jesus. Confira com Luís Miguel Figueiredo Rodrigues e Flavio José de Paula.

    Além de inspiração, planejamento e execução, todo projeto ou ação humana, individual ou colegialmente conduzido, se conduzido com razoabilidade, inclui revisão, avaliação, balanço, em vista do próprio prosseguimento dos fins a que se propõe. Francisco Taborda faz um acurado ensaio, neste sentido de avaliação, com relação aos Congressos Eucarísticos Internacionais, e com reflexos para os nacionais. Evidenciando que também esta iniciativa carrega condicionamentos históricos, propõe, para os tempos atuais, uma intensificação da iluminação decorrente do Concílio Vaticano II.

    Ele teria completado 100 anos de nascimento em 14 de setembro de 2021. Referimo-nos a Dom Paulo Evaristo Arns. Muitas iniciativas foram tomadas, tendo em vista seja o resgate seja a continuidade de sua herança. João Décio Passos apresenta, aqui, um aspecto desta herança: o aggiornamento do Vaticano II junto aos pobres e vulneráveis, particularmente na arquidiocese de São Paulo. Um testemunho a ser conferido.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Fraternidade Humana
    Vol. 81 No. 319 (2021)

    Relações humanas – assunto em destaque neste número da REB. Somos, pois, convidados a nos situar na antropologia, especificamente, no contexto existencial das relações entre as pessoas e grupos sociais. E o que leva ao destaque e a seu interesse é a atual profunda e acelerada transformação cultural protagonizada pela sociedade humana, não sem paradoxos e conflitos. Nesse efervescente caldo da convivência humana, não raro dramático, o Papa Francisco levanta a bandeira de um aporte propositivo, através da Carta Encíclica Fratelli Tutti. Em termos gerais, esse aporte se dá na e pela valorização da convivência, ou seja, da vida em sociedade. E as contribuições assinaladas neste número da REB, três delas diretamente referentes à Fratelli Tutti, realçam um (1) pressuposto e duas (2) proposições. Aquele, ancorado na dignidade humana, movimenta-se em abrangência “católica”, ou seja, humana. A dignidade do ser humano, em termos ideais, é o eixo que pode conjugar a diversidade de pessoas e culturas. E o diálogo é a primeira característica desse eixo, embora, aqui, restrito ao âmbito inter-religioso. Ele pressupõe o reconhecimento da dignidade humana. Por isso, atitude de escuta e respeito. A segunda característica do referido eixo é a predileção paterna/materna aos mais fragilizados. Aqui ela vem atribuída como realce na experiência de Francisco de Assis. Mario de Franca Miranda, Wagner Lopes Sanchez e Martin Carbajo Nuñez são os autores que nos proporcionam estes closes da Encíclica Fratelli Tutti. Luiz Henrique Brandao de Figueiredo não se refere diretamente à Encíclica, mas, percorrendo a Sagrada Escritura a partir do atual contexto relacional, apresenta o permanente conflito humano e, nele, o profético mandato cristão do amor fraterno. E, por fim, tendo como pano de fundo em retrospectiva histórica a dramática experiência da Segunda Guerra Mundial, Gilbraz de Souza Aragao e Ana Paula Cavalcante Luna de Andrade apresentam o diálogo como norte do Movimento dos Focolares. Assim, também e de modo especial hoje, tanto uns como outros, a partir da dignidade humana, entre sinais de morte, são convidados a buscar e a usufruir caminhos da vida.

    O sistema tributário brasileiro, a partir de 1Sm 8, 10-18 é denunciado por Alvori Ahlert como injusto e perverso, pois aumenta a assimetria entre a minoria rica e a ampla maioria pobre e coloca em risco o desenvolvimento sustentável. Ainda no contexto da economia relacionada à primazia do humano, Lucia Maria Barbosa de Oliveira e Maria de Fatima da Nobrega Torres, sintetizam a orientação da Igreja católica em relação ao que ela entende por liderança humanizada na gestão empresarial.

    Jose Reinaldo Felipe Martins Filho e Daniel Carvalho da Silva extraem da Ata do martírio do padre João Bosco Penido Burnier, de Pedro Casaldáliga, as características de quem, à semelhança de Jesus, consagra sua vida em prol do anúncio do Reino e da denúncia do antirreino.

    Como veículos de comunicação social não confessionais caracterizaram a presença da Igreja católica no espaço público é o que demonstram Joao Miguel Teixeira de Godoy e Araripe Valderi Perez Castilho, por ocasião da visita do Papa Francisco ao Brasil, em 2013.

    Rito: ação simbólica que organiza a experiência de sentido do homem no mundo, onde o acento cai mais na ação do que na “simbólica” da ação; é no rito que a vida se dá em sua totalidade.

    Cf. esta instigante sinalização do ser humano nas palavras de Manoel Pacheco de Freitas Neto.

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    Eloi Dionisio Piva ofm

    Redator

  • Teologia e Política
    Vol. 81 No. 318 (2021)

    Este número da REB destaca a relação entre Religião e Política. Evidentemente, uma tema-guarda-chuva, que abrigaria não poucas possibilidades de acercamento. Portanto, aqui são apresentadas apenas algumas. Contudo, importantes tanto como articulação de perspectivas teológicas, como exposição de encaixe em circunstância ou acentos culturais da atualidade. Tanto um aspecto quanto o outro, ou seja, tanto a perspectiva religiosa quanto a social, circulam nas vias ou na rede da convivência humana, da sociabilidade, do contexto das relações humanas, da representação e da revelação de Deus. Assuntos específicos e relevantes são trazidas à reflexão e à indicação de diretrizes, como: construção de consciência crítica e ameaça de colonização através de mecanismos virtuais; dignidade da pessoa humana, portadora de direitos e deveres; administração do bem comum dos seres humanos, que se transcendem a si mesmos e apontam para a economia de ser um para o outro; o diálogo e, portanto, o reconhecimento da alteridade entre os seres humanos que se contrapõe às tendências de absolutizações exclusivistas; influência de intelectuais, entre eles, os de ótica religiosa, na construção e administração do bem comum; as chances e os desafios de uma atuação colegial na Igreja, ou mesmo nas igrejas e na sociedade. São janelas aqui apresentadas e que possibilitam uma retomada ou uma introdução no viver em civilização, em sociedade, em cidade, em polis, ou seja, politicamente, com a pergunta subjacente, a partir de que pressupostos, por que e como viver politicamente? Vários autores, a quem agradecemos, são nossos estimuladores neste exercício em função de uma ideal e consciente autonomia relacional: André Luiz Boccato de Almeida, Lúcia Eliza Ferreira da Silva, Mário Roberto de M. Martins, Francisco de Aquino Júnior, Gabriele Cornelli, Alex Gonçalves Pin, José María Siciliani Barraza, Juan Pablo Guacaneme, Fred Maciel, Cristina Satiê de Oliveira Pátaro, Frank Antonio Mezzomo, Sérgio Ricardo Coutinho.

    Além destas evocações, mas não delas desconectadas, leitor/a da REB, encontra-se nesse número da REB um reforço para o resgate da eclesiologia de comunhão resgatada pelo Concílio Vaticano II, uma evocação que devemos a Claudemir Rozin, in memoriam, a quem pedimos a Deus a plena participação na grande comunhão eterna.

    Em perspectiva latino-americana, miramos para a possibilidade de convocação da VI Conferência do Episcopado Latino-americano, na esperança da reafirmação das grandes linhas da orientação eclesial e pastoral das Conferências anteriores, particularmente a de Aparecida, e da confirmação de novas urgências. Vitor Hugo Mendes nos ajuda, sem descuidar do presente, a acolher o que vem e a planejar para mais adiante.

    Agora, e como um preito de agradecimento à visão pluralista e integral de Hans Küng, Renato Kirchner e Maria Liliane Oliveira do Nascimento, resumem o itinerário e o conteúdo do Projeto de Ética Mundial, ideado pelo mesmo Hans Küng, e que continua sendo um estímulo na busca e na articulação da convivência humana a partir de fundamentos comuns.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Cristianismo e Sexualidade
    Vol. 80 No. 317 (2020)

    Cristianismo e sexualidade é destaque temático deste número da REB. Uma modesta contribuição, porque ousa aproximar-se de três universos: sexualidade humana, cristianismo, e relação entre ambos. Mesmo assim, uma contribuição para um já e sempre tão explorado assunto? Sim, e por várias razões. Entre elas: por sua centralizada antropológica – a relação de identidades pessoais que se encontram e se transcendem a si mesmas na mútua oferta e acolhida; por sua consequente conexão com experiência religiosa, ou seja, com Deus-Amor-Misericórdia; por seu caráter pessoal, único e irrepetível – portanto, um dado sempre íntimo, novo e múltiplo; pelo dinamismo histórico-hermenêutico no que tange à superação de tabus e à reafirmação da positividade seja da afetividade-sexualidade, do cristianismo e da relação humano-divina, divino-humana; pelo dinamismo de antigos e novos sujeitos sociais e, consequentemente, por sua demanda à sociedade como um todo e às igrejas, em particular, dentre elas, à Católica.

    A diversidade e a pertinência de considerações, circunstâncias e possibilidades é aqui representada por vários autores e suas respectivas proposições: Aureliano Pacciolla e Vagner Sanagiotto, a partir de uma investigação empírica sugerem caminhos para a formação afetiva à Vida Religiosa Consagrada, o que, mudadas as circunstâncias, também se poderia dizer quanto à formação humana e matrimonial; Ronaldo Zacharias, ainda no âmbito da formação à VRC, mas também da sacerdotal, traz presente a necessidade de integrar as dinâmicas e variadas possibilidades e limites do mundo virtual, o que também se pode, mutatis mutandis, referir à família; Hervé Legrand, tendo presente sintomas de pedofilia e clericalismo, advoga a necessidade de mudanças de paradigmas na formação humano-eclesial; André Luiz Boccato de Almeida, Robson Ribeiro de Oliveira Castro e Thales Martins dos Santos evidenciam a conexão entre cristianismo e sexualidade a partir do amor erótico na Amoris Laetitia, realçando a visão positiva e propositiva a respeito do corpo e da sexualidade; Maria Emilia de Oliveira Schpallir Silva, pleiteia a afirmação da identidade e autonomia da mulher, avaliando se a conceituação de gênero contribui para tal fim; Paolo Cugini analisa algumas contribuições recentes, particularmente na Evangelii Gaudium, que podem ajudar a aprofundar a relação entre pessoas homossexuais e comunidade católica; João Décio Passos e Leomar Nascimento de Jesus situam os grupos LGBT a partir das posturas pastorais do Papa Francisco e da oposição explícita que ele tem enfrentado por parte de segmentos da Igreja católica; Francisco de Assis Souza dos Santos e Elizeu de Oliveira estabelecem uma interface entre o itinerário cristão, no que diz respeito à sexualidade, e o erotismo presente na narrativa bíblica do livro do Cântico dos Cânticos, apresentado como uma referência de positividade; José de Arimathéia Cordeiro Custódio espelha o ideal de castidade, no século XI, interpretado pelo percurso biográfico do rei Eduardo, da Inglaterra, do filósofo Pedro Abelardo e do monge Santo Anselmo; Lúcio Souza Lobo e João Pedro da Luz Neto, partindo do corpo feminino como experiência pessoal cristã de Heloísa, apontam a contestação do corpo como sendo “desprezível” e devendo ser “rejeitado”.

    Na seção Temas variados, Ivone Gebara, através do estudo e da reinterpretação da experiência espiritual da Bem-aventurada Alix Le Clerc, afirma a cidadania eclesial da mulher; por sua vez, Matthias Grenzer e Marivan Soares Ramos acercam-se da presença da água nas evocações dos salmos e descobrem elementos de ecoespiritualidade no antigo Israel que enriquecem as atuais perspectivas ecológicas e motivam comportamentos condizentes.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Sínodo pan-amazônico: Perspectivas pós-sinodais
    Vol. 80 No. 316 (2020)

    A pandemia provocada pelo coronavírus mobiliza, no momento, grande parte da atenção humana. Na Igreja católica não é diferente. Por sua vez, a Amazônia e a REB, sensibilizadas pela pandemia, se encontram, nesse número, às portas do saguão pós-sinodal. Abertas as portas, apresenta-se o cenário amazônico que interpela a Igreja naquela latitude com relação a seu testemunho evangelizador. Em primeiro plano, os que só podem contar com parcos recursos para o enfrentamento da crise. Eles não são os únicos personagens do vasto cenário físico-social que se descortina. São, contudo, os que mais sensibilizam. Por seu turno, os que retornaram ao saguão amazônico, agora impulsionados pela maior visibilidade obtida e pelo acréscimo no grau de consciência seja da própria missão seja do modo específico de atuação, na linguagem do Papa Francisco, revestem suas mentes, palavras e ações com a linguagem do sonho, ou seja, do grande horizonte do desejo que desencadeia diretrizes, metas e estratégias. Sim, eles chegam do evento sinodal. Este, com o documento que deixou como suges- tão ao Papa, é rampa de lançamento. Dessa rampa, no limiar do primeiro ano, todos foram agraciados com a Exortação Apostólica Querida Amazônia e, há poucos dias, com a instauração da Conferência Eclesial da Amazônia. São decolagens que traduzem a acolhida do novo, simbolizado pela vídeo-conferência, e materializam o propósito Eclesial, ou seja, a incorporação da sinodalidade, da efetiva participação dos povos nativos e da mulher, especificamente. Mobilizados pelo seguimento de Jesus, consa- gram-se à defesa e ao cuidado da vida das pessoas, tão desasistidas, e da Mãe-Terra, tão “enfeitada” quando ameaçada.

    A REB agradece a possibilidade de partilhar considerações que apontam avanços e desafios sinodais, na atenta escuta seja das condições humanas e materiais do testemunho da fé na vasta e diversificada Amazônia, seja, na Igreja como um todo. Avivar perspectivas, neste número, é com José Rinaldo Felipe Martins Filho, Sinivaldo Silva Tavares, Carlos Alberto Sell e Agenor Briguenti, na seção do dossiê.

    Explicitam outrossim a diversidade humana e eclesial, Argemiro Procópio, ao assinalar conflito e colaboração internacional, manifestados pela atual pandemia, com reflexos na Amazônia; Wagner Lopes Sanchez e Glair Alonso Arruda, ao delinear as justificativas idealizadas para firmar o atual projeto de Brasil e sua governabilidade; Marcial Maçaneiro e Miguel Rigoni, ao apontar a luz do Espírito Santo que motiva a diaconia de quem se dispõe a servir; Junior Vasconcelos do Amaral, ao assinalar que o evangelista Lucas apresenta a ação de Jesus como sendo a de quem vai da misericórdia à misericórdia/justiça; Jerônimo Pereira Silva, ao traçar o caminho de quem se achega ao altar de Deus para agradecer e alimentar seu permanente “sim” ao envio, em Jesus, no Espírito; Welder Lancieri Marchini e Renan Silva Carletti, ao traduzir a noção de corpo do filósofo contemporâneo Hyung-Chul-Han; Nadir Antonio Pichler e Talia Castilhos de Oliveira, ao articular o inato desejo de felicidade com o vislumbre de vida contemplativa de são Tomás de Aquino.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Evangelização e Mídias
    Vol. 80 No. 315 (2020)

    O rápido e vertiginoso desenvolvimento de tecnologias de comunicação e seu progressivo acesso despontam como um dos ícones da atualidade. Se, por um lado, esse ícone ergue um pedestal ao empoderamento humano, por outro, um minúsculo vírus se encarrega de derrubá-lo, ignorando qualquer fronteira! Mas, evidentemente, a pandemia também oferece oportunidade de as pessoas se aproximarem ainda mais do mundo virtual. Este, não se apresenta somente como possibilidade de entretenimento e lazer, mas também de compartilhamento de saberes e de busca coletiva e rápida de novos caminhos. Possibilita ao ser humano, em rede, adquirir novo modo de ser, de se entender, e, portanto, de se representar e comunicar, transitando entre arrogância e sabedoria.

    Também os discípulos de Jesus Cristo, em sua missão de evangelizar, ressignificam suas formas de autoentendimento, de representação e de atuação. A razoabilidade da fé também é reconfigurada e assim pode ser manifestada. Igualmente para os evangelizadores, o dinamismo da mudança cultural, além de ser uma chance, é também um desafio, dada sua velocidade e intensidade.

    O intento das contribuições do dossiê deste número da REB tem por objetivo fortalecer a consciência da evolução em curso e encorajar a reflexão teológica, a fim de que cultura midiática, verdade do ser humano e anúncio da Boa Nova se correspondam.

    André Luiz Boccato de Almeida e Lúcia Eliza Ferreira da Silva, relacionando evangelização e mídias atuais, particularmente entre os jovens, articulam o ambiente digital e seus desafios com propostas de caráter ético-teológico na formação da consciência. Luís Miguel Figueiredo Rodrigues analisa possibilidades de as mídias, a serviço da evangelização, mediarem experiência religiosa. Marcelo Tadvald, destacando a atuação da Igreja Universal do Reino de Deus, sem juízo de valor, ressalta a importância do uso dos modernos meios de comunicação social. Allan Macedo de Novaes e Carlos Augusto Souza Magalhães, focando seguidores da Igreja Adventista de Sétimo Dia, sinalizam tensões entre tradição e mudança, em setores da própria Igreja, na produção e veiculação de material ficcional nas redes sociais. Sinivaldo Silva Tavares contribui para o discernimento de desafios e chances na transmissão da fé pela cultura midiática atual. Martín Carbajo Núñez reforça a constatação de que, nas redes sociais, testemunha-se a inter-relação de todos os seres, potenciada pelo diálogo e pela comunicação.

