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CEBs: IX Intereclesial
V. 57 N. 228 (1997)Eclesiologia é o assunto. A forma de abordagem não é de acento teórico ou acadêmico. E, antes, narrativo, memorial, avaliativo. Com efeito, não se trata da elaboração de temas ou leses. Trata-se da articulação de uma experiência. Uma experiência de encontro. Um encontro que se reporta a uma identidade, ao mesmo tempo celebrada e buscada. Uma identidade que, em primeira e última instância, se reporta à experiência e à convocação de Deus, uno e trino. E a experiência da fonte constitutiva de Igreja, de comunidade reunida na fé, na esperança e no amor. Portanto, é experiência partilhada e ouvida, celebrada e buscada, avaliada e vislumbrada em seu devir. É experiência vivida na história, num determinado espaço temporal, geográfico e social. Portanto e evidentemente, não se trata da experiência de toda a Igreja, mesmo tomada em qualquer um dos níveis: setorial, local ou universal ou num determinado tempo. No entanto, trata-se de uma experiência de Igreja.
A narração, o memorial ou a avaliação a que nos referimos se reporta ao IX intereclesial de CEBs, realizado no mês de julho deste ano em São Luís do Maranhão. Embora partindo deste evento e a ele se remetendo, os ensaios apresentados alcançam questões eclesiais de atualidade. Estes ensaios provêm de pessoas relacionadas não só e em geral às CEBs, mas especificamente à preparação e à celebração do Encontro de São Luís. São elas: Pe. João Batista Libânio, Pe. Benedito Ferraro, Pe. Adriano Sella. Frei Carlos Mesters, Pe. Antônio Aparecido da Silva, Pe. Heitor Frisotti, Dom José Maria Pires, Lúcia Ribeiro, Pastor Cláudio de Oliveira Ribeiro, Pastor Jether Pereira Ramalho, Pe. José Marins e Pe. Massimo Leorato. Outras contribuições afins são devidas a Frei Antônio Moser, a Dom Boaventura Kloppenburg, a Dom Valfredo Tepe e a Frei Nilo Agostini.
Como não poderia deixar de ser, são narrações ou reflexões post factum. São memória, são avaliação, são perspectivas. Trabalham a identidade eclesial, especificamente a partir da caminhada das comunidades eclesiais. Cultivar a memória do encontro, da atuação em diferentes circunstâncias sociais e culturais faz parte do cultivo da identidade eclesial. O cultivo da memória é também uma avaliação dos acertos e desacertos, é ação de graças pela comunhão na mesma esperança e na mesma caridade, expressas numa renovada e diversificada riqueza cultural. Enfim e principalmente, cultivar a memória de 30 anos de percurso revela uma atitude de escuta e disponibilidade àquilo que hoje o Espírito diz à Igreja. É disponibilidade de ouvir os sinais dos tempos e a convocação da Palavra de Deus, marco referencial de todo o processo. Esta prontidão, amparada pela identidade eclesial - una, santa, católica e apostólica -, é predisposição dialogai entre linguagem das comunidades de base e linguagem das massas, entre CEBs e movimentos, entre comunidades eclesiais e pluralismo religioso. E generosa e corajosa predisposição para perceber e acudir às necessidades eclesiais, na atitude de seguidores do Pastor e Guia de nossas almas.
Que as comunidades possam sugerir em seu dia-a-dia a imagem d’Aquele que as constitui: o Deus Uno e Trino, o Deus-comunhão, o Deus Criador e Salvador, o Deus-amor.
Elói Dionísio Piva, ofm
Redador
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Evangelização no Brasil
V. 57 N. 227 (1997)Os que se associam e se congregam em nome de Jesus Cristo o fazem em razão do Evangelho por Ele anunciado, ou seja, por Ele mesmo. Consequentemente, colocam-se como ideal: celebrar, viver e difundir esta Boa Notícia que, por sua vez, em ordem de precedência, cede lugar à Criação. Por isso, é obvio que o evangelizador leve em conta a criatura, particularmente a humana, pois que esta traz a marca do Artista e Ele mesmo a ela se associa intimamente. E se associa a esta criatura humana em sua condição histórica, objetivamente situada. Isto significa dizer: enquanto ela se entende como parte objetiva e criativa de um determinado sistema cultural, parte integradora e criadora de um dinâmico tecido de relações pessoais. Por isso, levá-la em conta na evangelização significa, entre outras e em termos ideais, reconhecimento e respeito à alteridade e liberdade humanas. Significa disposição ao diálogo e à gratuidade, bem como percepção de transcendência. Significa sincera busca de adequação com o Autor e Avalista de toda a Evangelização. Em decorrência, a Evangelização é a dinâmica de um processo sempre novo e antigo que possibilita comunhão e aprendizado permanentes. Com efeito, José de Anchieta, um dos primeiros e mais devotados evangelizadores do Brasil, passados 400 anos de sua morte, tanto desperta admiração como oferece a possibilidade de lhe apresentarmos, em tempos de nova evangelização, algumas de nossas questões. O estudo de Paulo Suess nos ajuda a fazer esta aproximação.
O anúncio da salvação tem como destino irromper de maneira jubilosa e/ou crítica no universo humano. Por isso ele suscita a percepção de desafios de toda ordem. Por exemplo: o arranjo neoliberal, hoje triunfante, parece possuir telhado de vidro. Ao mesmo tempo em que festeja significativos resultados apresenta uma salgada conta. Ora, neste contexto, que exigências acarreta o seguimento de Jesus Cristo? E possível identificar se os cristãos, alguns ao menos, fazem as vezes do sal e da luz, ou seja, se eles são consciência crítica? Se não o são, com certeza, são chamados a sê-lo. José Maria Vigil representa um incentivo para este discernimento e um convite para o seguimento de Jesus Cristo nos dias de hoje e na América Latina.
É possível manter educandários para pessoas carentes? Em caso afirmativo, com que ônus e com que resultados? Independentemente das respostas, com certeza, trata-se de um empreendimento espinhoso. Se assim o é hoje, não foi diferente no passado. O estudo de Herman Vos, relativo à iniciativa dos jesuítas em nossa primeira evangelização, o demonstra. O dilema que eles viveram entre economia e moral só mudou hoje de feição. Interrogações permanecem, o que, aliás, não deixa de ser um bom sinal!...
O intercâmbio de bens, objetivando elevar o padrão de vida, o grau de comunhão e de enriquecimento do espírito humano, está longe de ser ideal. Exploração, dependência e injustiça estão escancaradas. A qualidade das relações humanas são afligidas, cm nível local e mundial. Se o perdão de dívidas externas (na relação entre países), por ocasião da virada do milênio, é desejável, um salto qualitativo em termos de corresponsabilidade é sonhado. Enquanto isso, como a dívida dos países endividados repercute entre suas respectivas populações? Que nível de consciência manifestam elas em relação à dependência, ao endividamento e às sequelas do empobrecimento? A pesquisa de João Henrique Van de Ven, levada a efeito entre membros de Comunidades de Base da Baixada Fluminense, nos oferece uma amostra.
Finalmente, como imaginamos a Igreja ideal? Segundo o modelo do Corpo Místico, do Povo de Deus, da Esposa? De qualquer forma, modelo de Igreja e pertinência histórica da evangelização convergem. Onde estamos e por quê? Confira com Bárbara Pataro Bucker.
Elói Dionísio Piva, ofm
Redator
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Jesus, obstáculo ao diálogo?
V. 57 N. 226 (1997)Parafraseando o dito de Jesus sobre o escriba instruído nas coisas de Deus, poder-se-ia dizer que todo cristão que ouve a voz do Espírito Santo é como uma mãe ou um pai de família que retira do tesouro de sua experiência e criatividade coisas novas e velhas. O que queremos dizer com isso? Queremos aludir ao fenômeno da “leitura” do mistério de Deus. Toda pessoa humana - segundo sua cultura pessoal, segundo a cultura ambiente e ainda segundo o estágio em que esta cultura se encontra - tem um modo próprio de compreender a vida. Deste modo manifesta-se uma extrema variedade de percepções do mistério de Deus que, à primeira vista, pode parecer um caos. No entanto, a partir da ob-audiência (obediência) ou da contemplação ou de um sábio agir, trata-se de manifestações de uma mesma unidade, de um mesmo e inefável mistério. Para os cristãos este Inefável, senhor da História, se tornou e se torna Palavra, se re-velou e se re-vela em Jesus Cristo. Então, o desafio para uma convivência pacífica da família humana consiste em encontrar caminhos de entendimento e comunhão entre as diferentes identidades religioso-culturais. Mário de França Miranda - neste ano de 97, o primeiro na pedagogia litúrgica rumo ao terceiro milênio, em que se destaca a pessoa de Jesus Cristo - nos brinda com um excelente ensaio justamente sobre Jesus Cristo, luz das culturas. Para além do pluralismo cristão, o Autor busca, sem concordismos, caminhos de comunhão inter-religiosa, o que nos faz lembrar a iniciativa de João Paulo II, em 1986, de promover em Assis a Jornada Mundial de Oração pela Paz. Em outras palavras e sem fundamentalismo ou triunfalismo, trata-se de entender e atualizar com honestidade a catolicidade da Igreja, uma vez que o Espírito sopra onde, quando e como quer.
Duas pertinentes colocações sobre economia, ética e teologia nos põem ao par dos atuais desafios da humanidade e, particularmente, dos cristãos. A linguagem da economia nos coloca em contato com as condições da sobrevivência: alimento, casa, vestuário, corpo, dinheiro, trabalho; nos fala da experiência de abundância e acúmulo, de limitações e carências: nos fala de sonhos e desilusões, de vida e de morte, de amor e de ódio. de endeusamentos e de exclusões. O esforço para “organizar” e dominar a terra com felicidade significa estabelecer gradualidade de valores, como, p. ex.: todos os bens estão a serviço da pessoa humana e não o contrário; por sua vez, a pessoa está para o Deus verdadeiro, não em função de falsos deuses. A Hugo Assniann e Jung Mo Sung agradecemos a partilha da leitura crítica de nossa realidade econômica a partir do ocular ético e da fé.
Entre as ciências humanas, hoje em dia destaca-se ainda a biologia. A aplicação de suas descobertas no reino vegetal, animal e até humano são óbvias e prometem ser maiores. Diante das possibilidades da manipulação genética e de suas inerentes implicações éticas, levantam-se esperanças e perplexidades. Estas esperanças e perplexidades evocam o tom dos profetas que anunciam boas notícias e denunciam desmandos. Confira o ensaio de Hubert Lepargneur que acompanha os avanços das ciências biológicas com o amor, a esperança e o carinho de quem sonha em promover ou mesmo em salvaguardar a vida.
Do discernimento cristão em relação às ciências econômicas e biológicas, passamos à consideração de outra dimensão, própria dos discípulos de Jesus: a do envio para evangelizar. Talvez nos ocorra a pergunta: “a quem evangelizar?” Leia então o que Jaldemir Vitorio relata sobre esta problemática em Mateus, e como ele identifica os destinatários do Kerygma.
Finalmente, Você pode dispor de uma síntese entre a função pessoal e social da propriedade privada e o ensino social da Igreja, feita por Luigi Perugini. O assunto é re-tirado do tesouro no momento em que no Brasil vem à tona um dos desafios mais graves de nossa história: a partilha da terra.
Elói Dionísio Piva, OFM
Redator
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RCC e CEBs
V. 57 N. 225 (1997)“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,13). Ora, como este anúncio acontece em roupagens culturais e como as culturas se encontram em constante evolução, os seguidores do Deus que em Jesus Cristo se encarnou são convidados a prestar ouvidos, sempre de novo, tanto aos apelos dos tempos e dos lugares como à voz do Mestre. Sintonizar-se com os sinais dos tempos é uma prova de amor ao Mestre, às pessoas e a si próprios. Um dos sinais da autenticidade do testemunho de Jesus Cristo é justamente esta busca de sintonia com os sinais dos tempos, não evidentemente num sentido concordista, mas sim, para adequar a forma ou a linguagem do anúncio da Boa-Nova. Estar atentos ao que acontece, ao que surge de novo também é um sinal de amor ao próximo e de fidelidade à Tradição da Igreja.
Neste sentido, Jorge Atílio Silva Iulianelli apresenta um quadro comparativo entre a RCC e as CEBs. Ambas são expressões na e da Igreja de hoje. Ora, identificar as diferenças e as semelhanças significa um esforço para situar-se ou re-situar-se na Igreja e no mundo, buscando a verdade na prática da caridade e no exercício da convivência com variadas formas de expressão da ré em Jesus Cristo.
Ari Pedro Oro, ampliando a observação do fenômeno religioso para além da Igreja institucional, identifica algumas formas modernas em que se manifesta a busca de Deus. Elas emergem do pano de fundo do momento histórico que a humanidade vive, repercutem na Igreja, quando não nascem em seu próprio seio, e colocam novas questões para a identidade cristã.
Ampliando o horizonte abordado por Iulianelli e situando-se na perspectiva do 9o Intereclesial de CEBs programado para acontecer no próximo mês de julho em São Luís do Maranhão, Dom Alfonso Felippe Gregory e Nicolau João Bakker apresentam uma contribuição ao debate preparatório do encontro, considerando o primeiro a relação entre CEBs em contexto urbano e rural; e o segundo, dentro do novo quadro sócio-eclesial de hoje, pergunta pelas causas da “estação da seca” das CEBs. Evidentemente, a busca das causas de algum fenômeno ajuda a Igreja a se situar melhor no contexto em que vive.
Levantando o olhar para a Igreja na América, é preciso não perder de vista o convite feito por João Paulo II para um sínodo especial dos bispos da mesma América. Os trabalhos para tal fim estão em andamento. Os Lineamenta foram elaborados e representam um primeiro passo na preparação temática para que a esperança que alimenta o encontro se concretize em resultados práticos que levem em consideração a herança da Igreja neste Continente e o sentido de comunhão com toda a Igreja. São um convite à participação. Portanto, cada batizado, por si ou coletivamente, é convidado a participar, respondendo ao questionário dos Lineamenta ou apresentando suas próprias sugestões. O bispo de sua diocese ou a conferência episcopal de seu país têm prazo até o mês de abril deste ano para encaminhar sugestões para elaboração do Instrumento de Trabalho deste encontro que ainda não tem data definida. Para nossa informação e uma primeira troca de pareceres veja-se o balanço dos Lineamenta, apresentado por José Oscar Beozzo.
Ao volver, mais uma vez, o olhar para além dos limites da Igreja e para o aspecto sócio-econômico de nosso Continente ou mesmo do mundo, não há como negar a permanência e até mesmo, em certos aspectos, a recrudescência deste apelo que vem de situações de miséria e pobreza: “tive fome...” A erradicação destes males continua sendo uma obra de misericórdia, um sinal profético esperado principalmente dos cristãos. Veja o que diz José Maria Vigil a respeito.
Um balanço da TdL aos 25 anos - por que não? Valorizando adequadamente o passado, temos melhores condições de bem situar-nos no momento presente, de melhor entender nossa missão de testemunhar o amor de Deus Pai por nós. Veja o que José Ramos Regidor nos tem a lembrar ou a informar sobre isso.
Elói Dionísio Piva, OFM
Redator
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Globalização
V. 56 N. 224 (1996)De ano em ano, nos propomos um tempo forte para contemplação e celebração da encarnação do Senhor. “Deus amou tanto o mundo...” (Jo 3,16). Expõe-se à acolhida e à rejeição. História de vida, história de morte!
Deste “mundo” por Deus amado, ressaltamos o pensar e o agir de toda pessoa humana. Evidenciamos seu aspecto de linguagem, de verbalização de sentido, de cultura. Cada ser humano é que é fonte criativa de cultura, interagindo com todos os seres. Cada pessoa humana é “mundo” e é criadora deste “mundo”. “Mundo” dinâmico, criativo! Lugar de experiência da vida e da morte, da santidade e da maldição.
