v. 49 n. 196 (1989): Evangelização e Cultura

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Na IV Semana de Teologia Missionária promovida em São Paulo pela Linha II da CNBB, um grupo de teólogos, no âmbito dos 500 anos de evangelização na América Latina, elaborou uma série de reflexões críticas com vistas a uma nova evangelização. Especificamente, buscaram elucidar a relação entre Evangelho e culturas. Algumas das contribuições então proferidas compõem a maior parte deste fascículo da REB.

Roque de Barros Laraia se propõe a esclarecer o conceito antropológico de cultura. Constata o fenômeno da multiplicidade cultural e tenta compreender a origem e o desenvolvimento desta diversidade da expressão humana.

Paulo Suess demonstra que a dimensão religiosa do homem é veiculada culturalmente. Constata que esta vinculação se apresenta como um dom e uma tarefa e que, em seu momento histórico latino-americano, também foi e é desrespeitada.

Leonardo Boff faz uma avaliação critica de métodos de evangelização utilizados na Igreja: denuncia arrogâncias. Idealmente, aponta para caminhos de serviço, de humildade e de respeito: sonha que o encontro entre os atores sociais — agentes de cultura — suscite diálogo, provoque anúncio evangélico, libere e multiplique os bens do Reino.

Luís Carlos Susin nos relembra que a Revelação se dá e se caracteriza culturalmente, portanto, também diversificadamente. Acontece no encontro entre uma identidade e uma alteridade. Qualificação evangélica a temos na medida em que uma cultura propicia espaço à participação, à comunhão, à responsabilidade, à alegria.

Alberto Antoniazzi aborda panoramicamente a relação entre dogma e cultura. Lembra que a compreensão e a formulação do dogma se dão em nível cultural e que, sendo a cultura dinâmica por natureza, permanentemente se busca diálogo, liberdade de investigação e de expressão. Na prática da interação social, porém, esta aspiração faz estrada entre conflitos.

Rose Marie Muraro manifesta o desejo de um maior equilíbrio nas decisões da Igreja, mediante a superação de traços culturais discriminatórios em relação à mulher.

Angélico Sândalo Bernardino chama a atenção para o fenômeno cultural urbano. Assinala descompassos em muitos membros da Igreja com relação à realidade urbana, bem como o desafio e a chance que se apresentam à evangelização.

Xabier Gorostiaga nos introduz no atual contexto sócio-político da América Central. Sugere qual o compromisso que o cristão, para ser fiel ao anúncio do Reino e, portanto, àquele homem concretamente ali situado, deveria assumir nesta conjuntura.

Eduardo Hoornaert, independentemente do citado encontro teológico, elucida o horizonte religioso-cultural em que Las Casas se movia ao estabelecer contatos com habitantes do Novo Mundo, ou seja, na linha da Grande Tradição Legal do Ocidente, originada do Direito Canônico, e não na linha do Direito Internacional, constituído à revelia daquela Tradição. Trata-se de uma questão que continua candente também nos dias de hoje.

Enfim, Ivone Gebara nos conduz à CF/90. Ela resgata a experiência mística da mulher pobre em sua cotidiana busca e defesa da vida. Avalia criticamente aspectos do discurso da libertação e evoca a complexidade da vida que, em sua fragilidade e vigor, ultrapassa as possibilidades do discurso lógico-conceitual.

Frei Elói Dionísio Piva

Redator

Publicado: 2021-10-05