    Ademais, Alzirinha Rocha Souza traz novos elementos para caracterizar o catolicismo popular brasileiro; Sávio Carlos Desan Scopinho, em texto póstumo, na linguagem da década de 1990, recoloca, particularmente para setores da classe média, a perspectiva da opção preferencial pelos pobres; Antonio Alves de Melo recoloca a misteriosa possibilidade da recusa do evangelho da salvação por parte do ser humano, em sua atuação cotidiana.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Evolução/Tradição
    Vol. 79 No. 314 (2019)

    O final e o início de ano litúrgico e/ou civil sugerem movimento. Movimento que projeta o amanhã e herda o ontem. Movimento que, seduzido pelo rumo, permite que se detecte o sentido. Movimento, proposição de desprendimento e de conservação do que se entende como chão vital. Movimento, cronos e kairós, opacidade e brilho. Movimento que não é, não foi e nem será novidade; sem deixar de sê-lo, no entanto. Movimento que articula evolução e tradição, vida e morte. Que abraça opostos e que, no entanto, provoca “curtos”! Por isso, digno de atenção teológica e sociológica, entre outras. Alguns autores aqui presentes assinalam e ressaltam o aludido dinamismo na atual conjuntura eclesial e social, envolvendo lideranças e a todos. Conforme as variantes, sempre variáveis, são-lhe atribuídas características, às vezes com implícito juízo de valor, como: modernismo, reacionarismo, inovação, conservacionismo, ousadia, medo, desapego, apego, pluralismo, monismo, evolução, estagnação, entre outras. Articulando estes e outros matizes, pode-se tecer uma conjuntura, ou seja, um entrelaçamento, que se revela harmonioso ou tenso, tanto no âmbito da sociedade global, como numa sociedade particular; tanto no inter-religioso, como no interno de uma igreja, como a Católica. E, principalmente, pode-se perguntar, com relação ao hoje: o que está em jogo? Ou seja, de onde se parte? O que é defendido e por que? O que se combate e por que se combate? Quais os interesses em jogo? O que se quer ganhar, ou até impor, e o que não se quer perder? Por que? Por esses e outros caminhos ou indicações, autores deste número incentivam o percurso de caminhos sócio-religiosos, teológicos e/ou espirituais, entre outros. E, no percurso, suscitam reflexão. Pode-se conferir com João Décio Passos, Emerson José Sena da Silveira, Rodrigo Coppe Caldeira e Victor Gama, na seção “dossiê”, dedicada à interação “evolução/tradição”.

    A este vivaz e, por vezes, contrastante panorama sócio-eclesial, seguem assuntos igualmente importantes, como: um relato do evento e dos resultados do Sínodo Pan-amazônico, por Agenor Brighenti; a caracterização/distinção/apresentação de três paradigmas no decurso do Ensino Social da Igreja, com destaque para o atual, o do Papa Francisco, por Paulo Fernando Carneiro de Andrade; a controvérsia em torno dos “sem religião” no Brasil – se seriam tais ou se, antes, seriam uma expressão de pluralismo religioso, por José Reinaldo Felipe Martins Filho; a representação que José Comblin e Hugo Assmann se fizeram ao falar e escrever a respeito da missão dos leigos na Igreja católica e na sociedade, por Sávio Carlos Desan Scopinho (cuja “páscoa” foi tão rápida e inesperada!); a articulação e atuação dos bispos brasileiros na Terceira Conferência do Episcopado Latino-americano, em Puebla, um resgate após 40 anos daquela Assembleia, por Reuberson Ferreira e Ney de Souza.

    Preciosos subsídios para o discernimento e, portanto, para a atuação evangelizadora. Por isso, agradecimento aos autores e votos de bons frutos a Você, caro/a leitor/a.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Sujeitos eclesiais e paróquia
    Vol. 79 No. 313 (2019)

    A REB tem o prazer de apresentar, nesse número, um variado leque de assuntos. Dois deles são realçados: Paróquia e Sínodo Pan-amazônico. Mesmo assim, não de uma maneira sistemática, programada, razoavelmente ampla e diversificada. Permanece o caráter parcial, mesmo se o primeiro vem ainda destacado como um dossiê.

    O assunto “paróquia” não aparece prevalentemente como estrutura. Vem tratado, sim, a partir de elementos de eclesiologia e pastoral e de sociologia. Com relação aos dois primeiros, a paróquia é tida como “lugar” eclesial da iniciação cristã e como comunidade de sujeitos eclesiais. Portanto, local de encontro em função de Jesus Cristo (cristã) e da missão. João Fernandes Reinert percorre as recentes orientações da CNBB, reúne e destaca estes traços, característicos de uma comunidade viva e dinâmica. Por sua vez, Gelson Luiz Mikuzska também trabalha elementos de eclesiologia ao entender a comunidade-paróquia como célula da Igreja em missão. Ele organiza sua exposição a partir do discipulado missionário: o cristão, discípulo de Jesus, é um enviado a evangelizar. E, qual a repercussão dessa dinâmica para a paróquia, pergunta-se. O segundo elemento, abordado por Welder Lancieri Marchini, situa a paróquia no contexto da mentalidade urbana, circunstância favorável ao incentivo do ser sujeito da missão, em contextos urbanos.

    O segundo assunto em realce é o Sínodo Pan-amazônico. Ele vem considerado enquanto ocasião para se prosseguir e ajustar a ação evangelizadora da Igreja, particularmente naquele contexto sócioambiental. Para isso, reforça-se, em contexto latino-americano, a ministerialidade de toda a Igreja, abordam-se os ministérios, em sua configuração atual e se fazem propostas para agilizar a missão. Hubert Wolf, José Oscar Boezzo, Eliseu Wisniewski e Antônio José de Almeida, de maneira própria e diversificada, abordam esta temática, indicando novos e velhos caminhos.

    Além disso, uma fronteira de notáveis possibilidades e debates nos é apresentada por Neiva Maria Garcia Catto De Marchi e Márcio Fabri dos Anjos: a fronteira (com seus contrastes) da relação entre ética, biologia, medicina e desejo. Lida-se com as pessoas, que, buscando a superação dos males, desejam vida plena.

    Karen Freme Duarte Sturzenegger, Vera Fátima Dullius e Clélia Peretti conduzem uma interlocução dos leitores com mestres em pensar o ser humano, ser que pergunta e se pergunta. Um percurso por caminhos do humano, por caminhos da liberdade e do sentido!

    Por semelhantes caminhos rumam os Centros de ensino superior católico. Como o Magistério eclesiástico tem acompanhado, recolhido e proposto razões de ser do ensino superior católico, qual sua contribuição para o bem da sociedade e/ou das pessoas? João Décio Passos se apresenta para responder.

    E, após quase 120 anos, a Rerum Novarum brilha como uma referência, apesar das mudanças ocorridas e em curso nas relações humanas de trabalho. Pois, também nela se abordam aspectos do ser humano que, de certa forma, fazem parte de sua constituição. Vale a pena conferir com Francisco de Aquino Júnior.

    Por fim, o renovado convite: cadastre-se – <http://reb.itf.edu.br> – e usufrua das coordenadas editoriais e técnicas da REB.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Sacramentos e Antropologia
    Vol. 79 No. 312 (2019)

    Em destaque, a relação entre sacramentos e antropologia. Assunto amplo. A REB só apresenta alguns aspectos. Mas, acredita: é o suficiente para assinalar o atual interesse pelo assunto. Ao que parece, esse interesse é despertado no atual contexto cultural em que boa parte das pessoas fazem questão de fazer opções pessoais e conscientes, e que, portanto, carregam o desejo de perceber correspondência entre dimensão humana e kerigma cristão/católico. Em muitos casos, trata-se, certamente, de descoberta; em outros, de refundação da fé; à graça de Deus, acorre-se com a contribuição humana.

    Assim, Welder Lancieri Marchini e Volney José Berkenbrock, e Luiz Carlos Susin, ao tratar da relação entre ritos de passagem e sacramentos, articulam aproximações e distanciamentos entre um e outro campo, realçando, contudo, a importância do aporte antropológico. No pano de fundo, sobretudo os sacramentos da iniciação cristão.

    Jerônimo Pereira situa-se no evento central do cristianismo, particularmente na celebração católica da vigília pascal. Especificamente ainda, no Exultet, ou seja, na solene conclamação ao louvor, no total e expressivo envolvimento do povo de Deus. O motivo da exultação coletiva é a salvação vislumbrada na ressurreição de Jesus. Júbilo estreitamente relacionado à Eucaristia, ou seja, à ação de graças.

    Paulo Sérgio Nodari e Cristian Fabiani exploram o conceito de pessoa humana em Romano Guardini. O intuito é o de apresentar um panorama tão abrangente do ser humano que sirva de contraponto a abordagens atuais e, com isso, se constitua numa contribuição ao atual debate.

    Em seguida, mais sugestões: Antonio José de Almeida e Marcos Roberto Almeida dos Santos, em vista do Sínodo Panamazônico, resgatam a história dos ministérios ordenados no Brasil e contrapõem ministros ordenados próprios com rosto amazônico.

    Roberto Nentwig, no quadro da atual mudança de época, apresenta alternativas para a formação de ministros ordenados na Igreja, particularmente a partir de vocações de pessoas adultas.

    Por sua vez, Elismar Alves dos Santos retoma o assunto da afetividade. Por um lado, resgata as orientações do Magistério eclesiástico sobre o assunto e, por outro, apresenta a experiência e o parecer dos padres que se dispuseram a uma pesquisa sobre o assunto.

    As circunstâncias, a motivação e os agentes do assassinato do Pe. Antônio Henrique Pereira Neto, há 50 anos, são apresentados por José Ernanne Pinheiro, no intuito do “nunca mais”.

    Por fim, Denise Machado Cardoso e Leonne Bruno Domingues Alves trazem o resultado de uma pesquisa sobre batismo vicário e genealogia mórmon.

    Renovação de convite: cadastre-se – <http://reb.itf.edu.br> – e usufrua das novas coordenadas editoriais e técnicas da REB.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Religião e Juventude
    Vol. 78 No. 311 (2018)

    Há pouco (outubro/2018) aconteceu o Sínodo sobre a Juventude. Passado o evento, perdura a mensagem. Sempre presentes, jovens impulsionam relações humanas. Certamente encarregam-se de retransmitir elementos de tradição como aportarão novidades. O brilho do espírito jovial, provavelmente, sempre iluminará, provindo de todas as categorias humanas, mesmo se entre sombras. Estar com jovens, contar com eles, partilhar espírito jovial é desejo coletivo e faz parte do bem-estar social e espiritual. Evidentemente, além de celebrativo, o Sínodo, espelho do cotidiano, buscou diálogo, escuta, reconhecimento, acolhida, discernimento, compreensão de si mesmo e dos outros.

    A proposta da REB – Religiao e Juventude – obteve algumas valiosas contribuições. Jorge Claudio Ribeiro apresenta o resultado de uma longa pesquisa entre estudantes da PUC-SP. Trazendo valores e significados da religiosidade dos jovens pesquisados, a pesquisa “mapear o solo vital de onde brotam suas convicções”. Martin Carbajo Nunez caracteriza a juventude hiperconectada e hiperacelerada de hoje; nesse torvelinho frenético, propõe a necessidade de buscar critérios de discernimento ético. Ele exercita esta busca de luzes do ponto de vista franciscano. Rodolfo Gaede Neto e Joao Henrique Stumpf analisam o fenômeno do suicídio entre os jovens. A crise, embora não seja exclusiva de nossos dias, apresenta-se visível e interpela a todos no sentido de empreender caminhos de desenvolvimento integral. Por sua vez, Paulo Fernando Dalla-Dea aborda o espinhoso e preocupante fenômeno da violência em nossos dias. Ele focaliza a violência sofrida pelos jovens, conclamando respeito em relação a eles, e propondo que também os jovens e as pessoas de todas as idades ultrapassem barreiras de individualismo, fundamentalismo e desesperança e celebrem caminhos de integração sócio-espiritual.

    É possível, é sempre desejável e louvável manifestar a força proativa da vida, o brilho da liberdade, ou seja, o mistério de Deus, mesmo em condições as mais adversas. É o que Faustino Teixeira apresenta, a partir, principalmente, do diário e das cartas da jovem mística e mártir Etty Hillesum. Um itinerário espiritual inspirador!

    Francisco Taborda revisita o histórico dos ministérios ordenados da Igreja católica, buscando sua fundamentação teológica. Conhecer a fundo possibilita liberdade criativa e inovadora no testemunho de serviço em prol do Reino de Deus.

    Ocasiões e modalidades em que esse testemunho vem à tona são sinalizadas pelo protagonismo de inúmeras pessoas; Jose Reinaldo Felipe Martins Filho indica o diversificado âmbito do catolicismo popular como palco de sua atuação.

    Por isso e além disso, a reflexão teológica, além de relacionar fé e culturas com o “reverso” da história, é convidada e desafiada, nos dias de hoje, a levar em conta a pluralidade cultural como perspectiva e método de sua atividade. É o que propõe Sinivaldo S. Tavares.

    Joao Decio Passos indica os principais traços da renovação eclesial ocorrida na América Latina nos últimos 50 anos, advoga a necessidade de a reforma atingir as estruturas eclesiais e, para que ela provenha do mistério da Igreja, defende a fidelidade ao carisma renovador da Igreja dos pobres.

    Um exemplo de esforço de discernimento e proposição da espiritualidade e da prática da Igreja dos pobres é fornecido pelo estudo de Egberto Pereira dos Reis e Jose Carlos Rothen.

    Que tudo sirva para o seguimento de Jesus Cristo. Cadastre-se – <reb.itf.edu.br> – e usufrua das possibilidades do on-line.

    Eloi Dionisio Piva ofm

    Redator

  • Religião, Igreja e Política
    Vol. 78 No. 310 (2018)

    Sugerimos destaque para a relação Religião-Igreja-Política. O resultado está no Dossiê desse número. Situamo-nos, pois, na relacionalidade do ser humano, implicando a dimensão religiosa e a Igreja católica. O que geralmente entendemos por “Religião”, “Igreja”, “Política” traz em si a marca da relação. Trata-se da convivência humana, convidada a incorporar sua própria transcendência nas relações interpessoais, no interno do eventual segmento afim, a respectiva igreja, em nosso caso, a católica, e no segmento civil, em nosso caso, o Brasil. Os autores que nos ajudam a pensar a relação proposta apresentam-nos alguns aspectos e situações que entendemos serem interessantes. Francisco Borba Ribeiro Neto inscreve a Igreja católica (podemos entender, imagino, os católicos) no contexto da atual polarização ideológica brasileira. Ele realça a importância da Igreja católica, no caso, como instância de promoção de diálogo e, portanto, de convivência social. Clélia Peretti e Karem Freme Duarte Sturzenegger “fotografam” a trajetória da inserção feminina nas mais expressivas manifestações do agir político brasileiro, a partir da Primeira República. Destacam o papel da Igreja católica no esforço de inclusão feminina. O caminho ainda pode e deve, porém, ser alargado, concluem. Rogério Luiz de Souza, aponta que a estrutura paroquial serviu de ponto de partida para a organização civil republicana do Brasil. Áurea Marin Burocchi e Diego de Lima Dias focalizam o Amor (Espírito Santo) como fonte da articulação de relações humanas acolhedoras e vitalizadoras. Finalmente, Luiz Alexandre Solano Rossi e Nelber Rodrigues evocam a referência de Jesus: reconhecimento e reverência, acolhida e prestação de serviço, generosidade e plena doação de si.

    Entre os Temas Variados deste número, em primeiro lugar, o laicato. Três enfoques. O primeiro, contrasta certa onda clericalizante e se apresenta como fruto do Ano do Laicato há pouco encerrado, Agenor Brighenti discorre sobre a situação atual dos leigos, na Igreja católica, e sua missão na mesma Igreja e no mundo. O segundo, proposto por Marcelo Barros, parte da eclesiologia de comunidade local para apontar a imediatez da presença e atuação de todos os batizados na missão de testemunhar o amor do Pai. O terceiro aponta para o passado recente do laicato no Brasil: o despertar nos anos de 1920 e a articulação em torno e a partir do Centro Dom Vital. João Miguel Teixeira de Godoy e Bruna Aparecida Miguel trazem este testemunho.

    Fabiano Verlig visita a crítica à religião por parte dos mais conhecidos filósofos e cientistas sociais do século XIX. Eles contribuem para que a relação que se vislumbra a respeito de Deus não se fixe nela mesma e não deixe de ser ponte, tendo em Jesus Cristo sua expressão humana e divina. E, finalmente, Rita de Cássia Rosada Lemos, em amplo panorama, escreve sobre a Vida, pessoal e humana, enquanto pergunta, busca e realização de sentido.

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    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Medellín: 50 anos
    Vol. 78 No. 309 (2018)

    Apresentação

    Medellín: evento eclesial latino-americano – 50 anos! Gratos e esperançosos acolhemos esta oportunidade com ciência e fé, razão e coração. Com efeito, é grato constatar que a Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano deslanchou um processo de irreversível e promissora mudança na representação mental da Igreja e de sua missão no Continente latino-americano. Inspirados no Concílio Ecumênico Vaticano II, os representantes e protagonistas da Igreja católica nesse Continente consideraram, então, por um lado, a Boa Nova de Jesus Cristo testemunhada nas fontes cristãs e, por outro, a mesma Boa Nova a ser testemunhada no hoje das pessoas, das culturas e da tradição latino-americana. Temos convicção de que a consideração deles, iluminada pela fé e pela razão, foi regada pelo amor a Deus e ao ser humano desse recorte geográfico, cultural e religioso, particularmente o católico, denominado América, latina e caribenha. Ademais, nossa consideração, a 50 anos do evento, permite-nos perceber que ele expressa, ao mesmo tempo, comunhão eclesial e consciência de autonomia, de pluralidade humana e cristã. A proximidade geográfica e cultural e a mesma fé oferecem traços de comunhão identitária; a pluralidade de latitudes, culturas e credos assinala a diversidade que enriquece. Mas, constatar tanto nas semelhanças como nas diferenças as gritantes injustiças, causa de muita lágrima, sofrimento e morte, realça a urgência da Boa Nova, da proclamação profética, do grito por libertação e salvação. O evento Medellín captou a urgência dessa esperança e conclamou à conversão de corações, mentes e estruturas eclesiais e sociais, mesmo tendo presente a inerente dimensão escatológica da evangelização.