A Igreja tem consciência de ser enviada a testemunhar e a anunciar a Boa-Nova de Jesus Cristo, levando em conta este “mundo” ou, em outros termos, os “sinais dos tempos”.
De nossos tempos, quais são os sinais? Que “mundo” criamos e em que mundo participamos? Qual a sua linguagem? Quais os desafios que apresenta àqueles que testemunham o Amor do Pai?
A globalização, além de ser uma ficção, é um fenômeno histórico. Além de confirmá-lo, Herman Vos elucida alguns pressupostos propulsores - físicos e ideológicos - deste mundo novo. Obviamente, a constante e rápida mudança deste “mundo” traz consequências inevitáveis, provoca interrogações e apresenta desafios.
Um destes desafios, no campo sócio-econômico, é estabelecido pelas possibilidades de trabalho. Se novas são criadas, muitas são extintas, criando e alimentando o fantasma do desemprego, da exclusão. Neste contexto, a interpelação que se nos apresenta é a da criatividade na criação de novos postos de trabalho e a do efetivo espírito de solidariedade, tanto na produção como na partilha dos bens. Jacques Vervier é que mantém a generosa chama desta interpelação.
A partir deste mundo novo, quais as perspectivas que poderiam nortear a organização da ação evangelizadora da Igreja? O “mundo” da globalização, da qualidade total, da mobilidade, da racionalização, da exclusão, da subjetividade, da autonomia, da privatização são pessoas às quais também nós, de uma forma ou de outra, estamos associados. Ora, é este mundo que é nosso interlocutor. Que formas de anúncio e ação nos sugere? O que nos convém? A sugestão de resposta quem a adianta generosamente é Paulo Suess.
A CNBB propôs para a Igreja no Brasil, até 1998, um conjunto de Diretrizes para a Ação Evangelizadora. Jesus Cristo, razão desta Ação e de acordo com a tradição de nosso povo católico, é representado prioritariamente como o Senhor Bom Jesus, como o Bom Pastor. Exemplo e inspiração de relacionamento pessoal com cada pessoa humana. Oportuna evocação! O ensaio é um testemunho de amor pela Igreja em nosso país que Frei Bernardo Cansi nos deixa. Com gratidão, esta revista presta saudosa homenagem à sua memória.
Enfim, José Comblin, continuando a conversa sobre cultura e inculturação da Boa-Nova de Jesus Cristo, recolhe a experiência do passado e, situando-se nas perspectivas atuais, sugere o seguinte: A novidade da contribuição da Igreja se coloca na origem de toda articulação histórica; mas esta novidade deveria ser compartilhada com cada ser humano em atitude de diálogo, diálogo que, por sua vez, se situa no âmbito da liberdade, da criatividade e da provisoriedade de toda forma de cultura humana.
Elói Dionísio Piva
Redator
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Mãe-Maria
V. 56 N. 223 (1996)Para muitos, estamos cm tempos pós-modernos. Para outros, cm tempos de modernidade. Para outros mais, certamente esta diferenciação é irrelevante, uma vez que muitos elementos da modernidade ou da pós-modernidade se integram entre si ou até retomam aspectos de outras definições culturais. Seja como for, certamente podemos entender que sonhos e ideais geram linguagem cultural e que, por sua vez, a linguagem cultural os explicita. Com efeito, há certamente acordo em se considerar que o ser humano, existencialmente condicionado, é um permanente c criativo laboratório de utopias. Assim, carente e sonhador, convive em constante crepúsculo e aurora de paradigmas. Quando da racionalidade se embota a auréola, do ser humano se conclui que não é só e prevalentemente racionalidade. Toda vez que o simbolismo afetivo é empalidecido, há claros indícios de que a emoção e a afetividade não conseguem expressar satisfatoriamente toda a sua riqueza. Assim, talvez possamos nos comparar a saudosos ou esperançosos migrantes de equilíbrio e de plenitude. Se a carência e a morte nos seduzem, a vida e o amor nos encantam. E a linguagem realista e esperançosa da fé no Senhor da história.
Neste fascículo, a veste da Boa-Nova se apresenta com novas e velhas cores. Questionam-se paradigmas, recriam-se outros, busca-se o Cristo no paradigma dos mais diferentes rostos humanos.
O Irmão Afonso Murad repropõe a linguagem simbólica do amor materno, aproximando-a à simbologia de Maria como Mãe.
Pe. José Lisboa Moreira de Oliveira, a partir do fenômeno das “aparições” de Nossa Senhora, registrado um pouco por toda parte, nos ajuda a sondar seu significado: o contexto social condicionante, a presença de sutis manipulações, o desejo e a velada proposta de um mundo novo.
Dom Valfredo Tepe, com sua experiência de atento e zeloso pastor, redescobre e reapresenta a riqueza simbólica da linguagem do coração em tempos de informática, de globalização e de exclusão social.
Frei Marcos Antônio de Almeida ocupa-se de devoções populares nos últimos tempos da Bahia (Salvador) colonial para nos dizer como é que franciscanos e devotos se “entendiam” a respeito da morte e da função dos santos.
Se as populações afro-americanas não têm dificuldade de acolher Jesus Cristo como luz e libertação, é possível constatar e compreender este fato? Confira com Pe. Antônio Aparecido da Silva.
Inculturação: constante proposta nos meios eclesiais de hoje! Talvez caiba a corajosa e pertinente pergunta: estaria a inculturação sendo transformada em fim, negando-se o fermento libertador do Evangelho? José Comblin conversa conosco a respeito.
Elói Dionísio Piva, ofm
Redator
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Pessoa, novo paradigma
V. 56 N. 222 (1996)A cada dia que passa as novas gerações descobrem maneiras inéditas de experimentar e de expressar a vida. Também as gerações mais calejadas, entre tristezas e alegrias, redescobrem novos e variados modos de aludir ao que não se alcança dizer com adequação. A penosidade e a ventura desta situação fazem sonhar com o livre vôo da plenitude da vida e perguntar: “quem és?”, “onde estás?”, “até quando?” E, pois, na materialidade da história que se interroga, é com esta materialidade que se exclama e é em comunhão com esta mesma materialidade que se sonha. Não raro, porém, na ilusão da felicidade ensaiam-se tentativas de eximir-se dos apelos da história. Situação de risco, conflitiva! Mas é na carnalidade deste contexto existencial que a Encarnação do Senhor, crucificado e ressuscitado, desafia e encanta.
A acolhida deste mistério, na liberdade do amor, acontece, pois, na materialidade de todas as coisas. No limite das definições concretas da vida encontra-se a liberdade do humor, do lúdico, da plenitude do ser humano. Quantas pessoas, de maneira concreta, epidérmica, lutam pela sobrevivência, pelo dia-a-dia da vida! Experimentam o pão das lágrimas e, no entanto, têm coragem, alegria e esperança em tudo o que fazem.
O convite para assumir, contínua e amorosamente, a história humana, é sempre criativo. Encanta e intriga. E que o enigma da pessoa humana nunca se esgota, seja na compreensão que dela se tem, seja no discurso que expressa esta compreensão. O fascínio e a interrogação, propriedades da própria pessoa humana, sempre podem redescobrir novas facetas, repletas de consequências práticas. Leia o artigo de Alfonso Garcia Rubio a respeito.
Estamos hoje diante de novos horizontes de compreensão humana e que expressam a busca e a experiência de Deus de maneira igualmente nova. Como, porém, avaliar experiência e linguagem, relacionando-as com tentativas semelhantes, feitas no pas¬sado? Luiz Carlos Susin vai ajudá-lo/a neste discernimento.
Em que condições e perspectivas se procura hoje o pão-nosso-de-cada-dia? Continue verificando isto com Franz J. Hinkelammert.
Amparados pela ascensão social da mulher, novos acentos teológicos são coloca-dos e uma nova linguagem os expressa. Confira isto com Maria Clara Lucchetti Bingemer.
Quais são as coordenadas históricas da mensagem da Mãe Aparecida? Converse com Ivanir Antônio Rodighero para recordar.
Enfim, se, por um lado o convite é para abraçar a história onde acontece a vida, por outro, o mesmo convite é também para se viver de outros horizontes que não o da história... Acompanhe com Waldemar Valle Martins o que Agostinho tem a dizer a propósito.
Elói Dionísio Piva, ofm
Redator
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Encontro Cristianismo-Candomblé
V. 56 N. 221 (1996)Graças ao avanço científico e técnico, percebemos com certa facilidade o pluralismo da vida humana. Também a experiência do divino e sua expressão cultural são percebidas como plurais. Consequentemente, viver é arte de conviver na pluralidade. Como ideal de convivência figuram o reconhecimento teórico e prático do interlocutor como autonomia positiva. Evidencia-se o sonho da superação de atitudes exclusivistas, inclusivistas ou dominadoras. Em contrapartida e como pré-requisito para o diálogo, requer-se, porém, identidade religiosa. Pressupõe-se busca das razões da Fé e simpática acolhida da alteridade humano-religiosa. No intuito de contribuir para o diálogo inter-religioso no Brasil, o jovem teólogo Volney Berkenbrock se pergunta pelas bases teológicas que amparam, do ponto de vista cristão, o diálogo com o Candomblé. Pressuposta a formação sócio-religiosa do país, não resta dúvida que a temática é de muito interesse.
Também a paz e a justiça social não deixam de ser uma profunda aspiração da sociedade. Como, porém, concretizá-las? Além do próprio sonho, que pressupostos são requeridos para uma ação política eficaz? Luiz Demétrio Valentini Augusto de Franco nos oferecem bons subsídios para esta interrogação.
E a sobrevivência? Uma das grandes (pre)ocupações da sociedade humana! Em seu favor instauram-se sistemas de produção e de comercialização, incrementando a troca de bens. A vida, essencialmente partilha de um dom divino, deve ser assegurada. Por isso, nenhum sistema econômico poderá ser absolutizado, se antes não responder afirmativamente pela demanda da partilha, da inclusão de todos, da qualidade de vida para todos. Franz J. Hinkelammert e Luiz Demétrio Valentini analisam o atual sistema econômico. Em que situação nos encontramos?
Do mesmo modo, nenhum sistema teológico ou pastoral pode pretender exaurir, na teoria e na prática, a experiência religiosa. Por isso, a importância da contribuição do jovem historiador e teólogo Marco Dal Corso. Ele indica realizações e limites da prática teológico-pastoral daquela que, emblematicamente, identifica como “Igreja da denúncia”. Uma serena e corajosa autocrítica possibilita caminho cultural, abertura de novos paradigmas e reverente atitude diante do mistério da vida.
De modo semelhante, a própria administração da Igreja, em qualquer nível, embora conte com a assistência do Espírito Santo, deverá sempre exercitar-se no ouvir o mesmo Espírito, porque este sopra quando, onde e como quer. Neste sentido, se colocam a análise da atual conjuntura eclesial de Clodovis Boff, a avaliação da orientação da CNBB a respeito da RCC de Ari Luís do Vale Ribeiro e as sugestões de Alberto Moreira em favor da produção teológica no Brasil.
E que dizer do sonho de debelar as doenças hereditárias, ou, ao menos, muitas delas? Há dez anos trabalha-se num arrojado projeto da decifragem do genoma humano com esta finalidade. Confira, com Hubert Lepargneur, quais são as atuais perspectivas.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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Um evangelho muitas culturas
V. 55 N. 220 (1995)Ao que parece, a família humana vai clareando a consciência de se constituir à semelhança de um tradicional, dinâmico, multicolorido e matizado mosaico cultural. Por isso, o reconhecimento da diversidade se impõe como expressão de reverência à dignidade humana, como condição e possibilidade de convivência enriquecedora. A busca e a celebração da Verdade última a respeito da pessoa humana passa por esta multifacética mediação cultural. Também o anúncio cristão da Vida acontece neste mosaico cultural. Incultura-se na proporção em que o anunciante reconhece a dignidade humana, mantém o compromisso com a Verdade, celebra c busca a plenitude da Vida.
Neste contexto plural, com Marcelo Azevedo somos convidados a proclamar a Boa-Nova de Jesus Cristo, glorificado na pluralidade cultural da família humana e crucificado em todas as formas ou tentativas de reducionismo e exclusivismo.
Com Alberto Beckhäuser somos convidados, como Igreja, ao constante re-enamoramento do Criador, revelado em Jesus Cristo. Através da oração somos reconduzidos ao berço originante de toda cultura e, por isso, re-encontramos a dimensão de catolicidade. A “Liturgia das Horas”, em sua nova forma e em seu novo instrumental, oferece uma riqueza de possibilidades para este itinerário.
Com Armando Dias Mendes estendemos o horizonte do convívio com Deus, a todas as criaturas, irmanando-nos, a exemplo de São Francisco, no mútuo serviço, na mútua congratulação, na celebração da Vida. O horizonte da simpatia com todas as criaturas ilumina o caminho do desenvolvimento humano.
Com Jung Mo Sung sonhamos com o Deus da vida, através de justa e equitativa participação na produção e distribuição dos bens da terra, em contraste com a ganância e o desamor que produzem exclusão e morte.
Com Odilão Moura evocamos a memória e a contribuição religioso-cultural do padre Penido, por ocasião do centenário de seu nascimento.
Finalmente, com José Antônio Trasferetti rememoramos a figura humana e a atuação política de Vaclav Havel. “A Vida na Verdade” é seu lema, o que nos permite abrir uma janela para a CF/96, cujo tema central é “Fraternidade e Política”, e o lema, “Justiça e paz se abraçarão”.
Elói Dionísio Piva, OFM
Redator
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Protagonismo leigo
V. 55 N. 219 (1995)Evangelizada, evangeliza! Eis a razão de ser da Igreja. Proclamar Aquele que, com amor eterno, a amou primeiro, constitui-se na identidade que a define. Por isso, não pode deixar de anunciar a Jesus Cristo, portador da plenitude da Vida e, portanto, Libertador do pecado. Não se cansará de celebrá-lo e de convidar todos os seres para este louvor. Não se cansará de buscar meios eficazes, no Espírito Santo, para que o Seu Reino se manifeste, renovando a face da terra.
É justamente em função desta missão que os batizados, constituídos em Povo de Deus, nos entendemos como um povo ministerial. Evangelizar: eis o ministério – glória do Senhor, porque promotor da dignidade humana.
Contudo, organizar este serviço e adequá-lo sempre de novo às variáveis circunstâncias histórico-culturais dos tempos e dos lugares é um dos desafios permanentes, manifestado em Planos de Evangelização, em Congressos Missionários.
É em função disto e fundamentado em recentes pronunciamentos da Igreja Universal e Latino-Americana, que Dom Aloísio Lorscheider, embora em forma quase embrionária, propõe a criação de uma conferencia nacional de cristãos leigos, como uma forma de, em comunhão eclesial, incrementar a missão evangelizadora da Igreja e de fortalecer a tarefa específica dos leigos no plurifacetário mundo de hoje.
Paulo Suess reevoca a figura de São Francisco, modelo de evangelizador. Como irmão menor, como irmão universal, como cantor da bondade do Criador em toda criatura, ele é uma brilhante e permanente luz também para o evangelizador de hoje.
E a religiosidade popular: continua sendo um veículo de evangelização para hoje? Observando-a através da devoção antoniana, Ildefonso Silveira mostra seu valor, caracterizado sobretudo por seu aspecto imediato, concreto, plástico, epidérmico, sensível de sua manifestação; pouco afeita a erudições intelectuais, provoca os intelectuais da fé por sua autenticidade.
Inegavelmente, a cultura urbana é um qualificativo da modernidade. Como se caracteriza? Quais as chances e os desafios que a cidade apresenta aos cristãos? Estas e outras perguntas, mais ou menos conscientes, estão hoje nos lábios de não poucos cristãos. Pedro Carlos Cipolini traz uma importante contribuição no debate para a inculturação urbana da evangelização.
