Vol. 65 No. 260 (2005): A Igreja que sonhamos

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Segundo o relato das fontes franciscanas, São Francisco, no início de sua conversão, buscando a vontade de Deus, certa ocasião, na igrejinha de São Damião, do crucifixo bizantino ali exposto ouviu o seguinte: Francisco, restaura minha Igreja, pois, como vês, está em ruínas! Então os olhos da percepção de Francisco se abriram e ele se deu ao trabalho de restauros materiais; aos poucos, estes seus olhos se abriram um pouco mais e ele se deu conta do leproso; e, ainda um pouco mais abertos, percebeu que, também e principalmente, devia restaurar a si mesmo; e a partir deste itinerário, jubiloso, integrou em alto grau e em Deus todas as criaturas... Onde ou em quem buscou e encontrou seu horizonte de utopia, de Igreja ideal? Foi inspiração divina, diria ele!

O Vaticano II, há 40 anos, também sob a mesma inspiração, gerou uma representação prática e ideal de Igreja, e desencadeou um movimento primaveril, reassumindo a convicção de uma Igreja, por natureza, semper reformanda. E indicou o caminho, pessoal e comunitário: por um lado, permanente retorno às fontes da Tradição e da gênese bíblica, e, por outro, escuta e fidelidade aos sinais dos tempos, ou seja, re-encantamento pelo homem novo, segundo a imagem de Jesus Cristo, imagem descoberta e servida nas mais diversas formas de evangelização na atualidade do mundo.

Hoje, como pessoas e Igreja, no início de um novo milênio e de um novo pontificado, num contexto social, cultural e religioso em rápidas e profundas mudanças, inspirados nas fontes da espiritualidade cristã, que sonho ou que utopia nos encanta? Que alegrias e esperanças, angústias e sofrimentos percebemos? E, sobretudo, que colaboração apresentamos? Nesta perspectiva:

João Batista Libanio constrói um paradigma de Igreja para os dias de hoje a partir da herança do Vaticano II e de Medellín, ressaltando alguns traços fundamentais desta herança, tanto em relação ao contexto do pluralismo mundial, como latino-americano, em particular. Retomar criativamente esta herança é fundamental.

Faustino Teixeira, situando a Igreja no pluralismo religioso atual, afirma que ela é convidada a perscrutar este sinal e a captar seu significado mais profundo, à luz do desígnio salvífico de Deus. Levada por cortesia espiritual e senso de hospitalidade, a ela caberia profundo respeito e simpatia por toda experiência religiosa.

José Comblin, evocando sua experiência pessoal, afirma ser preciso buscar e reencontrar a mística de Jesus Cristo e, a partir dela, elaborar um novo projeto de construção de sinais do Reino, atendendo principalmente aos pobres, que ele localiza prioritariamente na África.

Olga Consuelo Vélez Caro, também inspirada na herança do Vaticano II, explicita alguns apelos à Igreja, provindos do mundo atual; responder a eles significa ser fiel a Jesus Cristo hoje.

Carlos César dos Santos e Gilvander Luís Moreira, partindo da experiência do 11o Intereclesial, reafirmam a identidade das CEBs e, através delas, apresentam a utopia e uma prática libertadora da Igreja.

Igreja una, em torno do mistério de Cristo; santa, portadora da utopia de plenitude dos filhos de Deus; católica, na pluralidade das formas; apostólica, anunciadora da boa-nova de Jesus Cristo, na e pela prática da caridade! Que o Espírito te ilumine no contínuo discernimento da vontade de Deus em meio às novas situações sociais e te oriente nos caminhos de uma ação evangelizadora eficaz!

Elói Dionísio Piva ofm

Redator

Publié-e: 2005-04-26