    Medellín foi e é uma forte luz que brilhou e que brilha, voltada para o presente e o futuro. Medellín é um testemunho de fé, uma prova de amor, uma palavra profética, um discernimento, um modo de ver, de jugar, de agir e de avaliar. É inspiração. Desencadeia um novo processo de evangelização, dinâmico, controverso às vezes, mas irreversível e que ultrapassa a circunscrição eclesial católica.

    Por isso, revisitar o evento é, sobretudo, agradecer e deixar-se provocar pela mesma fé e pelo mesmo amor a Jesus Cristo e ao ser humano situado nos micro-contextos pessoais e estruturais latino-americanos ali manifestados; ser tocado e movido, principalmente, em favor dos injustiçados e excluídos, no espírito do Pacto das Catacumbas e de Igreja samaritana.

    A REB acolhe, pois, os esforços da Comissão Teológica Latino-americana da EATWOT na organização do mutirão (minga) de revistas em torno de Medellín-50 anos, coordenado por José María Vigil, e deseja contribuir com esta iniciativa.

    Além de Medellín-50 anos, este número traz importantes aportes teológicos sobre organizações e lutas populares, através de Francisco de Aquino Júnior e sobre a Igreja católica em Portugal – uma análise, através de José Pereira Coutinho.

    Por fim, um convite: cadastre-se – <http://reb.itf.edu.br> – e usufrua das novas coordenadas editoriais e técnicas da REB.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Religião e Violência
    Vol. 77 No. 308 (2017)

    Anunciamos o Evangelho de Jesus Cristo, o Evangelho da proximidade do Reino de Deus, o Evangelho da Vida e da Paz. Entendemos que esse anúncio é missão humana e cristã. Entendemos também que ele é colocado à prova. Pois, o contexto do testemunho e do anúncio, nem sempre é favorável; antes, é também endemicamente adverso. Com efeito, a violência que se apresenta através das mais diversas faces, é endêmica à condição humana, a toda criação e ao universo. Ademais, um pertinente alerta é dado pela pergunta e constatação: a própria religião, entendida em sentido amplo, não seria violenta?! Todavia, é nesse contexto também adverso que se proclama que a Vida vence a Morte, embora igualmente se exorte: creia nessa boa-nova!

    Nesse número, a REB apresenta a contribuição de vários autores à reflexão em torno da violência, em torno da relação entre religião e violência. Uma reflexão que se pergunta pelas causas da violência e se coloca na escuta e na busca de perspectivas que a transcendam, de perspectivas que apontem para o testemunho da não violência, para a plenitude da Paz e do Bem.

    Antonio Henrique Campolina Martins concentra-se no rosto litúrgico não violento de Edith Stein. Através da perspicaz percepção intelectual dessa filósofa judia e cristã e de seu testemunho de vida, vítima da violência, o Autor aponta para o itinerário do Cordeiro imolado, Jesus, testemunha de retidão, de força não violenta, e vítima da violência, mas que ressurge, não vingativo, e sim, trazendo a alegria de sua presença de ressuscitado e portador da Paz.

    Luiz Alexandre Solano Rossi, selecionando um recorte bíblico, demonstra a presença da violência quer provinda dos assírios, quer da própria sociedade do Povo Eleito. E, ao indicar agentes e vítimas da violência, ressalta o conclamação dos profetas bíblicos em prol da superação dos sinais de discriminação, de exploração e de morte, através do empenho em prol da justiça e da paz.

    Konrad Körner pergunta-se pelas causas da violência, particularmente da violência causada pela religião. Uma das causas que torna a religião violenta, segundo ele, é o narcisismo. O contraponto é dado pela Eucaristia de Jesus Cristo, dos participantes da ação de Jesus nas Comunidades de fé que se reúnem para celebrar Sua caridade.

    Elismar Alves dos Santos, por sua vez, coloca na dimensão psíquica do fundamentalismo religioso um dos condicionamentos geradores de discriminação e de violência. Seria, pois, necessário dar condições e/ou tratar com sabedoria a construção da personalidade e cada ser humano.

    Pedro Rubens, por ocasião dos 50 anos da Renovação Carismática Católica, referindo-a ao Concílio Vaticano II, apresenta uma avaliação de sua caminhada como movimento pós-conciliar e aponta algumas perspectivas para a fidelidade à inspiração conciliar.

    Por fim, a esses autores somam-se vários outros; através de sua contribuição, seja na demonstração da violência seja na indicação de caminhos de luz, cada um deles e a seu modo sinaliza para a Paz que somente Deus, particularmente, aqui, o Deus de Jesus Cristo, com Cristo, por Cristo e em Cristo, pode dar.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Discernimento da Consciência
    Vol. 77 No. 307 (2017)

    Em destaque neste número, a misericórdia, característica do Deus de Jesus, o Cristo. Ela se manifesta em Maria, a mãe do Senhor, como dom do próprio de Deus, acolhida e anunciada por ela, como dom para seu povo, a quem cabe a acolhida criativa. Além de evocar esta “janela”, o presente número considera a misericórdia na esteira do Papa Francisco, particularmente a partir da Encíclica Amoris Laetitia. Relaciona-a, pontualmente, com a pastoral familiar. Realça-se aqui a confluência da graça de Deus e da dinâmica humana, acolhedora da graça. Esta dinâmica é evocada através do papel exercido pelo discernimento da consciência. Nisso evidencia-se a autonomia e a responsabilidade humanas. “Todo cristão é chamado a ser um protagonista crítico do caminho iniciado pelo Espírito Santo no coração humano”, afirma André Luiz Boccato de Almeida, articulando a lógica da misericórdia pastoral. Como a Igreja, em suas diversas instâncias, exercita o discernimento responsável em relação à misericórdia de Deus na pastoral familiar?

    A conjugalidade é, por sua vez, evidenciada como característica do amor esponsal na mesma Encíclica Amoris Laetitia. Pela conjugalidade se entende a íntima relação do casal, construída tanto na acolhida do que se pode convencionar de um sentimento e de uma vontade livre, que, para os casais cristãos, se inspira em Deus, na ação de Jesus Cristo.  Conjugalidade, um eu que se dirige a um tu e, acolhido, na circularidade, forma e se torna um nós! Critério de pertença à Igreja de Jesus Cristo e acolhida por ela? Mário Antonio Sanches e Luiz Fernando de Lima tratam desse assunto.

    Maria Emilia de Oliveira Schapallir Silva, Márcio Fabri dos Anjos e Alfredo Antonio Fernandes abordam o tema da reprodução humana do pondo de vista bioético. O horizonte desejável é o de entender e conduzir existencialmente a autonomia e a relacionalidade de toda pessoa. Uma pessoa autônoma, no sentido de autossuficiência, carece de sentido; mas, sentido há quando da inclusão de outra autonomia, estabelecendo-se uma correlação, que chega a ser uma mútua pertença, portanto, uma partilha as decisões, como a respeito da reprodução.

    As considerações até aqui articuladas dão-se, de alguma forma, no âmbito de uma compreensão humano-eclesial. Mas, sempre se pode perguntar pelo que se entende por um determinado assunto. Aqui, a pergunta pode ser dirigida à noção de Igreja. Pergunta-se pela compreensão de Igreja (católica) do Vaticano II. Pergunta-se, mais: como chegaram os Padres conciliares a colocarem-se de acordo em torno da noção de Igreja, mesmo que esta se apresentava com uma longa tradição. Para isso, Antonio Luiz Catelan Ferreira apresenta Yves Congar como um dos articuladores da eclesiologia do Vaticano II. O A. parte de dois escritos de Congar anteriores ao Concílio, para apresentar a noção de Igreja-comunhão. E esta comunhão “é caracterizada como comunhão com Deus e dos homens entre si, em Cristo. Sua fonte é o amor, bem divino, infuso, segundo o qual a Igreja é communio caritatis”. Estamos diante de uma gênese.

    Por fim, o exercício de Mário de França Miranda para discernir os caminhos da identidade da Teologia em relação à racionalidade moderna e às ciências da religião. A fé é razoável? A razoabilidade pertence à fé? Como a fé se traduz em expressões humanas?

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Corpo e Religião
    Vol. 77 No. 306 (2017)

    Apresentação

    Corpo e Religião. Este é o tema-guarda-chuva deste número da REB. Evidentemente, uma temática ampla e multifacetária. Temos corpo; somos corpo. Corpo físico, corpo objeto; corpo, meio de relações, corpo-relação, corpo “humano”, ou seja, portador e aberto a um mistério que o transcende. A proposta da relação corpo-religião é um recorte seletivo. Mesmo assim, não está na intenção da Redação oferecer uma abordagem sistemática, abrangente, sintética. Nem mesmo se ater à relação corpo-religião, pois acolhe contribuições que não se encaixam bem nesse eixo. Mesmo assim, imaginamos que o assunto seja de interesse, como o demonstra o atual cuidado que se tem pelo corpo, cuidado que, além de dimensões estéticas e sociais, remete a dimensões a que se alude, quando se relaciona corpo e religião. Apontar aspectos que ressaltem a beleza e a implicação do cuidado com o corpo e seu destino perfaz a intenção dos autores que recheiam este número da REB.

    Ari Pedro Oro e Marcelo Tadvald observam como o corpo é agenciado em três expressões religiosas em nosso país: o evangelismo enquanto manifestado pela Igreja Universal do Reino de Deus, o espiritismo kardecista e as religiões de matriz africana. São multifacetárias as manifestações corporais, o que aponta para diferentes universos de entendimento do corpo e de sua relação religiosa e dá a entender que a diversidade não é exclusiva destas três expressões religiosas, mas abrande a todas. Portanto, sugere-se que não há uma única manifestação corporal do sagrado nem uma que seja proeminente.

    Paulo Franco Taitson e Jean Richard Lopes apresentam a fragilidade corporal, patente em ambientes hospitalares, onde também se manifesta a corporeidade, ou seja, o conjunto de relações implicadas quando está em causa a integridade e a sobrevivência física. Nesse contexto, ressaltam a importância do que denominam “diaconia da caridade ao corpo”, oferecida pela pastoral hospitalar.

    Leo Pessini relaciona pós-humanismo do século XXI com bioética. Estaríamos diante de um novo ser humano, pergunta? Para ele, é preciso equilibrar razão instrumental e razão cordial, no trato do corpo. Este equilíbrio se resumiria idealmente no cuidado, pois tudo quanto cuidamos amamos, e tudo quanto amamos cuidamos. E a atitude amorosa articula o humano do ser humano.

    Eduardo Hoornaert resgata a positividade da teologia do corpo em Orígenes. Orígenes é porta-voz da antropologia semita, diferente da antropologia platônica, de origem grega, que fez história na teologia e na pastoral do Ocidente. Orígenes propala, pois, a positividade do corpo e da sexualidade humana.

    Elismar Alves dos Santos e Pedrinho Arcides Guareschi, por sua vez, relacionam, numa pesquisa de campo, representações sociais da homossexualidade com o ensinamento do Magistério eclesiástico sobre o assunto. Advogam a necessidade de investimento no diálogo sobre a homossexualidade nos seminários.

    Rogério Luiz de Souza aborda representações do corpo, não estritamente na relação com a religião, mas na relação com ideais de eugenia e miscigenação, num determinado período, local e circunstância história no Brasil.

    Enfim, Cleto Caliman e Renato Alves de Oliveira, estudando do capítulo VII da Lumen Gentium, articulam a índole escatológica da Igreja. Poderia-se aplicar esta dimensão também ao ser humano em geral, envolvendo sua existência física, corporal, histórica.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Reforma - 500 anos
    Vol. 77 No. 305 (2017)

    Apresentação

    Ano de 2017 – 500 anos da Reforma desencadeada por Martinho Lutero e pela reação de diversos atores que se moveram, todos eles, no contexto sócio-eclesial de seu tempo. Para dar realce a esse marco do Movimento reformador cujos desdobramentos marcaram e marcam social e eclesialmente de modo particular a civilização ocidental, acolhemos a sugestão da Comissão Teológica Latino-americana da ASETT/EATWOT, que propôs um mutirão de revistas latino-americanas para replicar, a nosso critério, matéria relativa à temática da referida Reforma.

    Assim, a REB realça o tema e o apresenta de acordo com os colaboradores constantes desse número. Não se trata de uma cobertura sistemática e de largo alcance. É um realce. Um realce que, porém, não significa desconsideração ao tema. Um realce que aponta, sim, seja para o conceito filosófico-teológico de Reforma, seja para o horizonte ecumênico e inter-religioso, seja ainda para a emergência do pluralismo cultural e religioso que o desenvolvimento sociocultural evidenciou. Situando-se neste patamar, não se fixa, portanto, no evento da Reforma luterana propriamente dito nem em seus desdobramentos imediatos, mas procura, por um lado, sondar a contribuição que esse movimento de reforma traz ou poderia trazer para o cristianismo e, por outro, conjugar diretrizes da tradição religiosa cristã com elementos que advém da evolução sociocultural. Assim:

    Cláudio de Oliveira Ribeiro, a partir de reflexão em torno das perspectivas teológicas e pastorais da Reforma luterana, apresenta desafios e possibilidades de reforma para os dias de hoje, principalmente em relação ao pluralismo religioso e à sexualidade.

    Benedito Ferraro, assinalando a constância de movimentos de reforma e de conflitos no interior da Igreja de Jesus Cristo, desembarca na consciência de que a Igreja sempre se encontra em processo de revestir-se de novas formas, e, principalmente, de costurar comunhão na diversidade, a partir do seguimento de Jesus Cristo.

    Gelson Luiz Mikuszka, procurando uma contribuição da Reforma luterana para a Igreja católica, hoje, encontra-a na chave de leitura da justificação pela fé, ou seja, no acento do encontro com Jesus Cristo, de quem parte o envio evangelizador.

    Roberto Ervino Zwetsch, com o olhar estendido ao Continente latino-americano e nele à constatação de tão variados e extensos sinais de morte, pergunta se a teologia da Reforma pode contribuir para a manutenção e até mesmo para o renascimento da esperança cristã e do empenho pela justiça; e ele encontra resposta na teologia da cruz, desenvolvida por Lutero e pela tradição teológico-pastoral da Reforma.

    Sílvio José Benelli e Samuel Iauany Martins Silva desejam caracterizar o movimento da Renovação Carismática Católica. Na pressuposição de que, enquanto intuição de “renovação”, o Movimento traz algo da noção de reforma, com espírito crítico, os autores procuram caracterizar esse “algo”, através de uma análise institucional.

    E Elias Wolff, focalizando o Movimento ecumênico no Brasil, evidencia a espiritualidade que o sustenta; ao realçá-la, ele a repropõe, com o fim de alavancar o Movimento.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Teologia e Mercado Livre
    Vol. 76 No. 304 (2016)

    Apresentação

    Vários assuntos são propostos neste número. Todos eles, em suas abordagens teológico-pastorais, situam-se no contexto socioeclesial de nossos dias, mesmo que também tragam a sabedoria de outras épocas e culturas. E o aludido contexto assinala rápidas e profundas mudanças técnico-científicas, econômicas, culturais. São mudanças que também trazem ou geram crises de ordem ético-religiosa, humana. Portanto, é tendo em conta alguns aspectos indicados por este contexto, com suas chances e desafios, que Você, leitor/a, é convidado/a a dialogar com os articulistas que, através de seus textos, aqui se fazem presentes.

    Assim, no âmbito da economia e de suas crises nos últimos anos, detecta-se a presença do mito do “mercado livre”. E a hipótese que se coloca é esta: não manifestaria ou até não seria este mito a causa do obscurecimento de direitos humanos fundamentais? Não alimentaria ele a propalada evidência de que os pobres seriam eles mesmos a causa de sua pobreza? Não geraria, pois, este mito a consequente cultura da indiferença social e ambiental, agravada pela geração da generalizada agressividade? Sem ceder à eventual acomodação à situação, a pergunta que se levanta é: que desafios traz para a teologia e a pastoral este mito (novo, em relação ao mito do desenvolvimento) idolátrico e sacrificial? Confira a análise e a inquietação com Jung Mo Sung.

    Esta análise e inquietação-proposição de Mo Sung continua com a abordagem da crise ético-política no Brasil, por Nicolau João Bakker. Está claro o desejo de que a teologia, ou seja, os teólogos, os pastores e as demais lideranças religiosas se interessem por uma teologia e por uma prática públicas, ou seja, que não se alienem das questões sociais. Mas, como manter o específico de sua missão religiosa, de modo que ela sempre apareça como boa-nova e contribua para a vocação de plenitude do ser humano?

    Por sua vez, César Kuzma, mesmo diante de algumas mudanças de acento em setores da Igreja católica, recoloca e repropõe a missão da Igreja: missão de pobre e a partir do pobre, ou seja, de busca e de testemunho de uma maneira de ser que tome distância dos ídolos do poder, que siga os caminhos de Jesus Cristo e, portanto, que espelhe a riqueza do Evangelho. A autocrítica a partir da escuta e do anúncio de Jesus Cristo é proposta à Igreja católica, em relação a ela mesma, por Mário de França Miranda. Com efeito, muitas vozes clamam pela necessidade de reforma, hoje; reforma que, até na busca de consensos, como sempre, suscita análises e propostas diferentes e até divergentes. Mas, uma direção parece segura: os consensos buscados situam-se, não só, mas principalmente, além de reformas de caráter administrativo, institucional ou estético; busca-se mudança de mentalidade, no sentido de que ela signifique fidelidade apostólica e consequente contribuição social.