Sendo o cotidiano da história humana marcado também por situações de conflito e até de violência, oportunamente Alfredo Bosi nos recorda o empenho de Domingos Barbé, para elucidar este aspecto desafiador, em vista de uma evangelização madura, que tem no Crucificado e Ressuscitado Aquele que assume em toda sua profundidade a história humana.
Nos diferentes contextos sócio-culturais de hoje e na velocidade da sua mudança, ontem, hoje e sempre, Jesus Cristo é o Evangelho do Pai. Importa, pois, aprender dele e com ele percorrer o caminho do serviço evangelizador. E o que nos lembra Antônio Alves de Melo.
Elói Dionísio Piva, ofm
Redator
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"Evangelho da Vida"
V. 55 N. 218 (1995)“Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, até os confins da terra” (At 1,8). Uma vocação a ser atualizada nas mais diferentes situações e culturas. Anunciar o Evangelho da Vida, sendo luz e sal no exercício de um sadio pluralismo.
Com efeito, hino de louvor à vida humana, vigoroso grito em sua defesa, encarecido convite em favor de sua promoção é a “Evangelium vitae”, a undécima carta encíclica de João Paulo II. Num esforço de síntese, Frei Antônio Moser reapresenta seu conteúdo, indica em que consiste sua novidade e aponta suas coordenadas fundamentais.
Conjugando anúncio e diálogo, Faustino Teixeira resume e comenta dois recentes documentos do Magistério Eclesial na área da evangelização: a carta encíclica Redemptoris Missio de João Paulo II (1990) e o documento Diálogo e Anúncio do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso (1991). Tanto a explicitação e a divulgação do conteúdo dos dois documentos, como o comentário de F. Teixeira, vêm em hora oportuna: às vésperas do V COMLA (Congresso Missionário Latino-Americano) em julho na capital mineira.
No atual contexto sócio-religioso brasileiro, a evangelização encontra interlocutores com muitos rostos diferentes. Neste quadro de pluralismo religioso e no ideal de diálogo e máxima estima, Mário de França Miranda vê a chance de redescobrir ou recriar referenciais católicos, particularmente a partir da experiência salvífica, mola propulsora da evangelização.
No horizonte do atual pluralismo religioso-cultural um conjunto de proposi¬ções denominado “Nova Era” aparece com certa insistência. De que se trata? De uma nebulosa de contornos pouco definidos e de fraco apelo histórico-social? De um novo patamar cultural? Em todos os casos, no esforço de “examinar tudo e ficar com o que é bom” (1Ts 5,21), Vítor Galdino Feller relaciona Nova Era e Fé Cristã. Um esforço esclarecedor, pois a atitude de diálogo intercultural, do ponto de vista da fé, nos pode ajudar tanto no reconhecimento das sementes do Verbo quanto no estabelecimento das devidas distinções.
Finalmente, o diálogo intra-eclesial. Na interação de diferentes movimentos e agremiações se concretiza um processo de evangelização “ad intra”. Acercando-se da RCC como de um movimento que se instaura a partir de uma experiência religiosa, Francisco Cartaxo Rolim procura realçar alguns aspectos, mais ou menos luminosos, que a distinguem. Este ensaio, como os demais, faz parte da busca das razões da fé e de sua relação com a própria cultura ou com as demais; faz parte da edificação do Povo de Deus como um todo.
Elói Dionísio Piva, OFM
Redator
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Sínodo/94: Vida Consagrada
V. 55 N. 217 (1995)O Amor é que move o universo, dizia Dante, aludindo ao segredo de todos os seres e de todas as coisas.
Consequentemente, todo movimento e toda atividade, particularmente a humana, são expressão do amor e, por sua vez, geram mais amor. Talvez pareça enfadonho recordar a intuição do poeta, sendo que expressou o óbvio. Tão óbvio como lembrar que o motor possibilita o deslocamento do carro; água e comida, uma longa caminhada; o repouso, restabelecimento das energias. Alusões claudicantes, certamente, mas, uma vez que só vivemos e agimos sabiamente na força e pela força do Espírito, é de vital importância ajustar o motor, providenciar água e comida, retirar-se com o Senhor.
Escrevo isto, aludindo à direção geral dos ensaios – artigos e comunicados – contidos neste fascículo. Eles expressam a presença e a busca do combustível essencial para a contemplação e a atividade histórica da Igreja.
Dom Aloísio Lorscheider, fazendo um relato do último Sínodo dos bispos, não tem dúvida de que, na ocasião, se tratou de uma dimensão vital da e para a Igreja, ou seja, de sua vocação à santidade, manifestada de maneira evidente na consagração religiosa. A busca das raízes desta consagração significa reencontrar a alma, o espírito. Consagrar-se significa, sim, retirar-se do mundo, mas retirar-se significa principalmente mergulhar no coração do mesmo mundo e assim fecundar a história.
Nilo Agostini aborda uma temática tradicional – as virtudes – e reaviva a íntima e indispensável relação entre a força de Deus e o vigor da atuação histórica, relação esta que todo cristão é convidado a cultivar.
Francisco de Assis Correia escreve sobre bioética. Muito se fala hoje em dia sobre o assunto, e não é indiferente dar-se conta ou não dos apelos que, na veste da cultura atual, nos vêm da ética da vida, tomada quer em sentido amplo quer em sentido restrito.
Bemardino Leers, em relação à família, nos evidencia a necessidade de permanentemente caminhar com a evolução da história cultural que a envolve, cultivando, de maneira variada, os valores éticos que lhe são próprios.
Márcio Fabri dos Anjos dialoga com a comunidade científica biomédica sobre ética e clonagem humana. Diante das possibilidades da manipulação genética fica mais evidente a responsabilidade ética do agir humano.
Ildefonso Silveira, ao ensejo dos 800 anos do nascimento de Santo Antônio – o santo mais popular da religiosidade brasileira – e decodificando expressões culturais do século XIII, evidencia nele a atividade de evangelizador.
Finalmente, José Maria Vigil nos lembra que, diante de algumas circunstâncias históricas adversas, é preciso recobrar esperança e, acima de tudo, ter os olhos fitos na utopia de Jesus Cristo.
Elói Dionísio Piva, OFM
Redator
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Utopia cativa
V. 54 N. 216 (1994)Um rico e variado repertório se encontra neste fascículo. Nutrimos, pois, a esperança de que será de muita utilidade.
Em decorrência da evolução econômica, política e social dos últimos anos, o mercado mundial, juntamente com seu suporte ideológico neoliberal, apresenta-se como aurora da nova era: mundialização do mercado, “fim da história”. É uma utopia que pretende se aproximar com seu brilho. Quem eventualmente a ela se opuser está fadado a perder o rumo da integração social, opta pela exclusão social. Parece até não haver mais outra perspectiva histórica e humana possível. É um bezerro de ouro que seduz e escolhe os seus convidados.
É, contudo, em nome da transcendência humana a toda realização histórica, em nome do Deus totalmente Outro, em nome do Reino de Deus e, particularmente, em nome da revolucionária esperança dos excluídos do mercado mundial que a consciência humana e cristã se levanta. Um fenômeno paradoxal! Por um lado, os que mostram os pés de barro do ídolo parecem ser os eternos insatisfeitos, os sonhadores de sempre, que tudo criticam e não são capazes de apresentar propostas viáveis para demandas concretas da vida humana. Por outro, não podem não se alegrar com os sinais de esperança que ampliam as perspectivas da mesma vida humana. É que o Reino já está, sim, no meio de nós, mas ainda não se manifestou plenamente. Por isso, podem dizer como São Paulo: “Ai de mim se não evangelizar”, o que significa anunciar a Cristo crucificado. Seguindo o Mestre, este é o caminho, não outro. A denúncia da idolatria e a defesa dos excluídos – a mais vibrante reserva de esperança e teimoso sinal do sonho de plenitude humana – fazem parte do conteúdo evangelizador. O anúncio da Vida, da Liberdade, da transcendência humana implica na denúncia dos bezerros de ouro que tentam hipnotizar a utopia. Com efeito, todo avanço é sinal da realização plena e de todos, mas é tão-somente sinal; toda beleza vislumbrada é uma ascensão, mas é tão-somente um sinal da beleza eterna; toda inclusão na mesa humana é um passo na realização da utopia da família humana, mas é tão-somente um passo. Franz J. Hinkelammert anuncia a utopia humana e denuncia pretensões idolátricas de nossos dias.
Bárbara Pataro Bucker configura o modelo esponsal de Igreja no documento de Santo Domingo.
Nilo Agostini, ao término deste ano dedicado à família, levanta as condições da mesma no Brasil de hoje.
Ari Pedro Oro tece o relacionamento entre aspectos religiosos da modernidade e da pós-modernidade com a prática pastoral da Igreja.
Evandro A. D’Assumpção evoca uma temática comum no dia-a-dia das pessoas e da cultura novelística: a partir da fé cristã e da parapsicologia, o que podemos afirmar sobre comunicação com os mortos?
Cláudio de Oliveira Ribeiro atualiza a contribuição de Paul Tillich para o diálogo entre fé e a dominante cultura moderna.
Elói Dionísio Piva, ofm
Redator
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Laicidade da VR
V. 54 N. 215 (1994)Em outubro, a Vida Religiosa ocupará a atenção do sínodo dos bispos. Ela, enquanto expressão da vocação universal à santidade e dom que Deus concede à sua Igreja, transcende todas as classificações. No entanto, como se manifesta no mundo, gera uma relação dialética, sacramental. Sempre de novo, o dom pode ser acolhido ou rejeitado e, consequentemente, a consagração pode ou não acontecer.
Portanto, uma vez que acontece na história – teste de sua veracidade importa ressituar constantemente esta dimensão humana, que re-liga com o transcendente, e reavaliar a autenticidade da consagração a Deus. Vale perguntar – e a pergunta ganha maior pertinência para os que se congregam a partir desta consagração – como é que esta dimensão nos situa em relação ao transcendente e ao secular, e, nas instâncias do Povo de Deus, em relação aos leigos e ao clero. Em particular, como nos situa em relação aos excluídos da mesa humana. Por certo, é nesta relação que se testemunha ou não a consagração aos valores do Reino.
Evidentemente, ao se considerar a Vida Religiosa, tocam-se dimensões essenciais da Igreja e o equilíbrio é sobremaneira desejável. Tendo, pois, condividido seu trabalho com a Equipe de Reflexão Teológica da CRB, Clodovis M. Boff nos convoca a uma reflexão corajosa que tem o mérito de nos levar às fontes e à inspiração, ao sonho e à utopia da RV.
Por coincidência, em 1993/94 celebrou-se o 8o centenário do nascimento de Santa Clara. Como se articulou e se expressou nela e em Francisco de Assis – seu inspirador – a utopia da dimensão religiosa? Qual o fascínio do sonho deles? Honório Rito de L. Brasil nos fala disso.
É óbvio que, com todos os homens, também os cristãos são chamados a participar responsavelmente da gestão da cidade terrena. O que importa, porém, é a consciência dos fundamentos do exercício qualificado da cidadania. Buscando um “modo ético” para a atividade política, o prof. Augusto de Franco evoca o exemplo de M. Gandhi e faz ressoar o espírito das Bem-aventuranças na administração dos conflitos humanos. Por sua vez, o prof. Paulo F.C. de Andrade fundamenta e ilumina a participação política dos cristãos, com critérios de ordem teológico-pastoral.
Há pouco aconteceu o sínodo da Igreja africana e, apesar de nossas expressivas vinculações étnico-culturais com aquele continente, relativamente pouca informação chegou até nós. Felizmente, porém, Marcelo de Barros Souza, próximo ao encontro, nos apresenta os temas que mais interpelam a Igreja africana no momento e, do evento, busca inspiração para nossa realidade eclesial.
Por fim, certamente vale a pena perguntar por um aspecto cotidiano do exercício ministerial do padre, do evangelizador: a homilia, como vai? A quantas anda a comunicação? Possivelmente não será supérfluo verificar o que Jerônimo Gasques tem a nos dizer a respeito.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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Despertar ético
V. 54 N. 214 (1994)Há tempo que o termômetro da inquietação social aponta para números elevados. Constatamos que as dimensões deste fenômeno se dão em nível mundial e, de modo particular, na sociedade brasileira. A Igreja, enquanto inserida na grande história da humanidade, também é agente ativo e passivo do fenômeno. Enquanto processo histórico de interação entre carência e plenitude, esta inquietação faz parte do estatuto conjuntural da vida humana. Mas, o tom de exigência e de urgência de mudanças é que faz a diferença e acelera o processo. A palavra “crise” e sua qualificação como crise da “modernidade” estão na ordem do dia. Ora, dizer “crise da modernidade” é afirmar que os valores basilares da cultura moderna, particularmente o da subjetividade, estão sendo questionados. Estão sendo questionados a partir da insatisfação de muitos de seus frutos e principalmente a partir da utopia de uma plenitude maior. Trata-se de um redespertar ético que repropõe com vigor o senso da cidadania e da solidariedade, da liberdade e da corresponsabilidade, da justiça social, da verdade e da vida como valores fundantes do ser humano. O desconforto de ser mendigo destes valores, às vezes, turva o horizonte. A sede de justiça e de amor é, porém, sinal de esperança. É testemunho da atuação do fermento do Evangelho do Reino, na Igreja e no mundo. Harold Drefahl, Jung Mo Sung, Olinto A. Pegoraro e José Roque Junges, respeitadas as diferenças de temas e enfoques, nos ajudam a entrarmos nesta sintonia. Em “momentos” de profundas mudanças na conjuntura da vida humana sobre a terra é preciso redescobrir a razão de ser da Vida Religiosa e a função de seu lugar social. O próximo Sínodo dos Bispos se ocupará justamente deste assunto. José Maria Vigil toca esta corda e dá o tom do sinal escatológico da VR.
A evangelização, particularmente ao interno da própria Igreja inserida na cultura secular de hoje, é uma provocação à criatividade do amor cristão. Diante de situações novas, como fazer, onde buscar luzes? A Tradição da Igreja é um manancial de inspiração para uma criatividade coerente. Bernhard Häring, conhecido mestre em Teologia Moral, Leonardo Meulenberg, Marcial Maçaneiro e João Carlos Almeida nos orientam nesta senda.
Retomando à realidade sócio-religiosa brasileira e, especificamente, à religião popular, Pedro A. Ribeiro de Oliveira avalia seu potencial crítico e sócio-transformador, bem como alguns de seus limites; Eduardo Hoornaert traz ao nosso conhecimento a contribuição de Thales de Azevedo para a sociologia do catolicismo no Brasil. Ambos nos ajudam a tomar contato – sempre salutar – com nossas raízes religioso-culturais.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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"Veritatis Splendor"
V. 54 N. 213 (1994)Abordando temas da atualidade teológico-pastoral, a REB pretende contribuir para a criativa recepção da “Veritatis splendor” e para o incremento da reflexão em tomo do tema da inculturação, do trabalho e da família.
Antes mesmo da publicação da Encíclica e logo que esta ocorreu veicularam-se as primeiras avaliações a respeito de seu conteúdo e forma. Em seguida, porém, o empenho para uma análise e compreensão mais ponderadas chega a resultados mais abalizados. A REB deseja continuar (cf. fasc. de dez./93, p. 935-937) neste esforço, a fim de que seus leitores possam avaliá-la de maneira sempre mais lúcida e eclesial. Para isso, tem a satisfação de apresentar o ensaio de leitura de Hubert Lepargneur. Ele se detém na elucidação dos conceitos básicos da Encíclica, que, ao enaltecer a dignidade da pessoa humana originada do Amor e a ele vocacionada, apresenta um pertinente diagnóstico da crise ético-moral da atualidade.
