Clérigos: a produção da subjetividade eclesiástica no seminário católico

Autores

  • Sílvio José Benelli Departamento de Psicologia Clínica do Curso de Psicologia da FCL/UNESP.

DOI:

https://doi.org/10.29386/reb.v71i282.1029

Palavras-chave:

Igreja Católica, Formação Clerical.

Resumo

Realizamos uma ampla investigação sobre a produção da subjetividade eclesiástica, tal como ela se processa na instituição seminário católico. Utilizando o instrumental teórico da análise institucional, mapeamos os operadores institucionais subjetivadores do dispositivo pedagógico seminário, enfocando tanto suas relações de poder quanto seus aspectos místicos, atentos às dimensões instituintes e instituídas. Os dados foram obtidos através da observação do cotidiano institucional e de entrevistas semidirigidas com os diversos atores institucionais, tanto no seminário filosófico quanto no teológico. Os resultados obtidos indicam que a formação do clero pode ser considerada como um domínio ainda flutuante, constituindo um campo de noções conexas que reconhecemos como sendo pertinentes aos saberes pedagógicos, psicológicos e teológicos. Há o desconhecimento e a denegação da dimensão totalitária e disciplinar do seminário. O modo de funcionamento hegemônico do seminário seria o asilar ou conventual, baseado no enclausuramento, na tutela completa da existência do candidato ao sacerdócio, na vivência grupal e no panoptismo, atraído pela força gravitacional do paradigma tridentino.

Abstract: We carried out a broad investigation about the production of ecclesiastical subjectivity as it occurs in the Catholic Seminary institution. Using the theoretical instrument of institutional analysis, we made a chart of the institutional operators that subjectify the pedagogical seminary device focusing both on its power relations and on its mystical aspects, carefully examining its instituting and instituted dimensions. The data was obtained through observation of the everyday institutional life and from semi-structured interviews with the various institutional actors, both in the philosophical and in the theological seminary. The results obtained indicate that the training of the clergy may be regarded as a still uncertain domain, constituting a field of related notions that we recognize as being pertinent to the pedagogical, psychological and theological forms of knowledge. There is a lack of knowledge and a denial of the totalitarian and disciplinary dimensions of the seminary. Its hegemonic way of functioning would be similar to that of an institution or a convent, based on seclusion, on the full control of the life of the candidate to priesthood, on collective living, on panoptism (full time surveillance), all attracted by the gravitational force of the Tridentine paradigm.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALTOÉ, S. (org.) (2004), René Lourau: analista institucional em tempo integral, Hucitec, São Paulo.

ANJOS, M.F. (org.) (2004), Novas gerações e Vida Religiosa: pesquisa e análises prospectivas sobre a Vida Religiosa no Brasil, 2ª ed., Santuário, Aparecida.

BAREMBLITT, G.F. (1998), Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática, Record/Rosa dos Tempos, Rio de Janeiro.

BARUS-MICHEL,J.(2004), O sujeito social, PUC Minas, Belo Horizonte.

BENELLI, S.J. (2004), A instituição total como agência de produção de subjetividade na sociedade disciplinar, em: Estudos de Psicologia 21/3, 237-252.

______ (2006a), Pescadores de homens: estudo psicossocial de um seminário católico, Unesp, São Paulo.

______ (2006b), Paradigmas eclesiais e pedagógicos na formação sacerdotal institucional: uma investigação em Psicologia Social, em: REB 66/264, 807-841.

______ (2007), A produção da subjetividade na formação contemporânea do clero católico. Tese de doutorado em Psicologia Social, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo – não publicada.

______/COSTA-ROSA, A. (2002), A produção da subjetividade no contexto institucional de um seminário católico, em: Estudos de Psicologia 19/2, 37-58.

______ (2003), Geografia do poder em Goffman: vigilância e resistência, dominação e produção de subjetividade no hospital psiquiátrico, em: Estudos de Psicologia 20/2, 35-49.

______ (2006), Movimentos religiosos totalitários católicos: efeitos em termos de produção de subjetividade, em: Estudos de Psicologia 23/4, 339-358.

BOCK, A.M.B./GONçALVES, M.G./FURTADO, O. (orgs.) (2002),

Psicologia Sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia,Cortez,São Paulo.

BORDENAVE,J.E.D.(1987), O que é participação, Brasiliense, São Paulo.

BRIGHENTI, A. (1988), Metodologia para um processo de planejamento participativo, Paulinas, São Paulo.

CAMPOS, G.W.S. (2000), Um método para análise da co-gestão de coletivos, Hucitec, São Paulo.

CAMPOS, R.H.F. (org.) (1996), Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia, Vozes, Petrópolis.

______/GUARESCHI, P.A. (orgs.) (2000), Paradigmas em Psicologia Social: a perspectiva latino-americana, Vozes, Petrópolis.

CASTRO, C.P. (2000), Por uma fé cidadã. A dimensão pública da Igreja: fundamentos para uma pastoral da cidadania, Umesp/Loyola, São Paulo.