    Luís Miguel Figueiredo Rodrigues focaliza a missão da Igreja católica no caminho da comunicação humana, particularmente, hoje, potenciada pelos meios eletrônicos. Ele incentiva a considerar as potencialidades da Web para a educação cristã, ou seja, para o exercício da sã Tradição.

    Por fim, Wagner Ferreira da Silva dirige sua atenção para uma categoria da liderança católica: os sacerdotes, embora sem restringir-se a eles. Trata, especificamente, da formação e do amadurecimento humano-afetivo dos padres, em vista de si mesmos e do exercício de seu múnus sacerdotal. Ele propõe a arte de ajudar-se, deixando-se ajudar.

    Que a humanidade de nosso Deus, no mistério de Jesus, o Ungido, encante a todos.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Cristologias atuais
    Vol. 76 No. 303 (2016)

    Apresentação

    Narrativas cristológicas atuais são destaque neste número da REB. Elas falam da “apropriação” ensaiada a respeito de Jesus Cristo, que, em sua pessoa, envolve o humano e o divino e perpassa o tempo e o espaço. Trata-se, sim, de compreensão e acentos determinados e circunstanciados, provenientes tanto da inexaurível riqueza do Filho de Deus, como da singularidade de cada pessoa humana (escritor/a, no caso) e de seu contexto sócio-religioso, individual e coletivo. Colocamo-nos, pois e também, diante de nosso próprio olhar.

    É de se notar ainda que as contribuições reunidas neste número não resultam de um plano predeterminado, orgânico e programado. Sua configuração é resultado espontâneo da generosa resposta à ampla e aberta proposta do assunto. Manifesta-se, assim, o que vem sendo ora elucidado ora construído em termos de nossa representação imaginária da pessoa de Jesus Cristo. Assim:

    Aurea Marin Burocchi, partindo do que se pode saber ou intuir da relação intratinitária, acentua a interação entre Filho e Espírito Santo, pensando no cotidiano das relações humanas e cristãs.


    Aparecida Maria de Vasconcelos também relaciona cristologia com pneumatologia, buscando esta relação na interpretação mística da evolução cósmica em Teilhard de Chardin, com atenção voltada para seus possíveis reflexos em contexto secularizado.

    Rogério Luiz Zanini relaciona a encarnação do Filho de Deus como homem a partir da ótica de gênero; sinaliza, porém, a ultrapassagem da delimitação masculino/feminino, ao reportar-se ao Reino de Deus que anuncia o horizonte inclusivo e para ele a todos conclama na qualidade de sujeitos.

    Junior Vasconcelos do Amaral focaliza os personagens do Relato da Paixão de Jesus segundo Marcos, para deles deduzir a cristologia de Marcos, cujo fio condutor é a livre entrega de Jesus e a proclamação do personagem pagão, o centurião, que exclama com força ter sido Jesus o Filho de Deus.

    Francis Silvestrini Adão, por sua vez, pressupondo e visando a existência cristã no mundo plural, focaliza as figuras bíblicas do estrangeiro, do órfão e da viúva como indicadoras da convergência da atuação do Deus singular e plural/uno e trino. Francisco Taborda, no e para o contexto litúrgico do tempo de Advento, conduz uma reflexão teológica a partir e em função das conhecidas Antífonas do Ó (de 17 a 23 de dezembro), que caracterizam o Enviado.

    Por fim, neste número e entre os artigos, Adriano São João demonstra o lugar e o conceito de Misericórdia na teologia contemporânea; sinaliza o resgate deste tema e sua importância para a vida cristã.

    Que a luz de Cristo ilumine a todos.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Família e fé cristã
    Vol. 76 No. 302 (2016)

    Apresentação

    Dois assuntos recebem destaque neste número da REB: família e misericórdia. A família, assunto do Sínodo dos Bispos de 2015 e da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia, é iluminada neste número a partir de diferentes pontos de vista, por Antônio Moser (in memoriam), Rafael Cerqueira Fornasier, Elismar Alves dos Santos, Valdinei de Jesus Riberio e Denilson Geraldo e Rodrigo Grazinoli Garrido.

    Antônio Moser, participante do referido Sínodo, revela qual foi, segundo ele, o maior ganho do evento: a gênese e a manifestação de um novo contexto eclesial. Trata-se de um contexto em que são apresentados desafios e chances da pastoral familiar. Nele, palavras como “escutar”, “discernir”, “evangelizar” foram e são palavras-chave para explicitar e reforçar a face acolhedora da Igreja. Rafael Cerqueira Fornasier parte de um dado, segundo ele, divisor de águas, fornecido pela realização do último Sínodo, em duas etapas. Este dado é o maior conhecimento do atual dado familiar. Tendo observado a fragilidade de vínculos e, ao mesmo tempo, a persistência do ideal família, ele se propõe a contribuir para a compreensão teológico-pastoral da família, a partir de perspectivas sociológicas, filosóficas e antropológicas. Elismar Alves dos Santos aborda o tema enquanto relação interpessoal, partindo de alegrias e desafios, para evocar perspectivas fundamentais que sustentam a relação. Valdinei de Jesus Ribeiro e Denilson Geraldo abordam a gênese sinodal da reforma no processo de nulidade matrimonial. E Rodrigo Grazinoli Garrido, a busca da certeza moral nas causas de nulidade matrimonial.

    O segundo assunto, também relacionado com o da família porque transversal, é o da misericórdia, tema que mereceu a iniciativa do Jubileu da Misericórdia por parte do Papa Francisco. Neste número, o assunto é abordado no âmbito do Sacramento da Penitência-Reconciliação, por Antonio Alves de Melo, Francisco Taborda, Denilson Geraldo e João da Silva Mendonça Filho.

    Segundo Antonio Alves de Melo, encontramo-nos diante de mais uma crise na história do Sacramento da Penitência-Reconciliação. Por conseguinte, ele se propõe contribuir, a nível teológico e pastoral, a fim de que o referido sacramento cumpra a missão que lhe cabe na existência dos fiéis, nas comunidades de fé, na edificação da Igreja. Francisco Taborda, fazendo um percurso pela história do Sacramento da Reconciliação, extrai a distinção entre penitência cotidiana e “penitência canônica”. Se as formas cotidianas de se obter a reconciliação que Deus nos oferece em Cristo forem revalorizadas, não haverá razão para se lamentar a “crise da confissão”, afirma. Dinilson Geraldo, num tempo de pouca privacidade, evoca o inviolável sigilo do confessor em respeito à intimidade do penitente. João da Silva Mendonça Filho, a partir do Jubileu da Misericórdia, apresenta uma reflexão sobre o pecado e o perdão a partir de iluminação bíblica, no intuito de ajudar a iniciação cristã.

    Enfim, com Francisco de Aquino Júnior e Eduardo Hoornaert, aproximamo-nos do teor do documento da Comissão Teológica Internacional, de 2012, sobre perspectivas, princípios e critérios em relação ao fazer teológico atual, e do pensamento de “nosso” Padre Ibiapina, respectivamente.

    Agradecendo aos autores a partilha de suas buscas e resultados, a Redação deseja a edificação de todos.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Ecoteologia
    Vol. 76 No. 301 (2016)

    Apresentação

    “Somos terra (cf. Gn 2,7). Nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; seu ar permite-nos respirar, e sua água vivifica-nos e restaura-nos” (LS 2). E de quanto somos capazes! E o que nos é dado estabelecer!

    Cada um/a de nós pode tomar consciência de que é corpo. Juntos, também e igualmente podemos tomar consciência de que somos corpo. Vale dizer: sou terra; somos terra. Partimos de elementos dela. E “partir” de elementos seus também sinaliza tomada de consciência. Consciência de alteridade, como também de comunhão, de construção em rede, de geração de possibilidades, de interdependência. Mais: “partir” indica tomar consciência de uma instância própria no estabelecimento de cuidado e parceria, ou de domínio e tirania. E, sobremaneira, “partir” possibilita cair em si, maravilhar-se e tremer. Pois, é-nos dado romper as limites do próprio “dar-se conta”, ou seja, dialogar não só com outros, mas com Outro – com o Sol do amor e da justiça, com o desencadeador da criação, que nos convida, conscientes, para a parceria na atividade e “no resultado final”, para além da conta.

    Em artigos e comunicações (de Francisco Borba Ribeiro Neto, Leonardo Boff, Nicolau João Bakker, Marcelo Barros e Ney Brasil Pereira), a REB apresenta elementos da atual crise ecológica, da atual busca por uma antropologia e teologia que respondam às interrogações acerca da vocação do homem – homem, que faz a “terra” “falar” e que percebe a prerrogativa de sua própria responsabilidade, como fator de vida ou de morte.

    Além de ecologia, de ecoteologia, de crise ecológica e de cuidado para com a “casa comum”, apresenta-se, nesse fascículo da REB, uma fala sobre corpo e corporeidade, portanto, também sobre sexo e sexualidade, sobre relações de gênero – um assunto em voga. A diversidade/pluralidade da/na criação, mesmo somente sob o aspecto do gênero, bem como a desenvoltura criativa do ser humano, também a seu próprio respeito, sugerem interesse, prudência, auto-crítica e magnanimidade; cf., a respeito, o texto de Antônio Moser.

    Quem tem Tradição e, em certas épocas, passa por dúvidas coletivas, normalmente recorre a seu “baú” e de lá retira antigas inspirações, que, surpreendentemente, se apresentam como novas! Foi o que fez Faustino Teixeira. Instigado pelos 500 anos do nascimento de Santa Teresa de Ávila, ele lhe fez uma visita e lhe pediu para recontar o itinerário de suas Moradas. Com efeito, ele bem sabia que nelas, como mestra de fina sensibilidade psicológica e pedagógica, Teresa discerne caminhos da mais genuína experiência cristã – caminhos antigos, novos, seguros, procurados.

    E foi o que também fez Claudemir Rozin. Só que ele, como num momento segundo, percorre os principais momentos em que a Igreja recorreu a seu “baú”, ao fundo desse “baú”, ou seja, às suas próprias origens, à Comunidade apostólica de Jerusalém; às vezes, conclui, com alguma utópica esperança, outras vezes, porém, com a sabedoria de quem procura o mapa da sinalização da rota. E não é do que mais precisamos?!

    Encerra com chave de ouro o pacote de artigos a segunda parte do percurso sobre a origem e evolução da hipótese da decisão final na hora da morte, chave oferecida por Renato Alves de Oliveira. Evocadas e avaliadas as argumentações pró e contra, bem como seus pressupostos antropológicos e teológicos, permanece tão só a hipótese!

    Votos de fecunda atividade evangelizadora na etapa de tempo ora iniciada e em todo o tempo.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Morte e Religião
    Vol. 75 No. 300 (2015)

    Apresentação

    Morte e Religião é a relação temática em realce deste número da REB. Seccionado e em sua primeira parte – o morrer –, um tema de forte apelo antropológico. Mas também, na segunda parte da relação – a religião –, intimamente relacionado ao morrer. Uma relação temática que possibilita um amplo leque de abordagens.

    Assim, a primeira é de natureza ética. Discutem-se os cuidados relativos ao ocaso da vida das pessoas: questões pertinentes ao curso natural do morrer, às possibilidades das tecnologias médicas que podem ser direcionadas para a distanásia, às diretivas antecipadas da vontade, ao acompanhamento da mortalidade e finitude humana. William Saad Hossne e Leo Pessini, e Maria Emília de Oliveira Schpallier Silva tratam especificamente destas e de outras candentes questões afins.

    Ricardo Barbosa Correa e Paulo Franco Taitson trazem importantes sugestões que aliam atendimento médico-profissional e atendimento religioso-espiritual. Escrevem sobre a importância de perspectivas espirituais da Vida, o cuidado atencioso, amoroso, respeitoso e competente em relação ao doente e a tudo o que envolve a mortalidade humana, incluindo, pois, não só os doentes em estágio terminal, mas também seus familiares e as equipes médicas.

    Uma excelente síntese sobre a origem e a evolução da hipótese da decisão final nos é oferecida por Renato Alves de Oliveira, que, também e principalmente, traz as discussões em torno de prós e contra a hipótese, bem como uma avaliação geral da mesma. Este número da REB só traz, porém, a primeira parte do texto, sendo que a segunda virá no próximo número.

    O cuidado em relação aos falecidos, no âmbito da religião, também abarca o imaginário relativo ao percurso, aos estágios ou à situação para além do término da vida presente. Neste número da REB, foi-se buscar no passado o que este imaginário, coletivo, criava. Juliana de Mello Moraes pergunta aos membros da Ordem Terceira Franciscana de São Paulo, capital, como eles se imaginavam a possibilidade de cuidados em relação aos falecidos e como os expressavam, no século XVIII. Também Lidiane Almeida Niero e Volney José Berkenbrock perguntam pelo imaginário em relação aos falecidos e pela consequente atuação dos habitantes de Rio das Mortes (MG), no século XVIII.

    Além do assunto-destaque Morte e Religião, este número traz uma análise de Emerson José Sena da Silveira, sobre o imaginário e a atuação de grupos católicos em nosso país, que, pelas características, ele os denomina, em termos gerais, de tradicionalismo católico.

    Continua a expectativa a respeito dos possíveis resultados em função de uma nova funcionalidade da Cúria Romana, tanto quanto possível, adequada à missão da Igreja e aos tempos atuais. João Décio Passos analisa funções, possibilidades de continuidade e de reformas, de possíveis ajustes entre ordem burocrática e carismática.

    Por fim, na seção de artigos deste número, Francisco de Aquino Júnior reflete sobre a importância da contribuição teológica para o discernimento dos sinais dos tempos e convida os teólogos a continuar somando, de modo particular no momento presente, para a missão evangelizadora da Igreja, católica no caso.

    Votos de fecunda reflexão a todos os leitores.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Santos e beatos do Brasil
    Vol. 75 No. 299 (2015)

    Apresentação

    Um belo convite a Você, leitora/or, das proposições contidas neste fascículo da REB! Revisitar o jardim de santidade que o Espírito Santo fez florescer no Brasil e que aponta para a “marca” de Jesus na singularidade da personalidade e do carisma espiritual de cada santo ou bem-aventurado santo/a bem aventurado/a – na bela expressão de Felipe Sérgio Koller, inspirado em Bento XVI.

    “Santos e beatos do Brasil” é o realce deste fascículo. É um título indefinido, pois, evidentemente, não será possível, aqui, visitar a todos. Nem todos são, estritamente falando, “do Brasil”. Também há visita a santos “no Brasil”. E, trata-se de uma amostra.

    Ao trazer este itinerário como proposta de percurso evoca-se uma das características mais expressivas do catolicismo brasileiro: santoral e devocional. Isto, evidentemente e de modo particular, valendo para o tempo do Brasil-colônia. Mas, também evidentemente, não como exclusividade daquele tempo. Pois, esta característica, que se constitui numa riqueza cultural-religiosa, é ao mesmo tempo conservada e recriada. Torna-se tradição. Por ela, no universo da religião, da devoção, das liturgias etc. projeta-se o ser humano, individual, social, cultural e religioso, em suas esperanças e tristezas, alegrias e dores.


    O próprio Felipe Sérgio Koller, mais Thiago Rodrigues Tavares, Ivanaldo Santos, Rogério Luiz de Souza, Raquel dos Santos Sousa Lima e Ernando Luiz Teixeira de Carvalho verbalizam a riqueza deste dinâmico jardim a partir do olhar dos visitantes e, por sua vez, sempre evocativo do convite de Deus a cada pessoa.
    É uma tradição brasileira, com fatores e acentos próprios; mas ela também pertence ao Povo de Deus, que sempre a recriou e continua a reinvetá-la. E hoje, dada a rápida e profunda evolução da história humana e o caminhar da própria Igreja nesta mesma história, particularmente após o Vaticano II, abre sempre mais caminho o fato e a necessidade de se entender a figura dos santos e bem-aventurados como exemplos de vida evangélica, de se redizer em linguagem adequada aos tempos atuais sua experiência de fé, humanamente situada. E isto, para que, através deles e neles, se admire o agir de Deus na história de nosso país e dos povos.

    Maria Clara Lucchetti Bingemer, por seu turno, também evoca uma pessoa admirável, por ocasião dos 60 anos de sua morte e num pool de revistas teológicas latino-americanas promovido pela Comissão Teológica Latino-americana da ASETT/EATWOT. Esta pessoa é Teilhard de Chardin, um sacerdote, cientista e místico, que, de modo profético, expressava sua comunhão com o universo. Sua memória vem bem a propósito da Encíclica do Papa Francisco sobre ecologia, Laudato si’.

    Em seguida e evocando os 50 anos de conclusão do Vaticano II, José Aparecido Gomes Moreira, reapresenta a memória de um historiador que levantou muita polêmica, também com sua interpretação do Concílio de Trento. Tomando conhecimento dela, pode-se concluir que, se nem sempre propósitos de matiz evangélica se concretizam, permanecem, contudo, como constante convite para serem buscados, também em outros contextos históricos.

    Prosseguindo na esteira do diálogo, poderíamos dizer, em que se admite a diversidade de expressões da mesma e fundamental busca humana, Leo Pessini partilha, em forma de reflexão, sua experiência com os temas “religiões e bioética”, na Ásia, especificamente a partir da China, com sua milenar tradição.

    E, finalmente, o exercício da busca e do diálogo, no interno da Igreja católica e às vésperas do Sínodo sobre a família, a respeito de planejamento familiar. Um diálogo entre diversos setores da Igreja, à luz do Evangelho e nas mais diversas realidades humanas.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Modelos Pastorais
    Vol. 75 No. 298 (2015)

    Apresentação

    O presente número da REB oferece a Você, leitor/a, a possibilidade de interrogarse enquanto testemunha da experiência cristã. E, as contribuições que ele traz canalizam esta interrogação a partir ou em torno da temática: “modelos pastorais”.