A reflexão sobre a inculturação do Evangelho está longe de se esgotar. Por exemplo, talvez não seja exagerada a constatação informal de que a maioria do clero tem dificuldade de compreender o homem urbano, embora a urbanização se constitua num dos dados sociológicos mais notáveis e óbvios da cultura ocidental moderna. Com efeito, os diversos encontros promovidos ultimamente têm o intuito de levar a uma tomada de consciência da cultura urbana e das decorrentes exigências de adequação da evangelização. A REB mantém e manterá este sinal de esperança na ordem do dia. A reflexão que ora apresenta tem o mérito de tomar óbvio a inculturação do anúncio da fé no plano prático, senão mesmo o de alargar os horizontes de compreensão da encarnação de Jesus Cristo. Paulo Suess, conhecido pesquisador do assunto, é quem nos brinda com esta rica contribuição.
No afã de ganhar o feijão e o arroz de cada dia, o trabalho, com suas possibilidades e seus limites, é preocupação cotidiana e, talvez, primeira, para a maioria das pessoas. A REB deseja ser portadora desta inquietação, que, por ser tão cotidiana, talvez até passe um tanto despercebida dos afazeres teológico-pastorais. A primeira contribuição é de Carlos Alberto Steil, que recolhe o despertar da consciência social e cristã do trabalho humano no Brasil. Contudo, se o interesse do leitor recair sobre a vocação do homem para a ação, a evolução dos instrumentos de trabalho e suas consequências sociais, Frei Luís Maria Sartori, com sensibilidade pastoral, lhe oferece um sugestivo depoimento; se preferir sondar as perspectivas que se abrem a partir da acelerada revolução tecnológica de nossos dias e os desafios sócio-religiosos dela decorrentes, é Bernardo Lestienne quem, do ponto de vista sociológico, apresenta um pertinente panorama da atual cultura do trabalho.
Finalmente, no âmbito do ano internacional da família e da CF/94, considerações de fundo a respeito do aborto e aspectos jurídicos do planejamento familiar. Assuntos delicados e conflitivos, que são tratados de maneira respeitosa, serena e competente por Cléa Carpi da Rocha.
Na esperança de contribuir para a eficácia da evangelização:
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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Pastoral Familiar
V. 53 N. 212 (1993)A Igreja no Brasil em 1994 concentrará sua atenção pastoral na família. O ouvido de pastor ouve principalmente o gemido de milhares de ensaios de família, de famílias quebradas física e moralmente, com frequência mais vítimas do que sujeitos de sua própria história. Por isso, a partir do primado universal e familiar do amor, usará de inteligência e de misericórdia. Anunciará as exigências deste primado e priorizará o convite e o incentivo sobre a cobrança, a compreensão e a paciência sobre o juízo. Frei Antônio Moser articula lucidamente estes desafios da pastoral familiar, no contexto social brasileiro. Já o casal Cláudia e Diego Naranjo avalia a atuação dos Movimentos Familiares na Igreja. Distingue potencialidades e limitações. Diante dos desafios e das possibilidades, o casal advoga uma progressiva integração de iniciativas.
Santo Domingo é nosso segundo destaque. Pastoralmente importa ter clareza em que sentido o legado deste encontro pode incrementar e orientar lucidamente o dinamismo da caridade. Clodovis Boff nô-lo oferece, em clara e resumida síntese. Deste legado, certamente é a evangelização inculturada a intuição mais original. Pressuposta esta orientação de fundo, importa debruçar-se com carinho e inteligência sobre as variadas manifestações culturais em nosso Continente, a fim de deixar-se surpreender pela manifestação de Deus na história dos agentes destas culturas. José Oscar Beozzo, articulando este enunciado com a realidade histórica latino-americana, nos fornece intuições valiosas.
Luiz Roberto Benedetti tem por objeto relacionar o discurso predominante da sociedade nos anos 90 com o da Igreja. Sem cair em mimetismos, ao indicar os canais em que a maioria das pessoas desta época está sintonizada, à Igreja sugere sensibilidade, a fim de que, ajustada a linguagem, se mantenha atualizada.
Pertinente ponderação, imprescindível do ponto de vista metodológico e hermenêutico, nos vem de Paulo Suess. O autêntico relato da história dos outros é como rua de mão dupla: atividade dialogal. Como seria ele, em relação à América Latina, se fosse tecido a partir das possibilidades e dos limites colocados pelo binômio comunhão-alteridade?
Santo Domingo convidou os leigos a serem protagonistas da evangelização. Neste quadro e colhendo a oportunidade dos 100 anos de nascimento de Alceu Amoroso Lima, Pe. Djalma Rodrigues de Andrade pontualiza a trajetória cristã, eclesial, socialmente lúcida; engajada deste líder leigo brasileiro. Por sua vez, Leonardo Meulenberg narra a paradigmática caminhada espiritual de S. Agostinho. É itinerário que, bem sinalizado, fala por si mesmo.
Enfim, Hélcion Ribeiro no; apresenta, em sugestiva imagem, a relação lúdica de Deus com o Homem. Num mundo frequentemente entristecido pelo desencanto e pela brutalidade, a presença de Deus é maravilha de reencanto e beleza.
Fr. Elói Dionísio Piva
Redator
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Direito de associação na Igreja
V. 53 N. 211 (1993)Caros leitores da REB, ao abrir este fascículo Vocês encontram o convite do Pe. José Comblin para, com ele, refletir sobre a relação Igreja/cultura dos pobres. Apesar de os leigos terem sido valorizados em Santo Domingo, será que uma de suas formas de associação - as CEBs - encontra cidadania na Igreja? O Pe. José Comblin retoma sua intuição de 1990 e invoca o direito de livre associação na Igreja para salvaguardar a intuição original das CEBs, integrando-as juridicamente na mesma Igreja. Com esta proposta ele resgata a tradição leiga em nossa história e, principalmente, vai ao encontro da cultura do homem urbano de hoje. Este homem urbano (e o espírito urbano ultrapassa os limites estritos da cidade) prima pela liberdade, pela autonomia, pelo espírito de iniciativa. Aspira à comunhão eclesial, participando como sujeito, livre, criativo e associado. Comblin repropõe, pois, a salvaguarda da intuição básica das CEBs: valorização da cultura popular na Igreja e presença dos leigos como sujeitos da vida eclesial.
Da eclesiologia Vocês são convidados a retomar às preocupações e ocupações pelo pão nosso de cada dia. O Pe. Jacques Hilaire Vervier tem uma sugestiva consideração, decorrente da relação: utopia cristã e racionalidade econômica. Ele mostra a importância de se manter o senhorio da utopia cristã face à racionalidade econômica. Enquanto sedutora de novos valores e sentidos, de um mundo melhor, enquanto projeção das aspirações mais nobres do ser humano, a utopia é um antídoto contra a inércia e esclerose de todas as formas de convivência social. É profetismo cristão. Por sua vez, neste mesmo campo da economia, o prof. Herman Vos nos apresenta um estudo sobre o Pe. Antônio Vieira, em que este, embora sensível às ambiguidades do “jogo” econômico da época, advoga que o rei tenha os meios necessários para manter as conquistas e dilatar a fé cristã.
Com Faustino Luiz Couto Teixeira e José Maria de Paiva retomamos às CEBs. O primeiro, um estudioso do assunto, nesta contribuição elaborada antes do 8o Intereclesial, faz um balanço da atual conjuntura sócio-eclesial e aponta a inculturação, a evangelização e a espiritualidade como vetores das CEBs na atualidade. O segundo, com um estudo também elaborado há mais tempo, mostra o específico da função educativa das CEBs: a partir da fé, um caminho de participação, de integração fé e vida.
Finalmente, por ocasião da beatificação de Duns Escoto e em sua homenagem, Dom Boaventura Kloppenburg nos retransmite a natureza prática da teologia no pensamento escotista: o conhecimento em função do amor; o amor essencialmente práxis.
Mas não deixem de verificar também o estudo de Francisco Taborda e o depoimento do Dom Erwin Krautler: eles elucidam o itinerário teológico-eclesial do documento de Santo Domingo.
Fr. Elói Dionísio Piva
Redator
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Cristianismo e culturas indígenas
V. 53 N. 210 (1993)A IV Conferência do Episcopado Latino-americano expressou o desejo de uma evangelização inculturada e a incentivou. Um ideal, cuja aproximação certamente requer prévia identificação de eventuais desafios e um correspondente posicionamento frente aos mesmos. Nesta perspectiva, Francisco Taborda, partindo da experiência de missionários que atuam entre tribos indígenas no interior do Brasil, aponta e analisa alguns impasses e dilemas de ordem prática. Ao fazer isto, trabalha o conceito de “evangelização inculturada” e evoca uma nova maneira de se aproximar daqueles que, no próprio processo de evangelização, nem sempre são suficientemente respeitados.
As exigências de uma evangelização inculturada não se fazem sentir somente entre distintas culturas ou tradições. O dinamismo interno e próprio de cada uma destas também condiciona o ritmo de uma evangelização inculturada. Por exemplo, os efeitos da urbanização e dos modernos meios de comunicação social no contexto da sociedade latino-americana, marcada pelo subdesenvolvimento social, tem uma pertinência não transcurável para a encarnação do Evangelho. E mérito do prof. Cristián Parker Gumucio demonstrá-lo.
A rigor, nem Ari Pedro Oro e Francisco Cartaxo Rolim fogem das implicações religioso-culturais: o primeiro se debruça sobre as representações do dinheiro no pentecostalismo autônomo brasileiro - aspecto dos mais controvertidos; o segundo especifica a estreita relação entre pentecostalismo e política na história recente do Brasil e do Chile.
Leonard M. Martin, completando a exposição iniciada no fascículo anterior, destaca aspectos éticos nos códigos brasileiros de ética médica, especificamente na relação médico-paciente terminal. A importância e a atualidade de posturas éticas dispensam comentários.
O Mercosul se afirma. Intensifica a desejada integração regional da América do Sul. Porém, diante do fato, Inácio Neutzling se preocupa. Sonha com uma integração equilibrada, integral e humana. Por isso, busca critérios de caráter ético-teológico como forma de contribuir para que se estabeleça e se atinja uma meta mais pretensiosa.
Por fim, uma palavra a respeito do atraso dos três últimos fascículos desta revista. Ele foi consequência do esforço de modernização gráfica e de reorganização administrativa, ocorrido na Editora Vozes (cf., REB 52(1992) 787-788). A Redação agradece, pois, a paciente compreensão de seus leitores, ao mesmo tempo em que se escusa pelos transtornos causados. Passada esta fase, os fascículos retomam o calendário normal.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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Santo Domingo
V. 53 N. 209 (1993)Fiel a uma de suas intuições básicas, a REB se apresenta qual amplo espaço eclesial. Espelha a diversidade e o dinamismo da vida da Igreja de hoje, particularmente no Brasil e na América Latina.
O primeiro bloco de assuntos se relaciona àquela que, com certeza, será um marco permanente no peregrinar da Igreja neste continente: a IV Conferência Geral do Episcopado Latino-americano em Santo Domingo. Avaliando o Encontro, Dom Luiz Demétrio Valentini, através de sua observação, aguda e anotada no calor dos fatos, oferece importantes elementos do contexto interpessoal em que se desenrolaram os fatos: confronto e confluência de pareceres, até se conseguir uma conclusão final. Dom Aloísio Lorscheider evidencia os grandes temas conclusivos da Conferência, temas estes que, ora mais, ora menos, espelham a reflexão e a prática da Igreja, hoje, neste Continente. Frei Almir Guimarães, específico, ao Documento de Santo Domingo pergunta: qual sua palavra a respeito de assunto tão candente como o da família.
A vida humana é o objeto do segundo conjunto de abordagens. Marcial Maçaneiro contextua sua defesa no horizonte de aspectos de morte, presentes na cultura atual. Leonard M. Martin, de quem, agora, só apresentamos a Ia parte de seu trabalho, orienta sua indagação para um objeto inédito, certamente, e de grande interesse: o paciente terminal nos códigos brasileiros de ética médica. Por fim, em tomo da morte cerebral, Hubert Lepargneur coloca a possibilidade que o próprio homem aprimorou: manipulação e/ou respeito à vida.
Paulo Fernando C. de Andrade observa o desenrolar da cultura moderna. Relaciona pós-modernidade e pastoral popular. Desperta sensibilidade com relação aos impactos e efeitos daquela sobre esta.
Riolando Azzi aborda um tema muito caro ao nosso povo: a celebração da Paixão de Cristo. Recordando o “como” somos e o “por que” assim somos, valoriza nossa cultura religiosa popular.
Enfim, nos Comunicados, Você encontra mais explicitações destes e de outros assuntos.
Que estas abordagens, tirando do baú coisas novas e velhas, possam ajudar sua caminhada.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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Culturas oprimidas e evangelização
V. 52 N. 208 (1992)Editorial
A aurora, uma vez mais, anuncia o raiar de um novo dia e é com prazer, pois, que retomamos esta forma de contato com você, cara leitora e caro leitor da REB.
Como você já percebeu, principalmente a partir do fascículo 207, esta revista vem apresentando algumas modificações formais. Elas acontecem em função do processo de informatização e da atenção que a Redação procura cultivar em relação a seus leitores. Acontece ainda em decorrência da vitalidade e dos consequentes contrastes vividos ou experimentados no interior da própria Igreja, aliás, uma constante em sua inserção e peregrinação neste mundo.
Talvez o que mais tenha chamado a atenção se relacione ao editor: antes, a Editora Vozes; agora, a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Trata-se de uma clarificação, de uma melhor definição, em termos jurídico-canônicos, da praxe já seguida no passado em relação à revista, uma vez que, como instância maior, sempre foi a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil a entidade responsável, inclusive pela Editora Vozes. Consequentemente, quanto à orientação editorial, a REB continua mantendo sua identidade eclesiástica e eclesial já bem conhecida, espelhando, por um lado, a evolução dos acentos pastorais e teológicos da Igreja, particularmente no Brasil e na América Latina, e, por outro, procurando manter espírito crítico e criativo em relação a todas as formas de estratificação do ministério pastoral e do pensamento teológico. Contudo, para garantir e aprimorar esta identidade, a REB procura insistir mais no caminho da gestão participativa. Demonstra-o a constituição de dois Conselhos – o Editorial e o Consultivo –, relativamente abertos em termos de número e pessoas. Cada Conselho tem corresponsabilidades específicas: o primeiro, junto com o Redator, as de gerir a revista, particularmente no que se refere à sua linha editorial; o segundo, reforçando a eclesialidade, as de auxiliar o primeiro, através de suas observações e sugestões. Em síntese, todas estas modificações visam tão-somente incrementar e aprimorar a comunhão do ministério pastoral-teológico com que pretendemos contribuir para o anúncio do Evangelho no aqui e no agora de nossa história.
Com isso, cara leitora e caro leitor, esta revista pretende se apresentar como um espaço suficientemente aberto, nos limites de sua identidade, a ponto de você poder considerá-la também sua. Por sua vez, a Redação deseja sentir-se à vontade e confiante para renovar-lhe o convite à participação, relatando sua experiência eclesial e/ou reelaborando, sempre de novo, o discurso teológico-pastoral.
Neste fascículo de dezembro você tem, como bloco central, a partir de vários ângulos, um apanhado da realização externa e das intuições básicas do VIII Encontro Intereclesial de CEBs, realizado de 8 a 12 de setembro em Santa Maria-RS. Junto com outros encontros eclesiais, como a IV Conferência do Episcopado Latino-americano em Santo Domingo e a Assembleia do Povo de Deus em Quito, o VIII Intereclesial contribui certamente para manifestar a diversidade da Igreja. Contribui, outrossim, para colher e explicitar as preocupações de base de cristãos em relação à encarnação de sua fé no nosso meio. Com isso, a Igreja se exercita na acolhida e na partilha da experiência de Deus feita por seus membros, pela qual se dá conta, constantemente, de seus pecados e da graça de ser sacramento de libertação histórica e definitiva.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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Pastoral de Classe Média na perspectiva da Libertação
V. 51 N. 201 (1991)Em termos gerais, a Igreja do Brasil apresenta-se nos últimos tempos com uma feição que, além da consciência ministerial, traz a marca de um novo vigor participativo, de uma renovada incidência sócio-cultural da fé, da opção preferencial pelos pobres. Contudo, a respeito desta última característica, talvez caiba a pergunta: será que, na prática, o “preferencial” carregou ou carrega alguma conotação “exclusiva”? Será que nossa Igreja conseguiu e consegue articular-se catolicamente? Consegue acolher e coordenar a diversidade de seus filhos de modo integrado, solidário e libertador? Neste sentido, a colaboração de Clodovis Boff sobre pastoral de classe média é provocadora: apresenta lacunas, ensaios e, principalmente, a sugestão e o desafio de acolher, incrementar e integrar uma pastoral de classe média com o imperativo evangélico de evangelizar os pobres.
À distância de quase dois anos do VII Encontro Intereclesial (julho/89), Roberto Van der Ploeg faz um balanço das realizações e das interrogações que constata. De suas ponderações emergem novas perspectivas — de esperança — para o amanhã das CEBs.
Antônio da Silva Pereira termina sua valiosa contribuição a respeito da participação dos leigos nas decisões da Igreja. Pondera ele que esta participação, com voto deliberativo, a partir da consciência e da práxis das CEBs, não deveria ser menosprezada. Ela nasce de um jeito de ser — aberto ao serviço, ao consenso, à comunhão — bíblica e tradicionalmente enraizado.
Por ocasião do centenário da “Rerum Novarum”, mais duas colaborações ligadas à ordem econômico-social. Na primeira, Marc Luyckx constata que as programações econômicas são feitas hoje em termos de aldeia global e confirma a gritante desigualdade econômico-social no planeta dos homens. Estas premissas são um convite a teólogos e pastoralistas para incrementar e buscar mecanismos que promovam um planejamento global da atividade econômica e gerem mais justiça social. Na segunda, Herman Vos relaciona o pensar econômico com a ética. A consciência desta relação emerge como um “desideratum”, como uma necessidade típica do ser humano e como uma condição para que este se aproxime de sua própria realização.
No campo da teologia moral, também contamos com duas contribuições. Eduardo Rodrigues da Cruz, servindo-se da narração da criação e queda de Adão (Gn 2,4b-3,24), apresenta, do ponto de vista antropológico, a condição humana como sendo portadora de ambivalência, sujeita ou ao sucesso ou à frustração. Ernesto Lima Gonçalves fala, com clareza e sensibilidade, da paternidade responsável. Ele leva em conta as transformações sociais que afetam a família hodierna, bem como a evolução da tomada de consciência da dignidade e da realização da pessoa humana no amor, expressa na orientação da Igreja.
Na seção “Palavra do Leitor”, Jorge Atílio da Silva Iulianelli mantém aceso o debate em torno do presente e do futuro das CEBs.
Frei Elói Dionisio Piva
Redator
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Vocação eclesial do teólogo
V. 50 N. 200 (1990)Editorial
A REB completa 50 anos! Em suas páginas, um registro da vida eclesial deste país: de seu caminhar e de sua autoconsciência. O mérito e a homenagem: a todos os que contribuíram para este registro! Contribuição que foi e que é fruto da disponibilidade em partilhar as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem (GS, 1).
Neste número cinquentenário, uma reflexão inspirada pelo amor à Igreja. Um grupo de teólogos/as recolhem algumas considerações críticas a respeito da “Instrução sobre a vocação eclesial do teólogo”. Estas não são um grito de rebeldia. Querem valorizar ainda mais a virtude da obediência e a vocação eclesial do teólogo. Para isso, relevam que estas acontecem no campo da história, onde convivem o trigo e o joio. A intrínseca e conflitiva relação entre a mediação histórica, ambígua, e a referência fontal ao mistério do Deus-Amor constituem, pois, um desafio/possibilidade-de-graça para todos.
A CRB, através de sua equipe de reflexão teológica, apresenta uma valiosa colaboração para o aprimoramento das diretrizes que estão sendo elaboradas em função da missão da Igreja latino-americana neste momento e contexto de sua história e que serão avaliadas na IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano.
Maria Clara Bingemer aproxima solidariedade e conflito sociais. A solidariedade é bandeira da Doutrina Social da Igreja — 1991, ano centenário da “Rerum Novarum”; o estudo do conflito, uma contribuição da teologia da libertação. Porta-bandeiras e bandeiras são, neste caso, vasos comunicantes. Daí a propriedade da aproximação.
Uma data quase despercebida: os 500 anos do nascimento de Thomas Müntzer (1489-1989). Luís Henrique Dreher nos apresenta duas concepções básicas e interconexas do controvertido teólogo: a propósito do conceito de decadência da cristandade e de hermenêutica. Uma contribuição oportuna, esclarecedora e que faz justiça a Müntzer.
Ralph Delia Cava traça, sócio-politicamente, os principais contornos daquela que seria a estratégia geral da atuação do Vaticano. A partir destas coordenadas torna-se mais fácil situar medidas setoriais, como as referentes à Igreja do Brasil.
Frei Betto contesta certas críticas feitas a teólogos da libertação a partir das mudanças do Leste Europeu. Esclarece e frisa que a teologia da libertação, ao assumir a causa do pobre, não o faz por opção sistêmica, mas sim, a partir de categorias e hermenêutica bíblico-eclesiais.
Na “Palavra do Leitor”, Pedro A. Ribeiro de Oliveira troca pontos de vista com José Comblin acerca de algumas questões atinentes às CEBs, levantadas por este último na REB de junho/90.
Além disso, vale a pena conferir o sugestivo material da seção “Comunicações”, sobretudo, em torno: do recente sínodo dos bispos — com um balanço de Dom Valfredo Tepe —, dos 500 anos de evangelização latino-americana e da preparação das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da CNBB para o quadriênio 1991-1994.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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V Centenário: A Busca do Novo Rosto
V. 50 N. 199 (1990)Por certo, toda pessoa consciente e lúcida se sente interpelada a articular fé e contexto social. Em geral, poderíamos dizer que esta interpelação se faz mais pertinente entre teólogos, pastores e místicos. Portanto, também esta revista, através de seus colaboradores, não faz outra coisa senão pensar e repensar, elaborar e reelaborar a relação entre história e transcendência, socializando o resultado deste esforço, na esperança de que os bons frutos se multipliquem.
Assim, Leonard M. Martin, preocupado com a situação geral da família brasileira, busca luzes no procedimento pastoral de São Paulo. Conclui: como o Apóstolo das Gentes, atuando num contexto de missão e numa situação social diversa da judaica, consegue aliar fidelidade a Cristo e flexibilidade histórico-cultural, assim o teólogo e o pastor, inseridos na presente realidade social brasileira, podem se inspirar na metodologia do Apóstolo para encontrar soluções pastorais que respondam aos desafios da moral sexual.
Também Carlos Alberto dos Santos Dutra aborda a repercussão das mudanças sócio-culturais sobre a família. Em meio às contingências sofridas pelo matrimônio, assinala a presença “natural” de valores evangélicos que os cristãos, em sua missão no mundo, são chamados a perceber e a apreciar.
Com José Oscar Beozzo avaliamos a visão histórica expressa na segunda elaboração do documento do CELAM, divulgado com o objetivo de colher sugestões com vistas à IV Conferência Geral do Episcopado Latino- Americano. No intuito, pois, de ajustar a concepção histórica ali formulada ao conjunto dos fatos históricos e de avaliar esta ótica de leitura, o Autor indica alguns avanços em relação a Medellín e a Puebla, mas registra também limites e lacunas que, por sua notoriedade, deveriam merecer uma revisão.
Gilberto Gorgulho se apresenta através do Livro dos Provérbios. Ele consegue integrar sentenças aparentemente isoladas num contexto histórico coerente, graças à conjugação lógica entre o desejo mimético — o visar-se um mesmo determinado objeto — e o subjacente desejo de vida. O primeiro — projeto do ímpio — estaria na raiz da situação de violência institucionalizada; o segundo — projeto do Justo —, por sua postura de liberdade e desapego diante dos bens deste mundo, desarma o gatilho da violência e da morte e aponta para o caminho da Justiça e da Verdade, da Sabedoria e da Vida.
A abordagem de Leonardo Meulenberg a respeito da atuação dos primeiros cristãos diante dos desafios do Império Romano anterior a Constantino resulta na demonstração do espírito de fraternidade que entre eles reinava. O exemplo deles teria fascinado tanto, que a saudade perduraria até hoje.
Eduardo Hoornaert nos estimula com a proposta da “morenidade” étnico-cultural brasileira. A questão de fundo é a da adequação da expressão religiosa ao “jeito” brasileiro. Trata-se, pois, de conhecer a fundo este povo para adequadamente relacionar fé e cultura e não simplesmente transpor e impor roupagens culturais.
Enfim, Riolando Azzi evoca o movimento reformador dos bispos brasileiros na segunda metade do século passado. Na atuação de Dom Luís Antônio dos Santos confirma algumas das principais caracteristicas deste movimento, que, se representou benefícios, também contribuiu para desacertar o passo com a tradição histórico-cultural brasileira.
Que estes subsídios possam ser de ajuda para nossa missão no mundo.
Frei Elói Dionisio Piva
Redator
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Para onde vai a Igreja na América Latina?
V. 50 N. 198 (1990)O próximo transcurso do V centenário da evangelização da América Latina está despertando diversas iniciativas. Uma das mais significativas é a que coincide com a realização da IV Assembléia Geral do Episcopado Latino-Americano, prevista para outubro de 1992 em Santo Domingo. Há pouco foi divulgada a segunda elaboração do documento preparatório para esta Assembléia. A tese de fundo deste documento proporia uma guinada de rota da Igreja latino-americana: romper-se-ia com a tradição estabelecida pelas Assembléias de Medellín e Puebla, que privilegia os rostos pobres latino-americanos, e se adotaria um projeto voltado à modernidade. No avaliar, em seu conjunto, os pressupostos desta proposta do documento preparatório e no chamar a atenção para a pertinência da opção a se fazer está o mérito do ensaio de Clodovis Boff.
Hugo Assmann aborda uma temática de abrangente e disfarçado realismo: a do mercado total. Este, qual um deus, promete felicidade em troca de sacrifícios humanos. Portanto, assinala, apresenta-se um desafio para os teólogos e cristãos em geral: como articular, teórica e praticamente, os temas da justiça, da paz e da comunhão universal entre os homens.
Ari Pedro Oro busca o significado da utilização dos MCS pela “Igreja Universal do Reino de Deus” e pela “Igreja Evangélica Pentecostal Cristã” no Sul do país. Estaria sendo veiculada uma imagem de legitimidade e eficácia das referidas igrejas, resolvendo problemas existenciais, através de apelo ao sobrenatural, e comprometendo economicamente os adeptos.
José Comblin, a partir de sua experiência pessoal como assessor de CEBs no Nordeste, analisa o atual momento evolutivo das mesmas e acha que “estão diante do desafio de passar da idade profética, espontânea, improvisada, para a idade institucionalizada”. Conjuga a relação entre carisma e instituição na Igreja em função das CEBs.
Lúcia Ribeiro nos leva à Polônia, relatando-nos o que pôde perceber a respeito da condição social e eclesial da mulher, durante uma sua viagem àquele país. Ela nos transmite um quadro complexo e sugestivo para o debate em torno do papel da mulher na Igreja e na sociedade.
Hubert Lepargneur estabelece um insinuante paralelismo entre bioética e biblioteca: embora podendo delas nos aproximarmos reducionisticamente, guardam, sobretudo, nas devidas proporções, o rico potencial das possibilidades de manifestação da vida. Diante desta riqueza, o Autor propõe liberdade de pesquisa e convivência pluralística, descartando, portanto, dogmatismos apriorísticos e autoritários.
Elói Dionísio Piva nos mostra que os líderes da Igreja Católica, em 1890, movendo-se na liberdade que estava sendo institucionalizada pelos homens da República, veiculam um projeto de reforma e modernização da Igreja, através da formação de um episcopado — composto por bispos instruídos, zelosos e bem relacionados com Roma — consciente de sua tarefa de qualificar o clero e de coordenar a atividade pastoral da Igreja. O projeto desloca o acento: de uma Igreja do Brasil para uma Igreja no Brasil.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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Conscientização Libertadora
V. 50 N. 197 (1990)Leitor amigo, a REB, ciente de se constituir num veículo que possibilita partilha de reflexão e informação teológico-pastoral, apresenta-lhe alguns ensaios que testemunham o fermento do Reino em ação e que, por isso, podem alimentar a esperança.
Nilo Agostini fala de “consciência e conscientização”. Deseja identificar as bases do potencial eticamente inovador de tomadas de consciência, também em relação a algumas ciladas em que pode se emaranhar o processo de conscientização. Consequentemente, a pessoa amadurecida, em termos de discernimento ético, é uma pessoa ornada com senso de responsabilidade e graça libertadora.
Márcio Fabri dos Anjos, partindo do convite mais urgente que nos é feito hoje na América Latina e da resposta/conversão a este mesmo convite, discorre sobre as consequências desta conversão ao pobre. Caracteriza-a como manifestação de sensibilidade, expressão de um "coração de carne" que, percorrendo, eventualmente, as etapas do estar para o pobre, com ele e do ser como ele, entra na ótica da comunhão e da partilha e abraça a causa do mesmo pobre. Então, para o teólogo moralista, mas não só para ele, se apresenta o desafio e a ventura de elaborar uma teologia moral correspondente à irrupção deste lugar teológico.
Por seu turno, José Comblin convida-o a seguir o debate teológico que, em vista da IV assembléia do CELAM, se entabula na América Latina. Ao analisar a 1o redação do documento de consulta (redação/documento hoje já substituída/o), informa e democratiza o debate acerca do relevante momento em termos pastorais que se espera seja aquela assembléia. O comunicado de Clodovis Boff ajuda na composição deste quadro de análise.
Leonardo Boff pode elucidar uma questão que, possivelmente, paira em muitas mentes: a da relação entre a implosão do socialismo histórico real, do Leste Europeu e a causa do Reino que empenha, historicamente, cristãos situados na América Latina e no 3o mundo em geral. Veja também a comunicação de Frei Betto a respeito.
E a participação dos leigos nas decisões da Igreja? Como foi vista e determinada pelas grandes assembléias dos Concílios Vaticano I e II? Antônio da Silva Pereira é quem lhe vai responder. As conclusões para os casos mais específicos decorrem espontaneamente.
Informes sobre edições da Bíblia no Brasil, bem como sobre algumas iniciativas pastorais neste campo é Airton José da Silva quem os fornece. Mais ainda, pressupondo a fecunda vitalidade da Palavra, discorre ele sobre o como, o por que e o para que a Bíblia é lida hoje entre os católicos no Brasil. A comunicação de José Batista da Silva serve de ilustração.
Um assunto delicado — o do celibato dos presbíteros e dos bispos — relacionado com o próximo sínodo dos bispos sobre a formação presbiteral, é tratado com equilíbrio por Antônio José de Almeida. Celibato, sim; lei eclesiástica do celibato, uma questão.
A redação deseja e nutre a esperança de que estes ensaios lhe sejam de proveito em sua atividade teológico-pastoral.
Frei Elói Dionisio Piva
Redator
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Evangelização e Cultura
V. 49 N. 196 (1989)Na IV Semana de Teologia Missionária promovida em São Paulo pela Linha II da CNBB, um grupo de teólogos, no âmbito dos 500 anos de evangelização na América Latina, elaborou uma série de reflexões críticas com vistas a uma nova evangelização. Especificamente, buscaram elucidar a relação entre Evangelho e culturas. Algumas das contribuições então proferidas compõem a maior parte deste fascículo da REB.