    Talvez e de início, venha, então, à sua mente a imagem do pastor; em seguida, a do Pastor e a de sua caracterização como “bom” – Bom Pastor, o Bom Pastor. Este, com efeito, é O modelo. Modelo, que, por sua vez, além de apontar para o Pai, aponta para as pessoas. E estas, não abstratamente conceituadas, mas em sua configuração histórica, individual e social. Por isso, mesmo no âmbito individual, cabe falar no plural, ou seja, em “modelos” ou em referências. Também é obvio que, tanto O modelo como os modelos remetem à sua dimensão social ou comunitária. E, aqui, ao referirem-se a “modelos pastorais”, movimentam-se numa delimitação que pressupõe ou que está relacionada a determinadas representações ou a determinados modelos de compreensão de Igreja e de sociedade, que lhe são como que anteriores ou possibilitadores.

    Neste âmbito e em seu conjunto, a reflexão contida neste número parte da noção de Igreja evidenciada pelo Concílio Vaticano II, codificada nas palavras “mistério”, “sacramento”, “sinal”. Com efeito, foi então realçado que ela se constitui de carisma e instituição, que é sacramento de um Reino que não é deste mundo, mas que tem por missão torná-lo presente neste mesmo mundo; que, por um lado, procede de Jesus e, por outro, da experiência pascal de seus discípulos; que deve, pois, referir-se constantemente às suas fontes e, sob a ação do Espírito Santo, originar-se continuamente. Ora, ao ser assim, gera cultura e tradição. Uma tradição “viva”, isto é, que caminha com a história humana, perfazendo a própria história e contribuindo com a de toda a humanidade. É a história do Espírito Santo na história do Povo de Deus, podemos destacar, com Agenor Brighenti. Assim, “modelos pastorais” remetem à experiência cristã originária, na dinâmica das diferentes vestes culturais e modais que a caracterizam no decorrer do tempo e das expressões culturais em que se insere.

    A reflexão sobre representações ou modelos pastorais levanta, salutarmente imaginamos e desejamos, a pergunta pela fidelidade à tradição viva da Igreja. Levantam o diálogo, de modo mais específico, neste número: Agenor Brighenti, Nicolau João Bakker, Rogério Luiz Zanini, Adriano Lima e Clodovis Maria Boff, Maria Lina Boff, Maria Cecília Ribeiro dos Santos Simões – a quem a REB agradece.

    Ainda: Clodovis Maria Boff, em artigo intitulado “Espiritualidade e pastoral”, resultado de uma palestra por ele proferida há um ano, evoca uma sadia relação entre um âmbito e outro (espiritualidade e pastoral), para que nem se instrumentalize um dos polos em prejuízo do outro, nem se enfraqueça sua intrínseca relação.

    E, por sua vez, Paulo Sérgio Carrara propõe relevância teológica ao tema da Oração. Para isso, busca e traz para Você, leitor/a, o pensamento de François Xavier Durrwell, que fundamenta a oração no mistério pascal de Jesus. Daí decorre sua centralidade na vida/ação cristã.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Sugestões ao Papa Francisco
    Vol. 75 No. 297 (2015)

    Apresentação

    “Sugestões ao Papa Francisco”! Prezada leitora, presado leitor, talvez esta chamada soe um tanto ousada ou até mesmo “abusada”. A intenção da Redação é, porém, a de promover amor pela Igreja, espírito e confiança filiais, corresponsabilidade e humildade, escuta e fala, numa palavra: participação. O incentivo que ela deu para a promoção desta chamada foi bem modesto em termos de divulgação; portanto, também não teve e não tem a pretensão de atingir significativa relevância. Não obstante, ela tem a alegria de lhe apresentar contribuições que entende serem muito relevantes, pois, os respectivos autores expressaram-se com liberdade e deram o melhor de si. As sugestões contemplam vários aspectos ou níveis, como o sociológico, o administrativo e o espiritual, sendo este último de caráter identitário e orientativo. Aparecem, pois, análises socioadministrativas e representações do imaginário ideal a respeito da Igreja católica, do Reino de Deus enquanto realização histórica e utopia. Por isso, temos a convicção de que as contribuições aqui registradas poderão ajudar na busca e na fidelização a Jesus Cristo, no pensar a conjugação entre o Evangelho e as pessoas, inseridas em culturas evolutivas, no pensar aspectos administrativos, em todos os níveis.

    Sobre o contexto de crise na Igreja por ocasião da renúncia de Bento XVI e da eleição do Papa Francisco, bem como sobre as perspectivas de continuidade e de mudança, estruturais, e sugestões daí decorrentes discorre João Décio Passos.

    Diversas sugestões, e de acento institucional, são sinalizadas ao Papa Francisco para a condução da Igreja por João da Silva Mendonça Filho, Luís González-Quevedo, Maria Cecília Dos Santos Ribeiro Simões, Nicolau João Bakker, e, de acento espiritual, por outros articulistas.

    Assim, Mário de França Miranda sonda e traz à escrita aquela que seria a “intenção de fundo que move e justifica os pronunciamentos e as decisões deste Papa”. Ele alude à Igreja como mistério, dimensão cara à Lumen gentium. Com isso, constata e sugere que a reforma tem/tenha características de renovação, ou seja, atinja, sim, a dimensão institucional, mas também, que a ultrapasse. Com alegria, ele constata: “estamos às voltas com o que há de mais central no Evangelho, com a dimensão mística da fé, com a experiência de Deus intrínseca à vida cristã, com a imagem autêntica de Deus revelada em Jesus, com o valor fundamental da vida do Mestre de Nazaré para nós, seus seguidores”. Trata-se, pois, de ação de Deus; trata-se de inspiração Espírito Santo, que sempre conduz a Igreja. Ao constatar esta “intenção de fundo”, o Autor propõe sua escuta e obediência.

    O Papa Francisco deseja uma Igreja pobre e voltada para os pobres, no sentido polissêmico desta palavra, e sinaliza este desejo por palavras, gestos e modo de ser e agir. Ao aproximar Francisco de Assis (cujo nome o então Cardeal Bergoglio escolheu e assumiu como Papa) e Simone Weil, Maria Clara Lucchetti Bingemer ressalta em ambos a dimensão de pobreza e cruz, à semelhança de Jesus, ou seja, qualifica essa dimensão como máxima expressão de liberdade e amor-doação. Por conseguinte, nesta perspectiva desenha-se a resposta humana ideal à inspiração do Espírito Santo, configura-se a renovação da Igreja.

    Voltado para a Igreja no Brasil, mas repercutindo em toda ela, Carlos Francisco Signorelli, postula uma questão estrutural que vem de mais longe, em forma de pergunta: “leigos e leigas – sujeitos eclesiais?” A pergunta, aqui, é proposta, é sugestão.

    Enfim, para os tempos atuais e em vista do próximo Sínodo dos Bispos sobre a família, José Silvio Botero Giraldo sugere algumas atitudes que deveriam se fazer presentes no acompanhamento pastoral a casais e famílias, para que a Igreja testemunhe ainda melhor o Evangelho de Jesus Cristo.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Paróquia e catecumenato
    Vol. 74 No. 296 (2014)

    Apresentação

    Prezado/a leitor/a, este número te oferece ensaios, basicamente, sobre dois assuntos, que entendemos serem bem-vindos, seja por sua qualidade, seja pelo interesse que certamente podem encontrar e despertar: a transmissão da fé nos dias de hoje, e a interrogação pelo “religioso” na antropologia humana.

    A transmissão da fé, hoje como ontem, está relacionada ao contexto sócio-cultural, que há tempo já não é o de cristandade, e que, sob alguns aspectos é caracterizado como pós-moderno. Paradoxalmente, porém, a situação sócio-religiosa dos cristãos de hoje, portanto também dos católicos, encontra algumas semelhanças com a dos cristãos dos primeiros três séculos, no contexto social greco-romano. Por isso, a revalorização da antropologia religiosa como estrutura própria do ser humano, a revalorização da liberdade, da busca e da opção pessoal, a pergunta pela natureza e função de algumas estruturas sócio-eclesiais, como a paróquia. Evidentemente trata-se apenas de alguns elementos sócio-culturais que nos aproximam, como o pluralismo e a secularização. Não se trata, evidentemente, de sugerir o resgate, ipsis litteris, de simbolismos ou de modos de proceder. Pois, a dimensão religiosa é constitutiva, sim, do ser humano, mas ela também se expressa com elementos e modos, hoje, distintos de então. Destes elementos e modos não estaríamos sempre na reinvenção, na procura e na descoberta?!

    Assim, o primeiro artigo de João Fernandes Reinert, partindo da problematização da transmissão da fé, hoje, apresenta o resgate da iniciação cristã catecumenal como uma inspiração dos primeiros séculos da experiência cristã. Mas esta iniciação, como mistagogia catecumenal, pede concomitantemente uma renovação paroquial, pede comunidade viva, participativa. As duas frentes, a da vida comunitária e a da iniciação pressupõem-se mutuamente e convidam-se à conversão: à conversão paroquial e à mistagoria catecumenal. É um caminho que contempla a iniciação cristã, a liberdade, a descoberta de valores humano-religiosos, uma opção e vida eclesial. É partir de Jesus Cristo, é fundar e refundar a fé, é começo e recomeço.

    Com Volney José Berkenbrock, somos convidados a sondar o humano; o autor apresenta elementos de antropologia religiosa do Candomblé; busca, portanto, para além das expressões cristãs, a linguagem e/ou a estruturação religiosa como que natural, mas culturalmente expressa na tradição do candomblé. Pode-se, antão, suspeitar, com ele, que, por qualquer porta que se entrar ou por quaisquer caminho sócio-cultural por que se queira transitar, encontram-se características próprias do ser humano, dentre as quais, as que retemos como religiosas.

    Por seu turno, Dayvid da Silva, partindo do estudo e, depois, do documento da CNBB, Paróquia: comunidade de comunidades, perscruta o passado, analisa o presente e pensa o futuro da instituição paróquia; e tira conclusões em prol da maleabilidade e da relevância desta instituições para a vida eclesial.

    Renato Kircher e Luís Gabriel Provinciatto, por caminhos filosóficos e seguindo Karl Barth, na reflexão provocada nele pela Primeira Guerra Mundial e expressa em seu comentário à Carta aos Romanos, explicitam o que entende ele ser o sentido do fenômeno religioso, por ele, Barth, confirmado. E, nisto é cotejado também Martin Heidegger, pelo que ele, em seu texto Introdução à fenomenologia da religião, denomina como “experiência fática da vida”.

    A experiência do sagrado e do profano é o tema da pesquisa de Urbano Zilles. Ele articula e ilustra o fenômeno religioso, partindo das análises de dois conhecidos estudiosos e especialistas no assunto: Rudolf Otto e Mircea Eliade.

    Finalmente, Elismar Alves dos Santos e Cleusa da Piedade Guimarães tratam da dimensão espiritual na psicoterapia, entendendo-a como fundamental.

    Tudo leva, pois, ao ser humano como ser religioso, mesmo num contexto de secularização. A partir da estrutura antropológica do ser humano, constante e dinâmica, tem-se a chance e a necessidade de auscultar, de entender e articular a linguagem mítico-simbólica que varia no tempo e de acordo com a respectiva cultura em que toda pessoa está inserida. Antes de qualquer religião, poderíamos dizer. Portanto, que a admiração pelo ser humano e a compaixão por sua situação ajudem a discernir, para os dias de hoje, os caminhos pessoais e culturais da vivência e da transmissão da fé cristã.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Evangelizar ou humanizar?
    Vol. 74 No. 295 (2014)

    Apresentação

    A REB tem a grata satisfação de lhe apresentar, neste fascículo, a contribuição de vários articulistas, que, juntos, lhe oferecem um variado, atual e rico quadro de como a razoabilidade da fé pode ajudar na missão de evangelizar.

    Assim, para iniciar, Mário de Franca Miranda parte da constatação do dinamismo da sociedade, caracterizada esta como complexa e plural, e, em função da missão da Igreja, postula a necessidade de uma linguagem que seja adequada, abrangente e evangelizadora. Pergunta: como testemunhar e falar de Jesus e do Reino de Deus para as pessoas desta sociedade? O que pertence à fé, o que pertence à religião, como se articula e rearticula o simbolismo cristão? E, ainda em forma de pergunta, conclui: buscar o que seja “humano”, ser cristãmente humanos não deveria estar na linha de frente da resposta pastoral aos desafios de hoje? Não levaria a desejadas mudanças de mentalidade e de estruturas de serviço?

    Alvori Ahlert, referindo-se ao Brasil, recoloca o sonho de uma sociedade democrática. Certo: a concretização deste ideal não é linear-ascendente. Por isso mesmo e por ser sempre uma meta a ser buscada, com estratégias atualizadas, o Autor discute a urgência de se recolocar Ética e Direitos Humanos como fundamento. Ética e Direitos Humanos, que, por certo, não são conceitos estáticos e óbvios, mas diretrizes a serem continuamente discernidas!

    Mesmo falecido há três anos, José Comblin estimula com suas intuições ou percepções. Encantada por uma delas – a constatação da rápida urbanização e suas interpelações para a Igreja –, Alzirinha Rocha de Souza, empreendeu estudo sobre a teologia da cidade, a partir do citado mestre. Segundo a Autora, ele impostava sua reflexão sociológica, eclesial e teológica sobre a cidade na centralidade criativa do ser humano, sujeito e destinatário das estruturas urbanas físicas e mentais. Portanto, concluía, a pastoral e a teologia da Igreja não podem não levar em conta a urbanização.


     Nos últimos tempos, também a Igreja católica está sendo socialmente reequilibrada e enriquecida com a crescente participação feminina em vários campos e de várias formas. Neiva Furlin traz presente, a partir de uma conceituação de gerações de Karl Mannheim, o exemplo representativo de três teólogas da PUC-Rio. A constatação é a de que se manifestam e a expectativa é a de que se manifestem outros olhares e outras falas para atestar a razoabilidade da fé.

    José Silvio Botero Giraldo constata silêncio, tanto de teólogos e estudiosos, como do Magistério da Igreja, a respeito do cônjuge inocente abandonado. É inexplicável este silêncio, segundo ele. Também porque, hoje, afirma, a reflexão teológica vislumbra perspectivas que permitem ir ao encontro de uma solução pastoral neste caso. O Sínodo extraordinário sobre a família, recentemente realizado, também é resultado de uma inquietação que também envolve o tema pontual do autor.

    A partir da Conferência de Aparecida e do Papa Francisco, sobretudo, fala-se de conversão pastoral, de Igreja em saída, de renovação. José de Jesús Legorreta, iniciando por Medellín, perguntou aos bispos das Conferências do Episcopado Latino-americano, através dos documentos emanados, como e o que entendem por conversão e/ou reforma da Igreja na América Latina. Esta consciência não estimularia o discernimento e a inovação no caminho da evangelização?!

    E, encontramo-nos às vésperas dos 50 anos do Vaticano II! A partir da Constituição Gaudium et spes daquele Concílio, Alex Gonçalves Pin revisita o importante tema do diálogo Igreja-Mundo. O cristão não é do Mundo, mas se interroga sobre a presença de Deus nele e, constatando-a, reforça sua convicção de irmanar-se na construção de uma sociedade mais justa e fraterna, e de “pontes”.

    Que a partilha favoreça o caminhar de todos!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Brasil: debate teológico
    Vol. 74 No. 294 (2014)

    Apresentação

    Intelectualmente apaixonante! Duas palavras que evocam campos semânticos distintos, mas não separados. Antes, intimamente relacionados em sua diferenciação. Isto acontece sempre que esteja em jogo a totalidade da pessoa. É o que se dá, p. ex., quando o assunto é Fé.

    Esta é a constatação que decorre de uma visita ao Debate teológico protagonizado no Brasil, entre 2007 e 2009, e, então, referido nesta Revista. O visitante não só se apercebeu da importância de o referido debate ter acontecido entre nós, ou seja, de ter manifestado pressupostos nossos para que tal acontecesse, mas, sobretudo, da caracterização da Teologia. Com efeito, partindo-se da orto-práxis, esta busca-se sua intelecção. E esta instigante relação gera pathos. Em sentido ideal, este pathos sempre está presente no fazer teológico, mas, em certos momentos, pode dar vazão a maior expressividade, como no que foi revisitado. Estes momentos tornam-se, pois, propícios para uma Introdução à Teologia, porquanto envolvem orto-práxis e busca de compreensão da mesma. Francys Silvestrini Adão fez com carinho e atenção esta visita e, com esmero, conta o que captou e, assim, propõe fecundo diálogo sobre metodologia teológica.

    Elismar Alves dos Santos também continua tratando da Fé, mas como fundamento do propósito de vida religiosa e presbiteral. Cuidar da Fé é um modo de a pessoa zelar de si mesma; é condição para exercer liderança, ou seja, para ajudar a outras pessoas.
    Teologia é ciência? É a pergunta que Urbano Zilles se faz. Com isso e de certa maneira, ele prossegue a discussão levantada pelo artigo anterior, capta uma inquietação recorrente e interage com ela, discorrendo sobre a racionalidade de Fé.

    E, a pergunta por quem seja o ser humano, continua a ser colocada no texto de Renato Alves de Oliveira ao tratar da “alma”. Falar de “alma”, pode até parecer estranho, fora de moda, mesmo se, paradoxalmente, o termo não tenha deixado de ser utilizado por pessoas das mais diferentes categorias e em ocasiões as mais diversificadas. Mas, trata-se de antropologia teológica, afirma Renato. E ele, abordando razões do esquecimento desta categoria de linguagem, atesta que seu sentido e conteúdo têm sido redescobertos nas últimas décadas, como expressão para indicar a singularidade humana, sua especificidade, seu valor, sua dignidade e vocação para a transcendência.