Roque de Barros Laraia se propõe a esclarecer o conceito antropológico de cultura. Constata o fenômeno da multiplicidade cultural e tenta compreender a origem e o desenvolvimento desta diversidade da expressão humana.
Paulo Suess demonstra que a dimensão religiosa do homem é veiculada culturalmente. Constata que esta vinculação se apresenta como um dom e uma tarefa e que, em seu momento histórico latino-americano, também foi e é desrespeitada.
Leonardo Boff faz uma avaliação critica de métodos de evangelização utilizados na Igreja: denuncia arrogâncias. Idealmente, aponta para caminhos de serviço, de humildade e de respeito: sonha que o encontro entre os atores sociais — agentes de cultura — suscite diálogo, provoque anúncio evangélico, libere e multiplique os bens do Reino.
Luís Carlos Susin nos relembra que a Revelação se dá e se caracteriza culturalmente, portanto, também diversificadamente. Acontece no encontro entre uma identidade e uma alteridade. Qualificação evangélica a temos na medida em que uma cultura propicia espaço à participação, à comunhão, à responsabilidade, à alegria.
Alberto Antoniazzi aborda panoramicamente a relação entre dogma e cultura. Lembra que a compreensão e a formulação do dogma se dão em nível cultural e que, sendo a cultura dinâmica por natureza, permanentemente se busca diálogo, liberdade de investigação e de expressão. Na prática da interação social, porém, esta aspiração faz estrada entre conflitos.
Rose Marie Muraro manifesta o desejo de um maior equilíbrio nas decisões da Igreja, mediante a superação de traços culturais discriminatórios em relação à mulher.
Angélico Sândalo Bernardino chama a atenção para o fenômeno cultural urbano. Assinala descompassos em muitos membros da Igreja com relação à realidade urbana, bem como o desafio e a chance que se apresentam à evangelização.
Xabier Gorostiaga nos introduz no atual contexto sócio-político da América Central. Sugere qual o compromisso que o cristão, para ser fiel ao anúncio do Reino e, portanto, àquele homem concretamente ali situado, deveria assumir nesta conjuntura.
Eduardo Hoornaert, independentemente do citado encontro teológico, elucida o horizonte religioso-cultural em que Las Casas se movia ao estabelecer contatos com habitantes do Novo Mundo, ou seja, na linha da Grande Tradição Legal do Ocidente, originada do Direito Canônico, e não na linha do Direito Internacional, constituído à revelia daquela Tradição. Trata-se de uma questão que continua candente também nos dias de hoje.
Enfim, Ivone Gebara nos conduz à CF/90. Ela resgata a experiência mística da mulher pobre em sua cotidiana busca e defesa da vida. Avalia criticamente aspectos do discurso da libertação e evoca a complexidade da vida que, em sua fragilidade e vigor, ultrapassa as possibilidades do discurso lógico-conceitual.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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CEBs: 7° Encontro Intereclesial
V. 49 N. 195 (1989)A reflexão teológico-pastoral apresentada neste fascículo da REB destaca o 7° encontro intereclesial das CEBs, distinguido com o seguinte lema: “Povo de Deus na América Latina a caminho da libertação”.
João Batista Libânio aponta e descreve as principais características deste encontro, fixando, deste modo, a tradição das CEBs, identificando tendências em sua trajetória atual e vislumbrando seu possível e, até certo ponto, previsível futuro.
Marcelo de Barros Souza faz uma avaliação crítica, serena e corajosa, do aspecto celebrativo: acertos e desacertos são indicados e avaliados no âmbito de um processo evolutivo natural.
Para Leonardo Boff, o significado teológico-eclesial do encontro se manifesta como “novo modo de toda a Igreja ser”. O “novo” diz respeito tanto à figura histórica da Igreja, como à ação do Espírito Santo e à acolhida do Evangelho de Jesus Cristo.
Inserção das CEBs no atual processo de democratização do país: Como é que seus membros, em geral, coadunam desenvolvimento econômico e desenvolvimento social? Em que consiste o sonho de uma “nova sociedade”? São questões tematizadas e elucidadas por Manfredo Araújo de Oliveira.
Por sua vez, Jether Pereira Ramalho, ao relacionar o V encontro com os 6 anteriores, assinala avanços, identifica tendências e questões que caracterizam o estado atual e que deixam antever o possível rumo da cami¬nhada histórica das CEBs.
Presente nas contribuições acima apresentadas, o aspecto ecumênico deste 7° encontro recebe um voto de louvor no depoimento de Cláudio de Oliveira Ribeiro.
Além da temática estritamente ligada ao intereclesial, a REB apresenta também outros assuntos, certamente de interesse para seus leitores.
José Oscar Beozzo pensa a relação entre linguagem litúrgica e a experiência cosmológica e histórico-cultural na América Latina. A partir disto, pode perguntar: não seria possível, desejável e natural aos filhos deste continente exprimirem sua experiência do Deus Criador e Salvador de acordo com sua condição existencial? Relativizando a uniformidade, busca harmonizar cultura e expressão da fé, busca o uno na diversidade dos entes.
Como se apresentaria uma eclesiologia que assumisse corajosamente a condição histórica da Igreja? Quais seriam as mediações do Evangelho da alma africana em nosso país e como se apresentariam? É Eduardo Hoornaert que aborda este desafio.
O centenário da proclamação da República oferece ocasião para verificar o entrelaçamento da Igreja com diversos segmentos da sociedade civil. Em torno de que valores e como se dá o entrechoque dos respectivos projetos? Elói Dionísio Piva tenta entrever este fenômeno histórico-social na instauração do regime republicano no Brasil.
Simão Voigt, partindo de uma observação atinente à tradução portuguesa do prefácio da festa de Cristo Rei, apresenta o contexto sócio-cultural de Paulo como chave de leitura para entendermos a entrega — futura — do Reino ao Pai, por Jesus Cristo.
Enfim, estas e outras contribuições aqui apresentadas também nos ajudam a especificar a presença da cruz no mundo — e na Igreja — de hoje, presença esta que, no seu paradoxo, nos reconfirma o caminho do Senhor da Vida.
Frei Elói Dionísio Piva
Redator
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Neoconservadorismo pós-Puebla
V. 49 N. 194 (1989)Voltamos a apresentar algumas reflexões que nos parecem relevantes a partir da atividade teológico-pastoral em nosso contexto sócio-eclesial. Em geral, procuram detectar, qualificar e apresentar a significação latente em realizações históricas.
Francisco Cartaxo Rolim toma como objeto de análise publicações jornalísticas de caráter teológico-eclesial, no Brasil, veiculadas na chamada “grande imprensa” entre os anos de 1980 e 1986 e pouco simpatizantes em relação à Teologia da Libertação. Procura surpreender o sentido ou a perspectiva em seu discurso, bem como conexões e interesses a que os autores, conscientemente ou não, se filiam. Sua análise e conclusão, pertinentes, nos podem ajudar no discernimento da marca do produto e, portanto, na qualificação de opções teológico-pastorais.
Aidéticos, sinal de nossos tempos, apelo e desafio ético-pastoral aos homens de hoje, particularmente aos cristãos! Mas, para responder adequadamente é preciso também situar-se do melhor modo possível em relação ao fenômeno. Por isso, Antônio Moser, nesta segunda parte de seu estudo, nos apresenta alguns critérios, visando uma atuação pastoral lúcida e evangelicamente aceitável.
Uma das características mais salientes da autoconsciência da Igreja na América Latina nos nossos tempos está relacionada à experiência das CEBs. Se este é um modo evangélico de ser Igreja, nele serão constatadas as características gerais desta mesma Igreja: una, santa, católica e apostólica. O esforço de Pedro Carlos Cipolini se orienta no sentido de evidenciar esta relação, propondo ainda uma alteração na ordem das referidas notas características: apostólica, santa, una e católica:
Distinções correntes, tais como “Igreja-Estado”, “sagrado-profano “Política-política partidária”, podem parecer conceitos bem definidos e de meridiana aplicação. No entanto, Severino Vicente da Silva, ao analisar o papel dos católicos da Arquidiocese de Olinda e Recife no tocante a eelições, nos mostra como, em nome de determinadas concepções ideológicas ou de outros pressupostos, aconteceram interferências e, portanto, conflitos de múltiplos aspectos. Tratar-se de uma amostragem: distinções conceituais lógicas são relativas.
A figura de João Crisóstomo, humana e evangélica, nos é apresentada por Leonardo Meulenberg. A retidão moral e a opção libertadora em favor dos menos favorecidos por parte deste homem podem nos servir de modelo e nos confirmar na Tradição dos que traduziram em sua vida a causa do Reino.
Por fim, dois destaques: a avaliação critica de José Ariovaldo da Silva do recente Diretório da Sagrada Congregação para o Culto Divino, na tentativa de interpretá-lo a partir de nosso contexto sócio-eclesial; e, na secção de Documentação, por seu conteúdo e ocasião, o documento da 27a Assembléia da CNBB: “Exigências éticas da ordem democrática”.
Fr. Elói Dionísio Piva
Redator
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Aids: Apelo e Desafio Ético-Pastoral
V. 49 N. 193 (1989)Um dos méritos das contribuições apresentadas na REB é o de, à luz da fé e do saber humano, pensar e repensar alguns dos desafios que, particularmente em nosso meio, aos cristãos se apresentam. Este esforço intelectual testemunha o espírito profético no Povo de Deus, enquanto mantém este mesmo Povo vigilante em relação a ilusões que o possam adormentar e enquanto incentiva e qualifica sua ação evangelizadora.
O primeiro apelo/desafio aqui abordado por Fr. Antônio Moser nos vem dos aidéticos. A AIDS assusta. A AIDS desencadeia questionamentos de caráter ético que nos ajudam a desmascarar camuflagens da Verdade, a incentivar a busca pelo sentido da existência humana e a assinalar a presença de Deus.
Nem sempre é fácil relacionar engajamento pastoral e participação política. Nesta composição encontram-se identidade religiosa e autonomia das realidades terrenas, notadamente as de ordem social. Armando de Melo Lisboa nos propõe algumas considerações de interesse a respeito.
Direitos humanos no Brasil: uma bandeira que, no dizer de José Reinaldo de Lima Lopes, recuperou fervor revolucionário. Ele organiza com lucidez o que neste campo ocorreu recentemente e o que vem ocorrendo agora, indica aspectos novos desfraldados por esta bandeira e, de ouvido na Justiça, aponta a face insurrecional e utópica em toda a formulação positiva do Direito. Socialmente, os marginalizados são os portadores privilegiados desta dimensão.
Henri D’Aviau de Ternay e Lúcia Weiler caracterizam o fio condutor da corrente teológica, denominada “Teologia Narrativa”. Valorizando o aspecto histórico da salvação, constatam pontos de contato com a Teologia da Libertação.
Paulo Suess analisa com propriedade e sob diversos ângulos a relação entre evangelização e cultura e/ou culturas. O assunto é de constante atualidade para os cristãos, particularmente na América Latina, onde, no momento, se avalia os modos de evangelização aqui havidos no passado. Esta avaliação pode conduzir-nos ou reconduzir-nos à descoberta do Filho de Deus nos crucificados de hoje e, portanto, a acolher Sua Boa Nova.
Por fim, além de assinalar a sugestiva variedade de temas apresentados nas “Comunicações”, gostaria de chamar a atenção para a nova seção que a REB coloca à disposição de seus leitores, neste ano em que a CNBB propôs como tema da CF a Comunicação para a Verdade e a Paz: PALAVRA DO LEITOR — um espaço de diálogo e de intercomunicação.
Fr. Elói D. Piva
Redator
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Medellín: Vinte anos depois
V. 48 N. 192 (1988)Há 20 anos, um dos momentos mais lúcidos e determinantes da consciência cristã na América Latina. Acontecia em Medellín, de 26 de agosto a 6 de setembro, na 2a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano.
À pergunta pela consciência que a Igreja na AL tem hoje de sua missão, seria difícil, senão impossível, responder satisfatoriamente, sem referir-se a Medellín. Oportunamente, a perspectiva dos transcorridos 20 anos nos permite avaliar com maior acerto o destino daquele encontro. Aproveitando o ensejo, a REB deseja contribuir para este balanço, fazendo-se, outrossim, transmissora do intuito de fortalecer nossa memória cristã, de confirmar nossa fidelidade ao Senhor e de possibilitar referenciais que nos permitam, no presente, uma auto-consciência crítica de nossa missão, à luz da fé. Neste sentido, temos o prazer de apresentar algumas significativas contribuições.
José Oscar Beozzo, recolhendo depoimentos de participantes e testemunhas oculares brasileiras à Conferência, evoca a hodierna consciência cristã da identidade e da missão latino-americanas que então se apresentava e que hoje se apresenta.
Margarita Moyano Llerena dá seu depoimento pessoal: em Medellín, a redescoberta dos apelos da fé a partir da AL.
José Comblin, traçando as coordenadas principais da conjuntura sócio-eclesial da época, aponta-nos a novidade de Medellín e, no decorrer destes 20 anos, assinala sua recepção, alguns limites que foram percebidos e algumas prospectivas que, à luz da “nova evangelização”, hoje se apresentam.
Manuel Díaz Mateos mostra-nos como, a partir das condições históricas da população latino-americana, foi ouvido o apelo de Deus, apelo que alimenta a ação solidária e libertadora dos cristãos.
Ione Buyst caracteriza a ótica de Medellín em celebrações do mistério cristão, não deixando de indicar limites que as empobrecem e de fornecer sugestões que as enriqueceriam.
Outras valiosas contribuições, como a de Dom Ricardo Ramirez (USA), Maximiliano Salinas (Chile), Guillermo Meléndez (América Central), María Alicia Puente de Guzmán (México), Margarita Durán Estrago (Paraguai), depõem no sentido de registrar e qualificar a repercussão de Medellín em seus respectivos países.
Além disso, na parte dos Comunicados, Bernardo Cansi articula a relação entre Comunicação e Catequese – temática esta a ser ampliada e aprofundada na CF/89.
Riolando Azzi reevoca ministérios e características de nosso modo de conceber a fé no tempo colonial.
Frei Betto nos oferece a oportunidade de tomar conhecimento da fidelidade, de desafios e perspectivas dos cristãos na China.
Por fim, a equipe de “Serviço Pastoral dos Migrantes” nos reconduz à nossa realidade social, especificamente, à situação habitacional em São Paulo e aos esforços para melhorá-la, situação esta que nos lembra de perto, uma vez mais, neste natal, as circunstâncias do nascimento de Jesus.
A redação da REB deseja a todos Feliz Natal, graça e paz em 1989.
Fr. Elói D. Piva
Redator
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Gustavo Gutiérrez: Teologia a partir da tribulação
V. 48 N. 191 (1988)Em julho passado Gustavo Gutiérrez completou 60 anos. A REB se associa a este evento, propondo à consideração de seus leitores o alcance de sua contribuição para a teologia latino-americana.
Em decorrência de sua fé e do consequente compromisso cristão para com seus irmãos Gustavo Gutiérrez capta os anseios da realidade sócio-eclesial latino-americana, contribuindo significativamente para criar uma nova maneira de pensar a Deus e de a Ele relacionar todas as coisas. Em atitude de constante contemplação conjugada à práxis pastoral Gustavo se familiariza com grandes temas da tradição teológica e os apresenta em chave latino-americana, onde a figura do pobre aparece como lugar teológico de encontro com Deus e desencadeadora de dinamismo cristão. É um pouco do que Leonardo Boff nos apresenta.
Frei Betto, discorrendo sobre aspectos da proveniência étnico-cultural e do estilo de vida de Gustavo, apresenta-nos o “homem” Gustavo.
Por seu turno, Luiz A. G. de Souza frisa a capacidade de Gustavo se comunicar e demonstra a evolução conteudística nesta sua comunicação: sempre mais comprometida com a reflexão crítica a partir e sobre a prática pastoral latino-americana, à luz da experiência religiosa pessoal e das condições sócio-religiosas do continente.
Em seguida, o espaço deste fascículo se abre a uma temática diversificada. — Para Maria Clara L. Bingemer, após 20 anos de Medellín, é tempo de balanço. Ela o faz, perguntando-se pela contribuição da mulher na elaboração teológica latino-americana. Diante do caminho percorrido e das perspectivas que se abrem exclama: “alegrai-vos!”.
Manoel J. de F. Castelo Branco conclui a trilogia sobre a negação do “ser” na AL, considerando as condições de vida de milhares de pessoas e constatando a negação de suas reais possibilidades de ser. Tenta delinear e apontar saídas que permitam assegurar condições mínimas de existência para elas.
Neste mesmo horizonte Márcia M. M. de Miranda recoloca desafios para se estabelecer uma coerente relação entre exigências batismais e inserção no contexto sócio-eclesial latino-americano.
Antônio Moser aborda questões de alto interesse pastoral ligadas à família. Aponta critérios éticos e orientativos para a pastoral familiar.
Finalmente, Paulo Suess trata um tema relacionado ao evento dos quase 500 anos da conquista do Continente Americano: evangelização. Que tipo de leitura se faz da atuação evangelizadora no passado e que perspectivas estão se abrindo para o hoje da Igreja na AL?
Frei Elói Dionísio Piva, OFM
Redator
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Cristologia a partir da mulher
V. 48 N. 190 (1988)A conjugação de dados do quadro sócio-eclesial latino-americano com o querigma cristão e vice-versa poderia ser o denominador comum das diversificadas contribuições deste fascículo da REB.
Com perspicácia Ivone Gebara evoca pressupostos humanos e indica manifestações simbólicas no âmbito religioso-cultural latino-americano que buscam um salvador/uma salvadora e que configuram sua imagem.
Ana Maria Tepedino compartilha as conclusões de sua experiência a partir da reflexão de textos de Mc com mulheres das classes populares. Transparece a dimensão libertadora do Evangelho no cotidiano existencial.
Em decorrência de cristologia latino-americana, Benedito Ferraro ressalta o compromisso com os empobrecidos. A estreita inter-relação entre atuação histórica e anúncio do Reino dinamiza a ação da Igreja.
Antônio José de Almeida identifica e caracteriza a compreensão de Igreja em 3 esquemas sucessivos e amplamente representativos. Com a identificação e a explicitação de acentos eclesiais hodiernos aponta pressupostos a partir dos quais são estabelecidas prioridades pastorais e vice-versa.
Objeto da consideração de Marcelo de Barros Souza é a questão da terra. A celebração e o martírio são manifestações da espiritualidade que brota da experiência vital a ela relacionada.
Manfredo Araújo de Oliveira, em lúcida reflexão, especifica a qualificação ética da opção preferencial pelos pobres e aponta a constitucional relação dialética entre o histórico e a liberdade no/do homem.
Uma das mais graves questões de nossos dias è analisada com competência por Hugo Assmann: divida externa. Armadilhas da idolatria do capital e a pertinência da relação entre análise crítica de mecanismos de domínio econômico e apelo ético podem estabelecer critérios úteis ao discernimento da questão e sugerir pistas para seu equacionamento.
Na seção de Comunicações, o tema do negro, por José Geraldo Vidigal de Carvalho e Manoel J. de F. Castelo Branco; diversos aspectos da crise provocada pela AIDS e outros tantos apelos à iniciativa cristã, por Francisco de Assis Correia.
A redação alimenta a esperança de que as reflexões aqui apresentadas possam ser sugestivas aos leitores da REB e lhes deseja bons frutos desta intercomunicação.
Frei Elói Dionísio Piva, OFM
Redator
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Negrinho do Pastoreio: A Humilhação Redentora
V. 48 N. 189 (1988)Em abril do ano passado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizou sua XXV Assembleia Geral, ocasião em que redefiniu suas diretrizes pastorais para o próximo quadriênio. Sempre orientadas para a evangelização, foram, contudo, enriquecidas com significativos retoques. É destes retoques, fruto de aprofundamento na compreensão da verdade a ser anunciada e de renovação pastoral, que D. Valfredo Tepe analisa com conhecimento de causa o horizonte teológico que os sustenta e desafios pastorais neles implicados.
A sociedade brasileira evoca o centenário da abolição oficial da escravidão. Também os cristãos, portanto, participam: promovem a Campanha da Fraternidade centrada no tema: “A Fraternidade e o Negro". Eduardo Hoornaert comenta o texto-base: levanta interrogações e apresenta propostas, visando “encaminhar a questão eclesial do povo negro" entre nós.
Manoel J. de F. Castelo Branco, movendo-se em contexto latino-americano, aborda o tema do Negro do ponto de vista de seu lugar social, marcado pela negação de seu ser, pelo “não”. Sua reflexão visa contribuir para uma antropologia filosófica latino-americana.
Reunidos em Puebla, os Bispos nos convidam a reconhecer no rosto dos afro-americanos os traços do Cristo Sofredor (N° 20). Luiz Carlos Susin, em sugestiva abordagem teológica, aproxima a figura central da lenda rio-grandense do Negrinho do Pastoreio à figura do Servo Sofredor do Dêutero-lsaias. É o sofrimento e a morte substitutivos do inocente que redimem.
A celebração litúrgica da paixão-morte-ressurreição do Senhor se relaciona intimamente à crise representada pelo sofrimento e pela morte humanos. Em torno destes decisivos momentos Herminio Bezerra de Oliveira tece considerações religioso-antropológicas de significativo interesse pastoral.
Antônio Moser nos chama a atenção para desafios de caráter sócio-cultural e religioso que cercam a família hodierna. Ressalta a importância de se ter consciência dos condicionamentos e das perspectivas que se apresentam e se abrem à pastoral ligada à família.
Por fim, sem desmerecimento das demais comunicações, tomamos a liberdade de destacar as de Luiz Carlos Araújo e Roberto Van der Ploeg. Elas nos possibilitam acompanhar importantes aspectos da “encarnação” da Igreja em nosso Nordeste.
Possam ser de proveito as contribuições aqui apresentadas. FELIZ PÁSCOA!
Frei Elói D. Piva
Redator
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Leigos e Poder Decisório na Igreja
V. 47 N. 188 (1987)A temática abordada no presente fascículo diz respeito à qualidade do relacionamento humano, especificamente ao que se instaura a partir da prática pastoral. Ao proclamar o Evangelho do Senhor o cristão sempre há de questionar a correlação que se estabelece entre exigências do Reino e a realidade histórica.
A participação dos leigos nas decisões da Igreja é o tema retomado por Antônio da Silva Pereira, agora à luz do CDC. Com rigor ressalta a estreita relação existente entre diversos níveis de participação, particularmente o das decisões, e a respectiva fundamentação que, por sua vez, decorre da eclesiologia que a acompanha.
Tereza Maria Cavalcanti discorre sobre a presença e atuação da mulher no VI encontro de CEBs. A partir desta manifestação frisa a específica e destacada contribuição da mulher na vida da Igreja, notadamente no âmbito da Igreja local. Gostaria que o papel da mulher fosse mais reconhecido e valorizado.
Luiz Carlos Susin, com o auxilio de E. Levinas, diagnostica em profundidade a divisão no Ocidente entre I e III mundos, indicando pistas para uma alternativa histórica. Constata a prevalência da “identidade” sobre a “alteridade”, fonte de desequilíbrios no relacionamento humano e cristão. É, pois, a conversão ao pobre, à viúva, ao índio, ao negro, ao desvalido, ao vencido, enfim a todo marginalizado, que oxigena e qualifica teologicamente o relacionamento entre as pessoas e entre os povos.
Em outras palavras, Leonardo Boff também denuncia, no processo histórico europeu-latino-americano, a instauração de relações de desigualdade, dependência, marginalização e dominação. Colhe, porém, a comum aspiração pura, na diversidade, repropor o empenho pela utopia da comunhão fraterna entre os homens dos dois blocos em causa, através de uma participação sempre mais equitativa nos bens produzidos pela civilização que construímos.
Continuamos e concluímos, agora sob outro título, o testemunho de François de l’Espinay. Numa atitude de simpatia para com as manifestações religiosas dos negros de Salvador da Bahia e de amizade para com estes, aponta estreitezas havidas por parte de cristãos e sugere novos caminhos de compreensão e comunhão.
Neste mesmo contexto gostaríamos ainda de destacar a contribuição de José Beluci Caporalini, discorrendo sobre a visão do Homem na cultura banto; as notícias referentes à teologia dos negros, fornecidas por Fermino Luiz dos Santos Neto, e o resultado do encontro de seminaristas, religiosas e religiosos negros, relatado por José Geraldo Rocha e David dos Santos.
Que o olhar de infinita bondade d’Aquele que em nossa história nos visita a todos proporcione um feliz Natal!
Frei Elói D. Piva
Redator
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O Deus dos Orixás e o Deus de Jesus
V. 47 N. 187 (1987)Transcorridos 20 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, avalia-se sua incidência na vida da Igreja. Também desta forma este momento privilegiado de consciência eclesial continua despertando o convite pela redescoberta da razão de ser da Igreja no mundo e, portanto, de seu compromisso de fidelidade a Cristo e ao Homem sedento de vida.
É neste reavivado horizonte da relação Deus-Homem, Homem-Deus, que podem ser vistas as colaborações que a REB tem a alegria de colocar à disposição de seus leitores.
Com efeito, a consciente participação na missão libertadora de Jesus Cristo, no âmbito do pluralismo conflitivo hodierno, responde e conduz à vocação apostólica de toda a Igreja, particularmente daqueles de quem se espera uma maior sensibilidade no tocante à sorte dos irmãos, ou seja, do clero. Esta mesma dinâmica de fidelidade à missão evangelizadora da Igreja também move os passos de quem se detém e, à luz e em busca da Verdade do Reino, avalia o alcance de sua caminhada libertadora. Igualmente a expressão litúrgica do Povo de Deus: celebração do Mistério de Cristo, demanda esta mesma fidelidade ao Homem, lugar da emergência do divino e situado no contexto conflitivo de seu tempo e espaço físico-social. De maneira semelhante ainda, o resultado de avaliação crítica que identifica o agir da maioria dos cristãos nos inícios do processo colonial instaurado na América Latina como tendo sido também e sobremaneira opressor, convoca constantemente a consciência cristã de nossos dias para que, a partir da prática de Jesus, se oriente Àquele que também hoje, de modo particular, ao nosso encontro vem nas vestes de menosprezado. O testemunho do irmão que, vencendo preconceitos, se coloca em juvenil atitude de busca de comunhão fraterna com os mais marginalizados — sejam eles afro-brasileiros, mulheres-objeto, migrantes-carentes de terra e afeto — nos sugere sempre de novo e com vigor o caminho da “kenosis” do Amor pregado na cruz — ressurreição e vida.
A REB agradece aos articulistas e a todos os seus leitores deseja a alegria da comunhão na paz e no bem.
Frei Elói Dionísio Piva, O FM
Redator
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Medicina da Reprodução e Bioética
V. 47 N. 186 (1987)O questionamento em torno da vida nascente, do valor humano do ato conjugal, das possibilidades e implicações éticas da intervenção do homem no campo biogenético está na ordem do dia. Recentemente este questionamento recebeu contribuição orientativa por parte da S. C. para a Doutrina da Fé. O texto da “Instrução” e o abalizado comentário crítico de H. Lepargneur vêm contribuir para a colocação dos termos da questão, para a indicação de linhas orientativas, bem como para a demonstração de sua complexidade e pertinência.
Saudamos e anunciamos com prazer o retorno de Fr. Simão Voigt. Movendo-se com rigor metodológico e desenvoltura de mestre em matéria de sua especialidade, dilucida-nos a ambivalência do pensar paulino em Rm 3,23. Qual rua de mão dupla, sua colaboração representa um contributo tanto para a pesquisa exegética, quanto, consequentemente, para a pastoral bíblica.
Pedro A. Ribeiro de Oliveira, partindo da transformação sociológica em ato na Igreja, particularmente da experiência em CEBs na diocese de Vitória-ES, busca construir um conceito sociológico de “igreja”. Nisto faz com que sintamos a necessidade de precisão terminológica e clareza conceituai na definição deste conceito. Por sua vez, J. Comblin e E. Dussel, em suas colocações, nos incentivam na afeição pelo originante humano-cristão de estruturas eclesiásticas e expressões teológico-eclesiais, particularmente no que tange à distinção clérigo/leigo.
Diante da internacionalização do capital, em novembro do ano passado os bispos norte-americanos publicaram uma carta pastoral — “Justiça econômica para todos” —, confrontando relações econômicas com exigências de justiça social. Os irmãos Leonardo e Clodovis Boff analisam a visão geral da sociedade implícita na carta dos bispos, a partir de uma perspectiva de periferia, em relação àquele país.
Gostaríamos ainda de ressaltar a contribuição de L. Feracine relativa aos trâmites do recurso administrativo, previsto pelo novo CIC, e o levantamento de razões que estiveram na raiz do conflito do “Contestado”, um assunto que, por suas implicações sócio-religiosas, desperta renovado interesse.
No intuito de ser um veiculo de diálogo na reflexão teológico-pastoral, também desta vez a REB espera constituir-se em auxílio no comum esforço de acolher, situar e desempenhar a missão evangelizadora de toda a Igreja.
Frei Elói D. Piva
Redator
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Da Conquista ao Descobrimento: 500 anos de Evangelização na América Latina
V. 47 N. 185 (1987)Na última semana de fevereiro realizou-se em São Paulo um encontro ecumênico, reunindo vários especialistas da América Latina, para avaliar, numa primeira abordagem, os 500 anos de evangelização de nosso Continente. O encontro vinha patrocinado pela CNBB e pelo CIMI (Conselho Indigenista Missionário). Os trabalhos aí apresentados são agora publicados na REB e posteriormente, com novos, em forma de livro.
A perspectiva era a mais ampla possível: histórica, antropológica, intercultural, pastoral e teológica. Aproximamo-nos dos festejos dos 500 anos de presença de cristianismo em terras latino-americanas. Que destino conheceu aqui a evangelização? Qual foi a contribuição positiva, quais as distorções? Todo intento de resposta é perigoso, pois pode cair em graves unilateralidades, seja na ótica dos que promoveram a evangelização, tendendo para o triunfalismo, seja na ótica dos que sofreram a evangelização, pendendo para o criticismo. No encontro prevaleceu uma atitude critica que, por ser crítica, procura acolher as boas razões dos vários ângulos que a questão apresenta. Entretanto, por uma forte sensibilidade evangélica presente nos expositores, a visão dos vencidos e das vítimas da colonização e do processo de submetimento econômico e social ocorrido na América Latina ganhou especial atenção. Inegavelmente o evangelho penetrou capilarmente na realidade cultural dos povos ameríndios. Houve um processo de evangelização que ainda está em curso. Esta evangelização se fez em nome do Deus da vida e do Libertador Jesus Cristo; surgiram defensores dos indígenas, dos escravos e dos empobrecidos, seja da parte dos espanhóis e portugueses seja da parte dos atingidos pela evangelização.
Mas não podemos obviar as profundas distorções verificadas na pedagogia evangelizadora realizada em condições de expansão mercantilista e de colonização das terras invadidas por Portugal e Espanha. Quanto de evangelho, como boa-notícia e esperança de vida, poderiam transmitir os agentes da evangelização quando sabemos que eram os donos de escravos que evangelizavam os escravos, os invasores que pregavam o evangelho aos agredidos, as classes privilegiadas que anunciavam a mensagem cristã às classes subalternas, quando os poderosos e ricos pregavam aos explorados e pobres? O evangelho não podia, por estes canais inadequados, transmitir toda sua força libertadora e promotora da vida, da justiça e da liberdade.