    Continuamos a fala sobre aspectos humanos com Paulo Ferreira Valério, partindo de uma abordagem do livro de Rute, para evidenciar como a amizade fraterna e a solidariedade são valores fundamentais que transpõem limites culturais e/ou religiosos.

    A glória de Deus é o ser humano feliz, parafraseando Santo Ireneu. Que os textos possam contribuir para isso.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Tráfico humano
    Vol. 74 No. 293 (2014)

    Apresentação

    Uma das realidades mais dramáticas e paradoxais do mundo de hoje é a do tráfico humano. Para as vítimas, trata-se de um drama. Para a sociedade e, de modo particular, para as igrejas – e aqui se fala a partir da Igreja católica e para os católicos –, este fenômeno não poderia não suscitar inquietações, análises e busca de caminhos corretivos. Pois, está em jogo a dignidade do ser humano tanto do explorado, do explorador, como de todos quantos, de alguma forma, participam da gênese de condições que facilitam o tráfico. A Campanha da Fraternidade deste ano, promovida pela Igreja Católica no Brasil, chama a atenção para o fato e incita à sua superação. Os católicos são convocados, e todas as pessoas de boa vontade são convidadas a colaborar para que a pessoa humana se erga e/ou se mantenha em pé, anunciando as razões de sua dignidade, e superando a coisificação a que muitas pessoas são submetidas em função de interesses mesquinhos. Roberto Marinucci ajuda a iluminar este quadro, não só apresentando modalidades do tráfico humano, mas, sobretudo, trazendo o debate atual sobre o assunto, e apontando desafios a serem percebidos e atitudes a serem assumidas.

    A dignidade humana também está presente nos debates e estudos de bioética. Maria Emília de Oliveira Schpallir Silva, Márcio Fabri dos Anjos e Franklin Leopoldo e Silva sintetizam o estado atual da reflexão em torno do início da vida humana e, portanto, a partir de quando se estabelece o imperativo ético de acolhê-la, cuidá-la, protegê-la.

    Concluindo o estudo da compreensão de laicato nas conferências episcopais latino-americanas, Sávio Carlos Desan Scopinho focaliza vários recortes da Conferência de Aparecida, particularmente, seu Documento Conclusivo. Na retrospectiva histórico-doutrinal de desafios e limites, esperanças e utopias, em Aparecia, os bispos latino-americanos reforçam o reconhecimento da importância dos leigos como protagonistas na estrutura interna da Igreja e na relação com a sociedade.
    Se, por um lado, se constata a vergonhosa realidade do tráfico humano, por outro, também se percebe a feliz emergência da consciência ética. Leo Pessini nos guia às origens históricas da bioética, ou seja, da ética em relação a todos as formas de vida. Indica-nos o filósofo, teólogo, pastor e educar alemão Fritz Jahr, que, na primeira metade do século XX propunha uma revisão do comportamento humano em relação aos animais e às plantas.

    Por sua vez, Isidoro Mazzarolo, distinguindo religião e espiritualidade, indica caminhos e descaminhos das religiões quando estas se apresentam sem a raiz comum e integradora da espiritualidade. Religião sem espiritualidade é ideologia e esta se presta a jogos de dominação. Em contrapartida, religião articulada com sua fonte espiritual manifesta a beleza da diversidade e da liberdade.

    Uma proposta para imaginar a juventude como realidade teológica: é do jovem Alex Gonçalves Pin. Ele faz uma aproximação entre três aspectos juvenis (personalização, amor e projeto), que ele acredita serem fundamentais para a compreensão da juventude, com a perspectiva antropo-teológica de Pierre Teilhard de Chardin. Confira!

    O teólogo alemão Jürgen Moltmann tem sido um dos mais destacados pensadores no campo teológico da atualidade. Perguntamos-lhe o que pensa da possibilidade de um pensamento teológico aberto, convidativo e integrador, no contexto de tantas diversidades que nos são apresentados no mundo de hoje. Cláudio de Oliveira Ribeiro foi ver mais de perto e intermedia uma resposta.

    Votos de fecundo olhar a partir da fé, auxiliado pelo científico!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Fé cristã hoje
    Vol. 73 No. 292 (2013)

    Editorial

    Movida pela graça do Concílio Vaticano II, cujo cinquentenário é ocasião de se revisitar o evento e sua inspiração, a Igreja católica, como um todo, confirma e robustece a consciência de integrar a grande história da humanidade. Consequentemente, participa e toma consciência das rápidas e profundas mudanças socioculturais em curso. Toma consciência de não ser tão somente destinatária das mudanças, mas também, de uma forma ou de outra, de ser co-protagonista. Os horizontes que se abrem com o novo pontificado e o Ano da Fé, proposto por Bento XVI e ora em seu término celebrativo, são indicativos desta consciência eclesial. Nesse quadro, experimenta desafios e chances, entre outros aspectos, também com relação a um pilar estrutural de vida eclesial e do testemunho ou da contribuição que ela pode oferecer ao mundo: a fé em Jesus, o Cristo. E Francisco de Aquino Júnior analisa a crise da fé em nosso tempo, aponta alguns desafios epocais para acolhê-la como dom e tarefa, e apresenta-a, em seus frutos, como seguimento de Jesus Cristo, ou seja, como testemunho de vida na consecução do reinado de Deus.

    É também no quadro do desenvolvimento das ciências e das tecnologias, principalmente as relacionadas à genética e às biotecnologias, pelas quais o ser humano adquiriu um poder que anteriormente não conhecia, o bipoder, motivo de esperança e de temor, que se coloca Antônio Moser. Nesse contexto, diz ele, a Igreja católica, partilhando o realismo que lhe vem da sabedoria da cruz e da ressureição de Jesus, e acolhendo o resultado dos esforços de todas as pessoas, apresenta-se como Igreja do “sim” em relação aos avanços científicos e tecnológicos sabiamente comprovados e abertos às maravilhas da Vida. A boa-nova da Vida em todas as suas formas e em todas as suas fases é o horizonte do Autor e a tônica da Igreja, particularmente na atualidade.De modo semelhante, na escolha do nome Francisco que o então card. Jorge Bergoglio fez para o ministério petrino, Celso Pinto Carias vê uma das principais características do testemunho cristão, e católico consequentemente: uma Igreja que, ampliando o sentido que o Papa Francisco atribuiu à sua missão na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, não tem ouro nem prata, mas oferece Jesus Cristo, pobre e humilde. Neste contexto, o A. vê confirmada a razão de ser dos seguidores de Jesus Cristo, particularmente nas CEBs.

    A partir do pano de fundo da mudança epocal, da prática pastoral e da reflexão acumulada nos 50 anos do pós-Vaticano II e dos horizontes implementados no atual pontificado e, particularmente, pelo Papa Francisco, Antonio José de Almeida propõe um série de reformas que, segundo ele, certamente ajudariam a Igreja, no século XXI, a ganhar credibilidade no testemunho de Cristo e de seu Reino, a serviço da vida e da esperança dos homens e das mulheres de todos os povos e culturas, sobretudo dos pobres e esquecidos.

    Por sua vez, Elias Wolff demonstra que a postura da Igreja a partir do Vaticano II possi-

    bilita que ela, através de seus membros e em todas as instâncias, se situe adequadamente no contexto do sempre mais expressivo pluralismo religioso. Este situar-se não é simplesmente uma adequação externa, mas fruto de uma reinterpretação autêntica de suas fontes e Tradição. Segundo esta leitura, supera-se uma interpretação restrita do extra ecclesiam nulla salus, afirma-se que as religiões têm uma contribuição salvífica em Cristo e que o diálogo e a cooperação inter-religiosa podem e devem ser parte do testemunho da caridade de Deus.

    Se, por um lado, o quadro sociorreligioso, com sua variedade de agremiações, com o ativo trânsito religioso hoje constatado, com o crescimento dos que se desfiliam ou não se filiam a alguma igreja, é rico em sintomas, por outro, apresenta-se como um desafio e como uma chance para o também emergente interesse acadêmico por estes fenômenos, representado pelas várias iniciativas institucionais de Estudos da Religião. Neste quadro, Emerson José Sena da Silveira e Nina Rosas sugerem metodologia de abordagem para os estudiosos dos fenômenos religiosos.

    A REB agradece a oportunidade de divulgar tanta riqueza de análise e de propostas e compartilha a esperança naquele que se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Renovação pré-Vaticano II
    Vol. 73 No. 291 (2013)

    Editorial

    Concílio Ecumênico Vaticano II: uma referência, especialmente para a Igreja católica. Não é novidade afirmá-lo, como também, respeitadas algumas nuanças, em relação aos anteriores Concílios ecumênicos. Todos eles são marcos referenciais da/na Tradição da Igreja católica. Mas, há cinquenta anos do Vaticano II retomamos este evento, reinterpretamos seu sentido, destacamos novos aspectos. Várias iniciativas podem ser registradas neste sentido. Também nas páginas da REB, mesmo sem ter havido uma promoção especial, não é difícil constatar a importância da referência ao Vaticano II. Neste mesmo fascículo Antonio Luiz Catelan Ferreira, levado pela determinação de entender ainda melhor o evento conciliar e focando em sua eclesiologia, empenha-se em desvendar sua preparação. Não a preparação imediata e como tal, mas – e já como resultado –, o processo por ele qualificado como renovação eclesiológica. Portanto, conclui, o Concílio e os grandes consensos então manifestados são fruto também do permanente e dinâmico processo de vivência eclesial, de Igreja inserida na dinâmica da história humana e, nela, tecendo sua própria história de fé e de testemunho evangelizador. Assim, antes do Concílio; assim, depois dele. Este panorama não diminui a luminosidade do evento conciliar do Vaticano II propriamente dito, mas ajuda a identificá-lo ainda mais como evento eclesial no seu todo.

    Se Catalan Ferreira enfoca a eclesiologia, João Décio Passos, o leigo. Este situa a noção de leigo do Concílio a partir do conceito moderno de sujeito, ou seja, de indivíduo consciente, autônomo e ativo. Assim, o Concílio vê o leigo como sujeito individual e coletivo e, em razão de seu batismo, como membro do Corpo de Cristo, donde lhe advém a missão, os direitos e os deveres de membro da Igreja e segmento organizado da mesma.

    E, como todo sujeito tem seu próprio caminhar histórico, assim também com relação o leigo na Igreja católica. Com Sávio Carlos Desan Scopinho acompanhamos a evolução da compreensão do leigo, como sujeito coletivo, como laicato, na Igreja latino-americana, através das Conferências gerais pós-conciliares. Desta vez Scopinho se pergunta pela compreensão de laicato por parte do Magistério Eclesiástico, conforme expresso no Documento da Quarta Conferência, a de Santo Domingo, em 1992. O que foi expresso nesta Conferência ajudará a entender a progressiva compreensão de laicato no pós-concílio e, há pouco, na Conferência de Aparecida, que será objeto de outra abordagem.

    O professor Argemiro Procópio Filho apresenta como pano de fundo alguns traços da cultura atual, denominada, por alguns de seus aspectos, de pós-cristã. Este pano de fundo serve como ponto de partida para levantar sugestões ou hipóteses de como a Igreja católica, quer estando na linha de frente deste processo, quer a reboque dele, poderia criar mecanismos para manter, adequar e desenvolver canais de diálogo com as igrejas particulares, com as conferências episcopais, com pessoas e entidades humanas, nas diferentes culturas em que se distinguem.

    Ainda situando-nos a sociedade pós-secular, outro termo para sinalizar algumas características da cultura atual, globalizante, Paulo César Nodari se pergunta como articular saber e crer, ciência e fé. Com Jürgen Habermas afirma que esta articulação é uma chance de relevante importância para o diálogo, a compreensão e a vivência da fé e do saber nos dias atuais. Não é por acaso que se fala da necessidade de redizer as razões da fé, de refazer o primeiro anúncio.

    Paulo Sérgio Lopes Gonçalves, correlacionando Martin Heidegger e Karl Rhaner, busca luz para compreender e exprimir em linguagem atual o encontro de amor entre Deus e o ser humano, sintetizado na tradição cristã pela Revelação.

    Agradecendo aos colaboradores deste fascículo, a REB lhe deseja proveitoso diálogo.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Os leigos e o episcopado latino-americano
    Vol. 73 No. 290 (2013)

    Editorial

    Este fascículo apresenta como destaque de capa: “Os leigos e o Episcopado latino-americano”. Na verdade, aqui, trata-se dos Leigos na Conferência de Puebla (1979). Porém, dois motivos podem ser aduzidos em favor desta escolha de chamada, de sentido mais amplo. Primeiro, porque o artigo de Sávio Carlos Desan Scopinho faz parte de uma série de artigos, que analisam, sucessivamente, em cada uma das Conferências do Episcopado latino-americano, o tema “laicato”; portanto, embora limitado a Puebla, o presente artigo faz parte do esforço de trazer à luz a orgânica e progressiva tomada de consciência deste episcopado sobre este assunto, a partir da década de 1950. Segundo, porque a temática se situa no marco dos 50 anos da convocação do Vaticano II e na esteira de sua criativa recepção por parte da Igreja na América Latina.

    A Constituição dogmática Gaudium et Spes, em sua “arquitetura eclesiológica”, após focar a Igreja como Mistério, destaca a vocação à santidade de todos os membros do Povo de Deus; e, ao vincular o exercício dos ministérios eclesiais à vocação à santidade e ao reconhecer a autonomia e a bondade da Criação, apontou para a missão evangelizadora específica dos leigos no mundo, ou seja, na teia das relações e organizações humanas e da Criação. Por isso, vale a pena realçar a missão dos leigos e, de modo particular, o modo como ela vem sendo articulada nas Conferências do Episcopado latino-americano.

    Decifrar os sinais dos tempos é acender faróis que possibilitam opções. Antônio Moser saúda o rico momento da história da humanidade em que vivemos. Aponta para realizações em favor da vida e de esperançosas promessas futuras, bem como para indicativos que justificam preocupações. Apresenta a necessidade de cada um/a se localizar em termos de valores, para estar em melhores condições de tomar posição, fazendo opções justas.

    Por sua vez, Liomar Antônio Brustolin constata o aumento do sintoma-suicídio, próprio de épocas de perda ou de rápida mudança de referenciais humanos e religiosos. Tendo em vista a contribuição pastoral a oferecer, busca auxílio na Teologia e sugere linhas de compreensão e de valorização da vida.

    Magda Luíza Mascarello observa as mudanças no ritual dos vivos por ocasião da morte de alguma pessoa, na contemporaneidade. Debruçar-se sobre o ritual contribui para interpretar com maior acerto nosso tempo e, por isso, para que nossa inserção seja flexível e crítica ao mesmo tempo.

    Ainda na perspectiva da busca de discernimento de sentido no engajamento social cristão, Walmir Marcolino Gomes, aborda, por um lado, a propulsora força da esperança escatológica cristã, que, paradoxal e proporcionalmente, incide sobre o compromisso da construção da cidade terrena, da justiça social.

    Trocando de assunto, Faustino Teixeira desvela o itinerário místico do poeta, adjetivado como revolucionário, Ernesto Cardenal. O A. e o poeta místico ajudam a intuir a linguagem que se esconde nas entrelinhas do ser humano, valorizando-o como ser integrado ao criado, religioso e místico-contemplativo.

    Encerramos a parte de artigos deste fascículo, tratando, com Maurício Gomes dos Anjos, da contribuição que a psicologia analítica pode oferecer à formação humana do sacerdote católico – assunto que merece acurada atenção.

    Que a partilha de tantas buscas desague em outras tantas descobertas em prol do ser humano e da Evangelização!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Morte: antropologia e teologia
    Vol. 73 No. 289 (2013)

    Editorial

    Afrontar o tema da morte é situar-se onde o enigma da condição humana mais se adensa (cf. GS 18). É ocupar-se de um final do início, ou seja, é ocupar-se da vida. Este ocupar-se sinaliza exercício e testemunho de liberdade, pelos quais se torna possível assumir o nascer e o morrer, a vida e a morte, a vitalidade e a mortalidade. Um tema desafiador, um tema que assusta, um assunto que, por isso e não raro, é colocado em segundo plano ou até escamoteado. Renato Alves de Oliveira encarou-o. Percorre a aproximação clássica que foi elaborada a respeito do morrer e, a partir da reflexão filosófica e teológica dos últimos tempos, conclui que se trata, hoje, de uma aproximação insuficiente. Em contrapartida, apresenta uma abordagem antropológica e teológica, passando da compreensão corpo-alma projetada na escatologia, para realçar a relação vida-morte num contexto de corporeidade e pessoalidade. Neste contexto, acena para a relacionalidade e entende a perspectiva teológica da ressurreição.

    Com perspectiva que se aproxima, trazemos um texto de Antônio Moser, elaborado há algum tempo, mas que vem ganhando sintonia de compreensão ao chamar a atenção para a ampliação de compreensão corpo<corporeidade, sexo<sexualidade, biológico<virtual, acenando, assim, para o estimulante enigma humano.

    Situados nestes acentos culturais da atualidade e no contexto sócio-eclesial latino-americano e caribenho, Afonso Murad, Élio Estamislau Gasda e Geraldo De Mori sintetizam os indicadores do Congresso Continental de Teologia, realizado em outubro de 2012, em São Leopoldo/RS, na Unisinos, por ocasião dos 40 anos da Teologia da Libertação e dos 50 da abertura do Vaticano II. O Congresso se caracterizou – e os autores o realçam – pela dinamicidade e flexibilidade, bem como pela interação entre ação pastoral e pensar teológico. Uma perspectiva certamente parcial no universo eclesial, mas dinâmica e esperançosa.

    Jung Mo Sung mostra a pertinência de se articular economia, teologia e prática das igrejas. A dimensão econômica não pode ser menosprezada. Desta articulação, o Autor conclui pela evidência bíblico-teológica da opção preferencial pelos pobres; se não considerada somente sob o viés econômico, pelo menos nunca sem ele.

    Tendo como pano de fundo as rápidas transformações de nossa “aldeia global”, Mário França de Miranda percebe que a Igreja católica precisa refletir sobre sua visibilidade histórica, pois, “hoje, em muitos aspectos, sua configuração institucional não corresponde à sua identidade teológica”.

    Neste contexto eclesiológico, principalmente a partir do Vaticano II, grandes setores da Igreja católica vêm pensando sua missão, constelação humana e ministerialidade. Sávio Carlo Desan Scopinho, tendo como referência o arco das Conferências Episcopais Latino Americanas, aqui nos apresenta a percepção do e sobre o laicato na Conferência de Medellín, em 1968.

    Fecundo desempenho na evangelização!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • A 50 anos do Vat. II
    Vol. 72 No. 288 (2012)

    No dia 11 de outubro de 2012, no marco-jubileu de 50 anos, a memória presencializa a abertura do mais inspirador evento eclesial do século XX: o Concílio Ecumênico Vaticano II. Evidentemente, o foco das atenções não está no passado, mas sim, a 50 anos daquele evento, ou seja, no hoje da experiência de fé da Igreja católica e do exercício de sua missão evangelizadora, iluminados pelas luzes daquele evento do Espírito. A partir e em função deste hoje, e deste hoje situado, em nosso caso, no contexto sócio-eclesial latino-americano, busca-se antiga e nova inspiração do Concílio, no exercício de articular sempre novas formas de compreensão e de anúncio da Boa Nova da vida em Jesus, anunciador do Pai, na força do Espírito Santo.

    Em função deste impulso de fidelidade e renovação, neste fascículo é apresentada a oportunidade de:

    Participar do permanente discernimento hermenêutico do Vaticano II; para isso e em função de uma Igreja agraciada e portadora da graça de Jesus Cristo nas mais diversas circunstâncias e modos de anúncio, Antonio José de Almeida aponta critérios básicos;

    Seguir, com Francisco de Aquino Júnior, o percurso da Igreja dos pobres, que perpassou o Vaticano II e emergiu com evidência na eclesiologia e na práxis latino-americana, constatando sua relevância enquanto característica dos discípulos de Jesus Cristo;

    Prosseguir, estimulados por Paulo Suess, na acolhida da proposta missionária do Vaticano II, avançando na opção pelos pobres/outros, na requalificação do laicato e na construção de uma Igreja universalmente articulada e localmente autóctone;

    Perceber a natureza de uma Igreja una e pluriforme, que tem na sinodalidade uma marca de sua unidade e diversidade fundada na Trindade, marca da qual a colegialidade episcopal é uma das manifestações – Agenor Brighenti realça a importância desta afirmação conciliar;

    Situar-se no contexto eclesial-teológico imediatamente anterior ao evento conciliar e constatar como algumas ideias-mestras que marcam a eclesiologia do Concílio eram então gestadas e formuladas, o que leva à noção de processo em muitos aspectos da vida eclesial – Antonio Luiz Catelan Ferreira sinaliza este contexto;

    E Francisco Taborda dá conta do pleno reconhecimento também por parte da Igreja no Ocidente da ação do Espírito Santo na Eucaristia, um passo a mais na direção do consenso na fé e do ecumenismo.

    A todos, fecundo benefício desta fonte!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Ensino Religioso
    Vol. 72 No. 287 (2012)

    Está em destaque, neste fascículo, o Ensino Religioso em nosso país. O consenso de uma sua epistemologia própria, ou seja, de sua identidade vem sendo construído através de um aprendizado adquirido no decorrer de um longo processo histórico. Já em fase bem definida, esta identidade é fruto de diálogo interreligioso, de busca por bases antropológico-religiosas comuns, do reconhecimento da diversidade de tradições religiosas. Aspectos desta busca e de seu percurso são trazidos neste fascículo. Através deles toma-se consciência da construção de um determinado consenso, dinâmico, pois trata-se de percepção, estudo, comunicação e testemunho do fenômeno religioso humano, principalmente com relação à juventude. Sérgio Junqueira e Rivael de Jesus Nascimento partilham resultados de sua pesquisa, voltada a per-seguir o processo de configuração desta identidade do Ensino Religioso no Brasil, e Mateus Geraldo Xavier apresenta o que o Papa João Paulo II entendia por Ensino Religioso e, portanto, mesmo indiretamente, sua contribuição para a definição de Ensino Religioso entre nós, no Brasil.

    Maria no cinquentenário do Vaticano II é o foco das considerações da Irmã Maria Lina Boff. Situando a afirmação da Lumen gentium referente à Mãe de Jesus Cristo como “filha predileta do Pai” no horizonte bíblico, ela destaca, seja a presença de Maria na espiritualidade católica, particularmente latino-americana, seja a atuação das “marias” de hoje. Sublinhando a linhagem humana e histórica de Maria no horizonte de todas as mulheres que lutam pelo bem de sua gente ou de seu povo, destaca-a como companheira e irmã solidária de cada mulher promotora da vida nos dias de hoje, particularmente em nossas latitudes.

    O professor Sávio Carlos Desan Scopinho estuda a compreensão do Magistério eclesiástico sobre o laicato na Primeira Conferência do Episcopado Latino-Americano, no Rio de Janeiro, em 1955. Então, a missão do leigo, na Igreja e na sociedade, é percebida como sendo a de “auxiliar do clero”. Pautando a compreensão da missão do laicato naquela Conferência, o Autor contribui para o entendimento de sua evolução nas seguintes Conferências do Episcopado Latino-Americano.

    Delitos contra menores por parte de clérigos repercutiram e repercutem. Por conta disso, a legislação eclesiástica sobre o assunto foi sendo aperfeiçoada, nos últimos tempos, em duas direções: no assegurar o cumprimento da justiça e a proteção às vítimas e no direito de defesa aos clérigos acusados. Denilson Geraldo delineia a atitude e os passos ideais do bispo na instrução do processo canônico em tais casos.

    Paolo Cugini dialoga com Gianni Vattimo sobre a dimensão religiosa e, particularmente, sobre o cristianismo, a partir de conceitos da cultura pós-moderna. Dialogando, o Autor propõe mútua estima e acena para a possibilidade de se compreender e se redizer a experiência religiosa ou seus fundamentos em linguagem nova e sintonizante.

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Presbíteros: desafios e perspectivas
    Vol. 72 No. 286 (2012)

    Em realce, neste fascículo, o clero – seja ele secular ou religioso.

    Há dois anos, a CNBB atualizou as Diretrizes para a formação dos presbíteros na Igreja do Brasil. E formação é também o foco das contribuições deste número da REB. Também não é para menos, dada a importância dos presbíteros na vida da Igreja e a mudança de época que provocamos. E ainda, se o afirmado pode ser aplicado aos presbíteros de toda a Igreja católica, obviamente, e com características próprias, pode ser aferido também em relação ao clero católico brasileiro ou vice-versa.

    Ora, um aspecto de contexto presbiteral brasileiro e que, portanto, sinaliza um modo próprio de consciência e de integração no todo da Igreja é dado pelos Encontros Nacionais de Presbíteros. Iniciados em 1985, estes Encontros se constituíram em momentos fortes dereflexão e debate sobre a vida e o ministério presbiteral. Éocleropensando a si mesmo, suas necessidades, sua missão, sua comunhão eclesial. Segundo Sandro Ferreira, a contribuições destes Encontros – que também já foram objeto de estudo, exposição e publicação nesta revista (cf. P. Suess, Comunhão e missão presbiteral ontem e hoje: discernimentos e compromissos, REB 70 (2010) 532-563; id., XIII Encontro Nacional de Presbíteros (ENP): memórias de 25 anos de caminhada, ib., 715-724; Manoel Henrique de Melo Santana, As origens da Comissão Nacional do Clero e os primeiros encontros nacionais, REB 68 (2008) 170-182) – apontam para uma Pastoral Presbiteral que os ajude no equacionamento de desafios pessoais e comunitários. Estes últimos, para o clero secular, indicam como caminhos ideais o senso de pertença ao presbitério e a comunhão deste com o bispo, sem, evidentemente, se perder de vista que o presbítero evangeliza em conjunto com os leigos, com todo o povo de Deus.

    Há pouco foram lembrados em muitas instâncias eclesiais os 150 anos da morte de são João Maria Vianney, o Cura d’Ars. O contexto sócio-cultural em que ele viveu e no qual se expressou não é mais o nosso. Mas sua intimidade com Jesus Cristo, sua fidelidade à resposta vocacional e sua dedicação às pessoas muito nos ensina, afirma Antonio Alves de Melo, ressaltando, nessa linha, acontribuição do clero no Brasil, ontem e hoje.

    Levantar algumas questões de formação do candidato ao presbiterado e apontar perspectivas de cuidado é a contribuição que traz João da Silva Mendonça Filho. O protagonismo pessoal do candidato, seus familiares, suas vivências humano-afetivo-sexuais, sua vida eclesial e sua resposta vocacional são realçados pelo Autor e, nestes aspectos, pistas orientativas são indicadas.

    Para o bispo ou o superior maior, quais critérios podem ser de ajuda no discernimento vocacional, ou seja, para acolher um candidato ao presbiterado? Denilson Geraldo aponta para alguns deles, tambémsugerindoo auxílio depsicólogos, senecessário.

    Dos presbíteros, Mário de França Miranda nos leva à eclesiologia. E o faz na perspectiva de avaliação dos 50 anos do início do Concílio Vaticano II. Uma Igreja em processo de renovação é o que constata e preconiza. Uma Igreja constituída de comunidades de fé – exercendo a escuta mútua entre seus membros; uma Igreja voltada para o anúncio e a promoção da vida, em todas as suas formas, individuais e sociais; uma Igreja que testemunha sua fé em Jesus Cristo, de modo livre e pessoal, são perspectivas da renovação eclesial dos tempos de hoje.

    Encerrando este fascículo, Nicolau João Bakker demonstra a dimensão social da ação da Igreja em tempos relativamente recentes de sua trajetória no tempo sócio-cultural. Ao fazê-lo, repropõe à consideração dos leitores o fortalecimento da dimensão social da fé e da ação da Igreja, à semelhança de Jesus Cristo.

    Que a espiritualidade presbiteral ajude a evangelização da Igreja!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Por uma "outra" sociedade
    Vol. 72 No. 285 (2012)

    Toda visão ou percepção é visão ou percepção a partir de um ponto. A vista e a cabeça costumam ver e pensar a partir dos pés. Por isso, cada cabeça, uma sentença; determinismo subjetivista!? Mas há um “mas”! Ser humano é, sobretudo, fazer experiência de liberdade, criatividade, poesia, humor, mística, do que transcende, do outro. E nisto também há revelação, acolhemos a Revelação cristã e, a partir delas, construímos tradições, construímos a Tradição cristã. Pela Revelação cristã, Deus se dá a conhecer a si mesmo, e o faz como Aquele que ouve o clamor, que é sensível ao sofrimento das pessoas, que sai em auxílio dos carentes, em defesa dos excluídos ou marginalizados de todas as formas. Esta Revelação feita pessoa, carne, em Jesus, o Ungido, rejeita o legalismo do Templo e reassume, na tradição judaica, o alerta dos profetas em favor da justiça e a leva a termo. Em sua pregação, a linguagem figurativa do Reino carrega e transmite o sonho e o dinamismo da construção de uma “nova” sociedade, em vista de sua plenitude futura. Até aqui, nenhuma novidade. Mas, o chamar a atenção para a dimensão social da Revelação e, portanto, do compromisso do discípulo, decorre de uma percepção de que, no momento atual, as atenções parecem voltar-se preferencialmente para o Templo. Manter, pois, a dimensão do Templo e, ao mesmo tempo, o engajamento individual e coletivo em busca de uma “nova” sociedade parece ser o desafio pastoral de nossos dias. Nicolau João Bakker levanta esta interrogação. Vale a pena conferir.

    Aparecida Maria de Vasconcelos, visita Pierre Teilhard de Chardin e, ao regressar, com encanto narra um pouco da mística do visitado, que ela qualifica como a mística da Terra. Esta mística, evidentemente, se alimenta do mistério de Deus, percebido na aproximação científica e humana da composição da matéria, da evolução da vida e da consciência. A partir de um encantamento de fundo, Chardin é um convite para a ação criadora ou co-criadora, como também conduz a uma reflexão sobre o desencanto, a dor, a morte, para retornar com a certeza de que, na Páscoa de Cristo e com Cristo, entrevemos a meta deste caminho ativo e passivo.

    Por sua vez, Rogério Foschiera apresenta a reflexão de Charles Taylor, pertinente para a qualificação da educação e da experiência religiosa. Segundo ele, para levar a bom termo a missão educativa é necessário apontar para um além, um plus, uma transcendência e viver desta dimensão aberta ao infinito. E mais, lembra que esta é uma experiência pessoal e, por isso, percebe que, para falar de Deus ou para exprimir a experiência de transcendência, há que se tocar o núcleo mais íntimo de percepção e da decisão do ser humano. As tradições sempre carecem desta fonte original e originante.

    Muitas pessoas, no mundo de hoje, por diversas razões, migram. É um fenômeno sociológico sobejamente constatado. Lúcia Ribeiro de Manuel A. Vásquez, com os pés em Atlanta, USA, e em contato com a situação de imigrantes brasileiros e de outros países, observam e analisam algumas dificuldades com as quais as comunidades de fé se deparam e com algumas possibilidades que, com criatividade, encontram. Interações sempre mais presentes no mundo globalizado e que podem ter diferentes desdobramentos!

    Uso de aparatos técnicos nas celebrações? É ponto pacífico? Eles levantam a pergunta pela característica específica ou própria de celebrações religiosas. Poderosos e envolventes meios técnicos facilmente transformam-nas em espetáculo, show, animação coletiva. Não necessariamente, mas a pergunta fica: o que convém, o que é condizente, o que perturba uma celebração religiosa? Danilo César dos Santos Lima retoma esta reflexão.

    Assunto-aborto costuma ser polêmico. Não raro e a priori toma-se posições pró ou contra. Defende-se ou condena-se a Igreja católica. Mário Antônio Sanches percorre então seus principais e recentes documentos sobre o assunto, além de se basear em pesquisa de campo, e conclui que a Igreja católica se apresenta como Mestra e Mãe, superando o preconceito generalizado de que ela, neste e em outros assuntos, simplesmente seria insensível, sempre “do contra”.

    Que a partilha do pão da palavra nos possibilite crescimento em humanidade!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Igreja no Brasil, para onde vais?
    Vol. 71 No. 284 (2011)

    Neste ano, a Igreja no Brasil, através da CNBB, lançou as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2011-2015). Testemunho de orientação conjunta e resultado do esforço, também conjunto, da análise dos sinais dos tempos e da escuta e discernimento do Mandato de Jesus Cristo, em vista da eficácia da ação evangelizadora. Agradecida, a REB também se junta neste caminhar eclesial, implementando o conhecimento das Diretrizes. E entende que elas, mesmo representando o esforço conjunto de análise dos sinais dos tempos e de escuta da missão da Igreja em nosso país e neste “momento”, por sua natureza, permanecem um espaço aberto à contínua construção e reconstrução de discernimentos. Deste modo, além de apresentar um resumo das Diretrizes e, assim, implementá-las, a REB também se apresenta como um espaço de exposição de ideias e debate, visando tanto a continuidade do discernimento dos sinais dos tempos quando da própria missão evangelizadora confiada por Jesus Cristo. Por isso, junto com o irrestrito apoio e como parte dele, reforça a tese de que o ser humano, particularmente o pobre ou o empobrecido – em todos os sentidos –, é o lugar concreto e privilegiado para se descobrir e testemunhar a presença de Deus, como também para anunciá-la, de diferentes maneiras. Neste fascículo, a recepção, tanto pura e simples, como criativa e crítica, é feita por Paulo Suess, Agenor Brighenti e

    Francisco de Aquino Júnior. Eles possibilitam pensar, agindo, e agindo, pensar.

    Também neste ano, e de modo mais acentuado do que de costume, ressoa a centralidade da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, assinalada pelo Sínodo dos bispos de 2008 e pelo Papa Bento XVI na Exortação Apostólica Verbum Domini. Luís Stadelmann, ao tratar da hermenêutica da Palavra de Deus no Antigo e Novo Testamentos, indica como esta Palavra é determinante na história humana.

    Próximos aos 50 anos do início do Vaticano II, Antonio José de Almeida salienta o papel de João XXIII no referido Concílio. Papel inspiracional e decisivo! Suscitou-lhe o espírito e imprimiu-lhe o rumo. O Papa do Concílio esteve voltado ao ser humano e à Igreja católica naquele momento histórico; manifestou admirável confiança na presença e na condução da história e da Igreja católica por parte do Espírito Santo; era-lhe evidente o discernimento entre o conteúdo da Mensagem cristã e sua linguagem. Para ele, tratava-se de implementar propositivamente um novo anúncio da Boa Nova, convidando a ecumene cristã.

    O ser humano a quem João XXIII se dirigia é aquele que, constituído de pessoas, tanto então como hoje, metaforicamente pode se reconhecer como se estivesse num campo de futebol. Com efeito, é nesse campo que se encontra tanto os limites (as quatro linhas, as traves, as regras do jogo etc.) como, paradoxal e felizmente, a possibilidade de sua transposição (aliás, o limite é indicado pela sua própria superação). Estes limites podem ser representados, por exemplo, na vida de um casal, pelo nascimento de um filho ou filha autista. Aqui situa-se a reflexão de Roberto Marinucci. Compartilhando a experiência dos próprios limites é que ele enxerga também o mundo como autista (a não percepção dos limites do campo de futebol) e se lhe configura, em nova evidência, o mistério da misericórdia de Deus em Jesus Cristo, que assume, conscientemente, o limite, a fraqueza, a derrota, o não-poder, a morte – limite, por sua vez, transposto pela ressurreição, ou seja, pela vitória da vida!