Não é sem razão que o encontro fez sua a demanda do Papa no discurso à XIX Assembléia do CELAM em Santo Domingo: importa fazer “uma nova evangelização: nova em seu ardor, em seus métodos e em sua expressão”.
Os “Estudos Bíblicos”, que vinham inseridos na REB, serão a partir deste ano de 1987 publicados separadamente, como fascículos independentes. A aquisição poderá ser feita ou por assinatura da série ou por compra direta.
Frei Elói Dionísio Piva, OFM
Redator da REB
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A Proposta de uma Comunidade Fraternal
V. 46 N. 184 (1986)Também em nossos dias a relação entre Boa-Nova e cultura se reafirma, dialeticamente, ora como motivo de celebração, ora como objeto e ponto de partida de indagação teológica.
Neste sentido, D. Valfredo Tepe nos ajuda a relacionar manifestações culturais, particularmente latino-americanas, com o Evangelho: em nossa pluriforme e constante evolução cultural a Boa-Nova se nos apresenta como permanente fermento. Por isso, a contribuição de D. Valfredo se caracteriza por sua permanente atualidade e pertinência pastoral.
A Palavra-proposta de Deus e a palavra-resposta do homem se encontram culturalmente codificadas na SE e se apresentam qual perene fonte de inspiração. A sede pela água desta fonte é sentida, em nosso meio, de modo particular nas CEBs. Henri D'Aviau de Ternay e Lúcia Weiler oferecem-nos um instrumentário, elaborado a partir de experiência eclesial, que muito nos pode auxiliar na leitura dos textos sagrados.
Fr. J. P. Barruel de Lagenest, através de relatório apresentado à Comissão dos Direitos Humanos da ONU, chama nossa atenção para um fenômeno de exploração do homem pelo homem, na AL: a prostituição e o lenocínio — um desafio à consciência humana e cristã.
A partir do horizonte das CEBs e no intuito de abrir perspectivas, Francisco Cartaxo Rolim interroga Max Weber a respeito do que ele entendeu por “comunidade fraternal”.
Fr. Alberto Beckhäuser, partindo de difusa insatisfação oriunda de certa desarmonia advertida entre CF e contexto litúrgico quaresmal, nos aponta alguns passos já dados e nos sugere critérios no sentido de se alcançar uma integração mais compreensível entre CF e Quaresma.
Dentre as “Comunicações”, tomamos a liberdade de realçar o balanço da atual política indigenista brasileira, elaborado pelo Secretariado Nacional do CIMI; o levantamento de perspectivas teológicas do Terceiro Mundo, de Fr. Leonardo Boff; e as considerações de F. C. Rolim a propósito de artigo publicado pela Revista “30 Giorni”, sob o título de “O avanço das seitas”.
Exprimimos nossa confiança de que também os leitores da REB, em sua reflexão e prática pastoral, possam tirar proveito da diversificada possibilidade de partilha que nos è apresentada. Que o Deus-Menino a todos agracie com seu permanente natal e, em relação a nossos irmãos, nos inspire o mesmo amor que nos demonstrou ao assumir a condição humana.
Frei Elói D. Piva
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VI Encontro Intereclesial das CEBs: Trindade, GO
V. 46 N. 183 (1986)Nos dias 21 a 25 de julho do corrente ano celebrou-se o VI Encontro Intereclesial de CEBs na cidade de Trindade, no Brasil Central, onde há um templo dedicado ao Divino Pai Eterno. Lá estavam representantes de 300 dioceses, abençoados pelo Papa que enviou um telegrama de apoio àquele evento. O tema que centralizava os trabalhos era: “CEBs: Povo de Deus em busca da Terra Prometida". Durante quatro dias as quase 1.700 pessoas, membros das bases, agentes de pastoral, bispos (51 ao todo), representantes estrangeiros e de outras Igrejas e assessores celebraram a fé da Igreja dos oprimidos, sua esperança, seus padecimentos, martírios e vitórias. É difícil resumir em alguns tópicos a riqueza daquele acontecimento do Espírito. Os artigos que compõem todo este número da REB tentarão recolher algumas espigas daquela abundante colheita eclesial. Por nossa conta, numa leitura de cego que discerne apenas o mais saliente, diríamos que foi um verdadeiro Sínodo da Igreja-Povo-de-Deus no qual cabe ressaltar os seguintes núcleos fortes:
A fé preciosa das CEBs: é a opção radical pelo Evangelho no serviço dos outros, a começar pelos que Jesus privilegiou, os pobres. A fé é robusta e preciosa, provada na opressão, comprovada na busca da libertação querida por Deus. Esta fé é aquela de Tiago, viva pelas boas obras de justiça e de solidariedade.
As celebrações da vida de fé: as CEBs sabem discernir a presença de Deus e de sua graça nos mínimos detalhes da caminhada; aprenderam a expressar esta descoberta por celebrações, dramatizações e simbolizações de rara criatividade.
Fusão de todos para ser realmente comunidade: cada qual possui o seu lugar e o seu serviço eclesial, mas isso não cria desigualdades e privilégios: tanto os bispos como os coordenadores de comunidade, tanto o cantador como o assessor, estão a serviço da integração de todos dando origem à comunidade eclesial viva.
Encarnação nos pobres contra a pobreza: a Igreja dos pobres não é apenas uma proposta, mas aqui è uma verificação. Ela existe, uma Igreja que se insere no meio dos pobres para, na luz do projeto de Jesus, lutar contra a pobreza na direção da justiça do Reino e da convivência fraterna de todos com todos.
O projeto de Deus passa pelo projeto popular: as CEBs mostraram alta consciência de sua responsabilidade histórica. Querem assumir o projeto de Deus e realizá-lo a partir do povo que quer vida e os meios para a vida digna.
Haver alimentado sua fé e sua esperança com a esperança e a fé dos cristãos das CEBs é uma graça de Deus. As línguas de fogo estão acesas e iluminam toda a Igreja.
Frei Elói Piva
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Convocatória Geral em Prol da Libertação
V. 46 N. 182 (1986)O Documento da Congregação para a Doutrina da Fé “Libertatis Conscientia” recebeu boa acolhida no Brasil. Toda tomada de posição oficial dentro da Igreja precisa da “recepção” para se tornar eficaz e incidir sobre a vida eclesial.
Dom Frei Valfredo Tepe é membro da Congregação para a Doutrina da Fé e membro da Comissão Episcopal de Doutrina. Como tal acompanhou a elaboração em Roma do documento sobre a liberdade e a libertação cristã. Sua palavra esclarecedora e inteligente acerca da instrução vaticana goza de especial autoridade. Ela ajudará na reta “recepção” da doutrina no Brasil.
No espírito de reforçar a acolhida positiva do documento da Santa Sé e de manter aberto o desenvolvimento deste modo de pensar a fé numa perspectiva de libertação, Frei Clodovis e Frei Leonardo Boff escreveram uma carta ao Sr. Cardeal Josef Ratzinger. Para completar as reflexões num nível mais técnico e hermenêutico, Frei Clodovis Boff escreveu um trabalho quê merece ser estudado e discutido: “Retrato de 15 anos da Teologia da Libertação”.
O texto do Pe. José Comblin “O Tema da Reconciliação e a teologia na América Latina” é de grande relevância. Ele atende a um convite feito pelo CELAM para que os teólogos latino- americanos se ocupassem da questão. Comblin, com boa base bíblico-dogmática; desenvolve o tema de uma forma que evita plenamente a ideologização a que se prestou o tema da reconciliação na história da Igreja: legitimar uma ordem discricionária. O A. mostra bem que a teologia da reconciliação não é uma alternativa à teologia da libertação, antes uma exigência interna desta.
Paulo Suess estuda as incidências da “Libertatis Conscientia” sobre as culturas, particularmente as indígenas. Suas reflexões críticas são pertinentes: “A questão da filosofia da libertação” é suscitada entre nós por Manoel J. de F. Castelo Branco. Há uma lacuna no projeto global da libertação que deve ser preenchida. O A. mostra as exigências e aponta as direções.
O Brasil acaba de reatar relações diplomáticas com Cuba. É interessante ler o relato objetivo e critico e ao mesmo tempo esperançador que Frei Clodovis Boff fez de uma viagem de estudos é encontros em Cuba. Os comunicados de E. Hoornaert e de Luiz Alberto Gómez de Souza são dignos de estudo e reflexão. Aos nossos leitores auguramos bom proveito na leitura dos textos.
Frei Leonardo Boff
Frei Elói D. Piva
Redatores
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Teologia Feminista na América Latina
V. 46 N. 181 (1986)É um sinal dos tempos, pelo qual o Espírito nos interpela, a irrupção das mulheres no campo da teologia. Elas sempre estiveram presentes nas Escrituras, na história e na Igreja, mas estavam aí invisíveis. Elas, mais que outros sujeitos religiosos, creram e transmitiram a fé à posteridade. Entretanto, sua experiência de Deus, seu modo próprio de articular fé e vida e testemunhar a esperança da libertação e do novo céu e da nova terra não haviam sido ainda ditos, escritos, ouvidos e acolhidos dentro das Igrejas. Agora, na força do Espírito emerge mais e mais um rosto feminino da graça, do testemunho e da Igreja. Isso ajuda a todos os fiéis, varões e mulheres, a encontrarmos um Deus maior e a termos uma experiência mais globalizadora dos mistérios cristãos.
Nos dias 30 de outubro a 3 de novembro, 28 mulheres de diversas Igrejas latino-americanas e caribenhas reuniram-se em Buenos Aires para, a partir da ótica da mulher, compartilharem da riqueza da teologia em suas diversas modalidades de realização. A REB se sente honrada em abrir todo o seu espaço para comunicar a mensagem de nossas irmãs e companheiras de fé e de teologia, no contexto de opressão e libertação da América Latina e do Caribe.
Baste-nos considerar o índice das matérias para dar-nos conta da exuberância temática das reflexões que naquele encontro se fizeram. Não podemos comentar, como mereceriam, todos os trabalhos aqui publicados. Apontamos apenas alguns, numa espécie de leitura de cego, que percebe o que tem pontas e relevos. Certamente notável é o ensaio inaugural de Ivone Gebara, teóloga do Recife: “A mulher faz teologia”. Consuelo de Prado, do Peru, testemunha e reflete sua experiência de Deus: “Eu sinto Deus de outro modo”. A teóloga brasileira Tereza Cavalcanti foi a primeira mulher a publicar nas páginas da REB. Seu esforço de exegese e de atualização é convincente: “O profetismo das mulheres no Antigo Testamento”. Maria Clara Lucchetti Bingemer, professora no Rio de Janeiro e substituta de Frei Leonardo Boff na cátedra de Teologia Sistemática em Petrópolis, escreve um trabalho notável, mesmo quando confrontado com os melhores do gênero: “A Trindade a partir da perspectiva da Mulher”. Originais e tipicamente femininas são as reflexões da teóloga de Costa Rica, Elsa Tamez, “A força da nudez”.
A teologia só será plenamente teo-logia se for feita por varões e mulheres, pois tão-somente sendo mulheres varões é que somos imagens e semelhanças de Deus.
Frei Gentil Titton, O.F.M.
Diretor-Responsável e Redator-Substituto
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A Insurreição Evangélica
V. 45 N. 180 (1985)A consciência da missão social da Igreja e a opção pelos pobres fez com que se lesse com grande interesse a Tradição referente a estes pontos. Com surpresa descobrimos que as opções de hoje são, na verdade, as opções de sempre, pois nunca os pobres perderam a centralidade pastoral na Igreja. O Prof. L. Meulenberg, de Nimega (Holanda), que esteve lecionando entre nós, deixou-nos um erudito trabalho sobre a questão social na Igreja Antiga.
O Pe. Antônio da Silva Pereira é um canonista que guarda grande senso teológico. Assim aborda com cuidado e exímio conhecimento das fontes o tema “Participação dos fiéis nas decisões da Igreja à luz do Novo Testamento”. Ele continua uma investigação começada na REB de 1981.
Teófilo Cabestrero se celebrizou por reportar, na qualidade de teólogo e jornalista, os principais eventos dos últimos anos da Igreja na América Latina. Neste artigo sobre a “Insurreição Evangélica” mostra os níveis de oração, reflexão e solidariedade que o jejum do Ministro das Relações Exteriores da Nicarágua, Pe. Miguel D'Escoto, provocou na Igreja e no mundo.
Frei Bernardino Leers conclui seu estudo sobre “Moralistas e Magistério”. Com coragem, senso de equilíbrio e muita sinceridade aborda a questão sempre candente dentro da Igreja.
Nas Comunicações apresentamos um relato sobre o Encontro Nacional de Teólogos realizado em Belo Horizonte (julho de 1984), ocasião em que se fundou também a Associação dos Teólogos do Brasil. Esta organização certamente permitirá uma articulação maior entre os teólogos, favorecendo a produção teológico-pastoral.
O Pe. Antônio Alves de Melo aborda a missa como celebração onde dimensões fundamentais da vida são inseridas no mistério pascal do Senhor.
Chamamos atenção sobre o comunicado final do I Encontro Nacional de Presbíteros realizado em outubro. Ê uma voz nova que se faz ouvir na Igreja em comunhão com os pastores e com a grande caminhada do Povo de Deus.
Desejamos aos nossos leitores jovialidade e paz que irradiam do Presépio, onde o maior mistério da história se concretizou: a encarnação do Verbo eterno na mortalidade de nossa existência humana, Jesus de Nazaré.
Frei Gentil Titton, O.F.M.
Diretor responsável e redator substituto da REB
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Libertação e Causa Indígena
V. 45 N. 179 (1985)A convocação de um Sínodo Extraordinário para o final de 1985 está provocando em todas as partes avaliações da caminhada da Igreja nos últimos vinte anos. Em razão disso publicamos algumas pistas de discernimento do teólogo chileno Ronaldo Muñoz: Nosso caminhar de Igreja nos últimos vinte anos.
Muitas são as expectativas que cercam tal evento eclesial: será o Sínodo Extraordinário uma tentativa de reler o Vaticano II à luz do Vaticano I ou será um reforço de suas principais intuições para preparar a Igreja do segundo milênio? O conhecido historiador Giuseppe Alberigo presidiu um trabalho neste sentido no Instituto para as Ciências Religiosas de Bolonha.
Um dos maiores desafios de nossa evangelização reside na forma como se dá o encontro da Igreja com os povos indígenas. Paulo Suess, que trabalhou entre os indígenas, nos faz refletir acerca da Alteridade, Integração e Resistência, numa perspectiva de libertação.
Francisco de Assis Correia abre um espaço importante ao pluralismo teológico quando procura situar as várias tendências do pensamento atual dentro do Cristianismo.
Frei Bernardino Leers retoma um tema clássico, aquele da relação entre os moralistas e o Magistério. Recoloca a questão face às novas indagações que as ciências apresentam e postula grande criatividade por parte dos moralistas até numa perspectiva de ajuda ao Magistério.
Em 1981 Hernando Guevara apresentou no Instituto Bíblico de Roma uma alentada tese sobre a resistência judia contra Roma na época de Jesus, centrada especialmente no movimento zelota. O autor revê as concepções tradicionais. Apresentamos aqui um resumo de sua tese.
Não queremos deixar de enfatizar a importância da secção Estudos Bíblicos. Desta vez se trata de uma questão metodológica, cara aos que trabalham com círculos bíblicos e que se movem na atmosfera da teologia da libertação. Todo o número aborda um método, entre outros legítimos, de entender os textos sagrados, à luz das condições reais da vida do Povo de Deus e dos hagiógrafos e em atenção também às nossas condições reais de vida, como leitores.
Que o Espírito alimente a fé de todos, da qual renasce dia a dia a Igreja.
Frei Gentil Titton, O.F.M.
Diretor-responsável e Redator-substituto