    Enfim, com Neiva Furlin toma-se conhecimento do percurso da docência feminina em instituições teológicas católicas no Brasil, e se deseja que a participação feminina possa naturalmente se expandir.

    Que a reflexão sobre e a partir da práxis evangelizadora potencialize o “sim” de cada um e de todos!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Sociedade Secularizada
    Vol. 71 No. 283 (2011)

    Seja qual for o segmento social em que alguém é classificado ou com o qual, de alguma forma, ele mesmo se identifica ou se filia, estará sempre num segmento, numa das partes de um todo. Temos, pois, o conjunto e sua diversidade. E, talvez seja hoje mais evidente do que no passado  apercepção de que se faz parte de uma sociedade pluralista, sob todos os pontos de vista, e, com muitos matizes seja a nível de sonho e de realização, democrática. Ora, para muitos, isto é dizer o óbvio; para outros, talvez nem tanto, uma vez que o conceito de sociedade democrática, na interação do plural, envolve um processo de convivência, portanto, um dinamismo que a coloca em permanente estágio de construção. Mas, na percepção hodierna em que a sociedade e a vida como um todo aparecem mais pluralistas que no passado, levanta-se a pergunta pelo fundamento do edifício plural e democrático, fundamento que seria colocado a partir de um consenso básico. Nesta costura dos fundamentos da convivência a Igreja católica ou os católicos, em geral, também são chamados a participar. Esta participação significa oferecer sua contribuição, já que não é mais uma determinada igreja ou religião, nem mesmo simplesmente o fator religioso que determina o ethos social. Mas, é ainda a construção do próprio “ver”, de sua consciência, e da percepção da necessidade de se chegar a resultados que solidifiquem a convivência a partir de valores que sejam de consenso, que é ensaiada neste fascículo por Mário de França Miranda. Para isso, deve, sim, a Igreja católica cuidar e até cuidar mais da formação de seus quadros. “É preciso – como afirma o Autor –, que a hierarquia não só dê testemunho de sua fé e demonstre zelo pastoral, mas que também apresente um maior conhecimento da sociedade atual, de sua complexidade, de seus condicionamentos, das tensões nela presentes, para não se comportar de modo simplista, ingênuo, moralizante diante dos problemas que atingem nossos contemporâneos... e se refugie em aspectos externos do culto”.

    Prosseguindo o ensaio de compreensão da autoconsciência, Emerson Sena da Silveira, vê nas atuais manifestações do sagrado e no emergente paradigma ecológico o entrecruzamento das vertentes do racional e do romântico, ou seja, modulações diferentes de aspectos já manifestados no passado da história humana, da civilização ocidental ao menos, mas evidentemente sob novas modulações.

    Em meio à palavra humana, à sociologia e antropologia acima apontadas, Dom Filippo Santoro, comenta a Exortação Apostólica Pós-Sinodal A Palavra do Senhor e identifica e apresenta alguns de seus destaques. Sobressai a Tradição viva da Igreja, que é a dinâmica de encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, do qual decorre a tradição escrita, a Bíblia incluída.

    Olga Consuelo Vélez Caro, da Colômbia, e José Comblin, in memoriam, levam avante o “aquecimento” para, por ocasião dos 50 anos do início do Concílio Vaticano II, manter e fortalecer o desejo de reinventar suas inspirações.

    A Comunicação litúrgica é objeto do artigo de José Ariovaldo da Silva. Uma íntima relação entre o que se poderia assinalar como “vivência do mistério” e sua linguagem ou expressão é proposta como ideal.

    Por fim, na seção de artigos, Sílvio José Benelli, com relação a outros artigos seus, prossegue a análise e a avaliação dos seminários católicos enquanto instituições destinadas à formação sacerdotal. Uma pergunta subjaz: em seu conjunto, como instituição, o seminário católico alcança sua missão de ajudar o educando a fazer uma determinante experiência como Deus de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, a construir uma adequada interação com as pessoas de hoje? Que resultados são observados? Que resultados sonhar?

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Formação dos Presbíteros
    Vol. 71 No. 282 (2011)

    Uma das mais importantes preocupações e ocupações de toda e qualquer sociedade está relacionada à sua própria sobrevivência, vitalidade e desenvolvimento, aspectos estreitamente ligados aos respectivos dirigentes e à sua formação. Também na Igreja católica, um dos assuntos mais pertinentes diz respeito à particularidade de suas lideranças e à sua preparação, específica. Esta particularidade e especificidade, com os demais cristãos, conjugamo-las com pastoreio, referindo-nos à bela imagem daquele que disse de si mesmo: eu sou o bom pastor. Assim, os dirigentes são idealizados como pastores e com os pastoreados são chamados a constituir aquela sociedade que o Vaticano II tão sabiamente cunhou com a imagem de Povo de Deus. Então, idealmente falando, de quem preside se espera carisma e transpiração, ou seja, como resultante: santidade de vida. Com isso, espera-se também adequação e profetismo em relação a cada situação histórica e epocal.

    Neste fascículo são acentuados alguns aspectos relativos à formação do pastor do Povo de Deus. Assim, Leonardo Ulrich Steiner, um dos redatores das atuais e recentes Diretrizes da formação dos presbíteros da Igreja no Brasil, diz em que consiste o núcleo da formação dos presbíteros: na experiência do encontro pessoal com a pessoa de Jesus Cristo, encontro intimamente relacionado com o envio, com a dedicação total ao Povo de Deus, a todos e a toda criação. Então, certamente mais do que a técnicas e a sabedoria humana, este segredo está vinculado ao prestar ouvidos ao mistério de Jesus Cristo, do ser humano e da vida como um todo.

    José Lisboa Moreira de Oliveira situa-se no momento cultural que construímos e experienciamos, momento de mudança de paradigmas e de época. Ter consciência disso ajuda a valorizar e a escolher orientações pedagógicas na formação.

    Arlene Denise Bacarji traz à consideração uma delicada e espinhosa questão: clero e homossexualidade, ministérios e tendências afetivas. Com conhecimento sociológico e psicanalítico, evidentemente não associando homossexualidade e perversão, chama a atenção para esta última possibilidade, perguntando-se pelo que convém ao Povo de Deus.

    Sílvio José Benelli, partindo de conhecimentos de psicologia social, levanta o quadro institucional do seminário católico e pergunta pela “produção” de subjetividade eclesiástica (num segundo artigo, de certa forma dará continuidade e complementará a este). Ter conhecimento do fenômeno pode significar possibilidade de liberdade e de direcionamento ao essencial do pastor.

    Adicionando elementos para a formação das lideranças eclesiais e a discussão sobre ministérios, Antonio José de Almeida faz um minucioso percurso pelas fontes cristãs em busca do sentido e das expressões do diaconato, que se encontram na mística do servir.

    Já como parte do balanço do Vaticano II, aos 50 anos de sua abertura, Rodrigo Coppe Caldeira investiga a atuação de um dos pastores mais controvertidos – Dom Geraldo de Proença Sigaud –, bem como do Coetus Internationalis Patrum, do qual ele é um dos fundadores. O contraponto que D. Sigaud estabelece com a maioria conciliar não só nos proporciona uma achega a seu pensamento e ação, como também ao conjunto da Igreja e, mutatis mutandis, ao entendimento de sua diversidade, também ideológica, e de sua unidade essencial em torno do Bom Pastor. Frutuosa reflexão e ação!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Teologia: ciência de Deus
    Vol. 71 No. 281 (2011)

    Teologia (Theos + Logos)?! É razoável que a experiência cristã integre estes dois conceitos: Theos – Deus – e Logos – Palavra, Verbo, Discurso racionalmente organizado? Questão equacionada, dirão alguns! Pode-se considerar a Teologia uma ciência, uma vez que a fé, seu objeto, é uma confiança, um conhecimento subjetivo, uma opinião – perguntarão outros? Ou questionarão: trata-se apenas de uma especulação teórica ou de um assunto que envolve a totalidade da pessoa humana e que, portanto, tem implicações práticas? Enfim, são razoáveis os pilares da ponte?

    Estamos, sim, diante de questões pertinentes e sempre novas... Neste fascículo, algumas sugestivas reflexões. Muito brevemente:

    João Batista Libanio postula que o diálogo entre fé e razão, entre teologia e ciência presta ou prestaria um grande bem à humanidade. Ele retoma, assim, o ensinamento tradicional da Igreja católica, ainda recentemente reafirmado pelos papas João Paulo II e Bento XVI. E quão enriquecedor é ou seria o diálogo! Com efeito, sem dialogar com a ciência, a fé pode perder-se em fantasias, superstições, mitos, ritos exóticos, sagrado selvagem, visão ptolomaica do mundo; e sem dialogar com a teologia, a ciência pode perder-se em veredas que conduzem o ser humano à loucura, aos campos de extermínio, a fantasmagorias tecnológicas, a armas de destruição...

    Paulo Sérgio Lopes Gonçalves assegura que, por um lado, a teologia é sabedoria da fé, do amor, enquanto, como ouvinte, se põe à escuta do mistério inefável, absoluto e silencioso de Deus, que toma a iniciativa de se comunicar com o ser humano, e, por outro, ela pode, sim, ser creditada como ciência, porquanto o acesso do teólogo a seu objeto primeiro só é possível no e a partir do locus da realidade existencial humana. Portanto, ao lidar com dados da realidade humana, enquanto dados históricos e empíricos, também a teologia, como outras disciplinas, produz ciência.

    Francisco de Aquino Júnior caracteriza e especifica este locus da realidade humana como locus do anúncio e da atuação do amor. Sua característica e especificidade lhe vem da imagem de Reinado de Deus em dinâmica configuração histórica. Aqui está o objeto da teologia enquanto ciência!

    Por sua vez, João Mannes sonda, em são Boaventura, a possibilidade e a característica doconhecimentodeDeusporpartedoserhumano.Estapossibilidadesedápelocaminho da apreensão, em que o ser humano toma consciência e distância de seu próprio conhecimento, uma vez que se dá conta de que só constrói representações que, por sua natureza, sempre precisam ser ultrapassadas. Esta autocrítica culmina no encontro como Amor, que redunda em serviço incondicional a cada uma e a todas as pessoas, por amor a Deus. Portanto, teologia é atividade de Logos e é experiência de/com Theós!

    Por fim, em assuntos variados, primeiramente Johan Konings resume e elogia a Exortação Apostólica Verbum Domini, indicando sua importância na vida da Igreja; Cleiton José Senem recorda e traz à atualização dois momentos inseparáveis da Eucaristia: a vida e a própria celebração; e Ângelo Cardita propõe hermenêutica dinâmica e dialogante em liturgia, em todos os níveis. Vale a pena conferir!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Caritas in Veritate: ética e capital
    Vol. 70 No. 280 (2010)

    Hoje, na sociedade tecnológica, torna-se cada vez mais habitual dispor de grande volume de informação em tempo real. Quantidade, velocidade e alta rotatividade induzem a considerar a informação como mais um produto de consumo. Até a recente turbulência do capitalismo financeiro, evidenciada a da segunda metade de 2008, pode estar sujeita à voragem do esquecimento, apesar de sua origem e de seus desdobramentos complexos. Contudo, seria uma pena, se ela deixasse de ser objeto de reflexão. Mesmo que ela venha a ser superada, ainda caberia certamente a pergunta pela natureza do equacionamento, pela relação entre ética e capital que se restabelece, pelas perspectivas de futuro que se abrem para a humanidade. À semelhança de outras crises, esta ofereceu e pode continuar oferecendo preciosa oportunidade para se questionar a hegemonia do capital, a especulação financeira, o acúmulo de bens materiais. Ela oferece ocasião propícia para se repensar e reafirmar paradigmas fundamentais como o trabalho, a cooperação, a gratuidade, a justiça, o cuidado, a participação política, a ética. No intuito, pois, de pensar o sentido da atividade humana, a Igreja católica, através de Bento XVI, com a Encíclica Caritas in veritate, participa da busca e da proposição de caminhos socialmente saudáveis e ecológicos para o presente e o futuro bem-estar da humanidade, particularmente por quanto lhe advém da atividade produtiva e comercial. Ela contribui, também deste modo, para a afirmação da autonomia humana em relação à sua própria atividade e aos bens da criação, e aponta para o sentido último da existência. José Odelso Schneider e Élio Estanislau Gasda repropõem as razões da Encíclica Caritas in veritate. Vale conferir!

    Na mesma linha, Nicolau João Bakker e Antônio Aparecido Alves retomam, cada um a seu modo, a pertinência da relação entre fé e política na ação eclesial. Em contraposição a certa tendência intimista, os autores mantêm viva a necessidade da correlação ou da integração destes dois campos na ação evangelizadora da Igreja. Também aqui vale a pena refletir para agir de maneira sábia, distinta e integrante.

    Benedito Ferraro, por sua vez, evidencia a cristologia presente na Conferência de Aparecida: o cristianismo se refere a Jesus Cristo, proclama-o como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, como sentido da história humana, como Caminho, Verdade e Vida, como rosto humano de Deus e rosto divino do homem (Bento XVI – cf. DAp 392). Incentivar e provocar a tradução prática desta proclamação central da fé na realidade social da América Latina e do Caribe pelos discípulos e missionários de Jesus Cristo é o intuito do Autor.

    Retomando a apresentação de valores humanos e cristãos básicos a partir de Cristo, Marcal Maçaneiro, exalta a agir misericordioso como a característica humana e eclesial mais representativa e ideal, ganhando contornos de carisma, missão e testemunho.

    Por fim, Ernando Luiz Teixeira de Carvalho, focando um dos mais criativos, dedicados e inseridos padres da história do Brasil, o Padre Ibiapina, realça que ele buscou a participação de leigos em atividades de promoção social no Nordeste brasileiro e contou com ela. Um permanente incentivo ao protagonismo do Povo de Deus na promoção humana, contemplada a diversidade de seus membros e das conjunturas sociais!

    Que transpareça o binômio amor e verdade!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

  • Missão do Presbítero
    Vol. 70 No. 279 (2010)

    Oficialmente, o Ano Sacerdotal foi encerrado. Permanece, porém, seu objetivo: focar a pessoa e a missão do presbítero. Pois, presume-se e deseja-se que o impulso dado à reflexão e às celebrações por ocasião dos 150 anos da morte do são João Maria Vianney, o cura d’Ars, paradigma dos presbíteros e particularmente dos párocos, continue produzindo bons frutos de evangelização.

    Prosseguimos, pois, focando a missão específica do presbítero. Publicamos os textos de duas conferências proferidas no 13º Encontro Nacional de Presbíteros. No primeiro, Paulo Suess, se pergunta pela missão do presbítero no atual contexto cultural da sociedade humana, particularmente a ocidental. Não deveria ele – e, por extensão, todo o discípulo de Jesus Cristo – marcar diferença frente aos valores hegemônicos do consumo, da acumulação e da aceleração das necessidades? Esta diferença não deveria estar fundamentada na positividade da experiência do Deus-Amor, que se desdobraria, na pessoa do presbítero, em despojamento de peregrino, em gratuidade eucarística, em aprendizado junto a quem veio para servir? Não trariam, então, o modo de ser do presbítero e sua atividade a marca da encarnação, e não seriam sinais da evangelização? A atual paisagem cultural também é percorrida por Joel Portella Amado, que, assim, contextualiza a missão presbiteral e lhe confere a possibilidade de pertinênciahistórica. Confirma que esta paisagem cultural passa por uma transformação tal que já não pode ser caracterizada como uma época de mudanças, mas como uma mudança de época. Repercutindo no dia a dia do presbítero, este pode e deveria dar-se conta de que, em última análise, o que conta, nesta mudança de paradigmas, é a razão pela qual vive e dá a vida, ou seja, o testemunho pessoal. E, destas chamadas dos sinais dos tempos e da missão presbiteral brota uma interrogação: haveria uma maneira própria e ideal de o presbítero se preparar? Indicação pronta Sílvio José Benelli não a tem. Ressaltando, porém, dois modelos de presbítero no cenário eclesial de hoje, assinala alguns efeitos da educação recebida em alguns ambientes tradicionais de formação. E sobre estes tem-se, sim, controle!

    Perguntando-se pelo lugar do laicato na Igreja e desejando entender as perspectivas que as Conferências do Episcopado latino-americano e caribenho lhe traçou, Sávio Carlos Desan Scopinho se pergunta pelo papel que ele pode desempenhar ao longo da história do catolicismo na América Latina e no Caribe, distinguindo os períodos colonial e o da formação dos estados nacionais, até meados do século passado.

    Da percepção mais cotidiana do corpo como matéria, Sinivaldo Silva Tavares pergunta-se pela relação entre corpo e corporeidade, entre matéria e materialidade. Desvenda, então, a total gratuidade do existir e, portanto, sugere atitudes de admiração, acolhida e agradecimento/retribuição.

    Nilo Agostini traz os resultados de um seminário por ele orientado em que o objeto das considerações versava sobre a relação entre o poder do ser humano, manifestado hoje no campo da biotecnologia, e o que ele chama de “princípio de humanidade”. No exercício de seu poder, o ser humano conserva e/ou aumenta a possibilidade de se interrogar e, portanto, de também questionar sua relação com os demais seres humanos e com toda a criação?

    Por fim, discernimento teológico para marcar diferença e relação entre fé e participação política, entre dimensão religiosa e dimensão social. Tarefa nem sempre fácil; no entanto, possível e necessária. Aqui, a oportunidade de se buscar este discernimento com Francisco de Aquino Júnior!

    Elói Dionísio Piva ofm

    Redator

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