CENCINI, A. (1997), Por amor: liberdade e maturidade afetiva no celibato consagrado, Paulinas, São Paulo.

______/MANENTI, A. (1988), Psicologia e formação: estruturas e dinamismos, Paulinas, São Paulo.

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (1995), Formação dos presbíteros da igreja no Brasil: diretrizes básicas, Paulinas, São Paulo.

______ (2001), Metodologia do processo formativo: a formação presbiteral na igreja do Brasil, Paulus, São Paulo.

COSTA-ROSA, A. (2000), O modo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao modo asilar, em: P.D.C. AMARANTE (org.),

Ensaios de Loucura & Civilização, Fiocruz, Rio de Janeiro, p. 141-168.

______ (2006), A instituição de saúde mental como dispositivo social de produção de subjetividade, Unesp, Assis – Mimeografado, não paginado. COTRIM, G. (1993), Educação para uma escola democrática. História e Filosofia da Educação, Saraiva, São Paulo.

COZZENS, D.B. (2001), A face mutante do sacerdócio. Reflexão sobre a crise da alma do sacerdote, Loyola, São Paulo.

______ (2004), Silêncio sagrado: negação e crise na Igreja, Loyola, São Paulo.

FINKLER, P. (1990), O formador e a formação, Paulinas, São Paulo.

FOUCAULT, M. (1982), A vontade de saber, Graal, Rio de Janeiro.

______ (1984), A verdade e as formas jurídicas, PUC, Rio de Janeiro.

______ (1999), Vigiar e punir: nascimento da prisão, Vozes, Petrópolis.

GALLO, S. (2000), Transversalidade e educação: pensando uma educação não-disciplinar, em: N. ALVES/R. LEITE (orgs.), O sentido da escola, DP&A, Rio de Janeiro, p. 17-41.

GOFFMAN,E. (1987), Manicômios, prisões e conventos, Perspectiva, São Paulo.

JOÃO PAULO II (1992), Sobre a formação dos sacerdotes: pastores dabo vobis, Paulinas, São Paulo.

LAPASSADE, G./LOURAU, R. (1972), Chaves da sociologia, Civilização

Brasileira, Rio de Janeiro.

LEFÈVRE F. (2000), O discurso do sujeito coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa, Edusc, Caxias do Sul.

LIBANEO, J.C. (1994), Tendências pedagógicas na prática escolar, em: C.C. LUCKESI, Filosofia da Educação, Cortez, São Paulo, p. 53-74.

LIBANIO, J.B. (1984), A volta à grande disciplina, Loyola, São Paulo.

______ (2005), Impactos da realidade sociocultural e religiosa sobre a vida consagrada a partir da América Latina. Busca de respostas, em: Perspectiva Teológica 37/101, 55-88.

LOURAU, R. (1996), A análise institucional, Vozes, Petrópolis.

MACIEL, M. (1992), A formação integral do sacerdote católico, Loyola, São Paulo.

MARMILICZ, A. (2003), O ambiente educativo nos seminários maiores do Brasil: teoria e prática, Vicentina, Curitiba.

MEDEIROS, K.M.C./FERNANDES, S.R.A. (orgs.) (2005), O padre no

Brasil: interpelações, dilemas e esperanças, Loyola, São Paulo.

MÉZERVILLE, G. (2000), Maturidade sacerdotal e religiosa: um enfoque integrado entre psicologia e magistério, Paulus, São Paulo.

MORO, C. (1997), A formação presbiteral em comunhão para a comunhão: perspectivas para as casas de formação sacerdotal, Santuário, Aparecida.

NASINI, G. (2001), Um espinho na carne: má conduta e abuso sexual por parte de clérigos da Igreja Católica no Brasil. Visão geral das questões relacionadas, Santuário, Aparecida.

NOUWEN, H.J.M. (2001), Intimidade: ensaios de psicologia pastoral, Loyola, São Paulo.

ORGANIZAÇÃO DOS SEMINÁRIOS E INSTITUTOS TEOLÓGICOS DO BRASIL (2004), A formação presbiteral: memórias e perspectivas, Osib, Brasília.

PEREIRA, W.C.C. (2004), A formação religiosa em questão, Vozes, Petrópolis.

RIZZUTO, A.M. (2003), La crisis en la Iglesia en los Estados Unidos. Documentos de Trabalho. Acessado em setembro 10, 2005. Disponível em: http:www.uccor.edu.ar/imagenes/documentos/Conferencia-Dra.-Rizzuto.pdf VALLE, E. (org.) (2003), Padre: você é feliz? Uma sondagem psicossocial sobre a realização pessoal dos presbíteros do Brasil, CNBB/CNP/Loyola, Brasília.

VEIGA-NETO, A. (2003), Foucault & a educação, Autêntica, Belo Horizonte.

Downloads

Publicado

2011-02-20

Como Citar

Benelli, S. J. (2011). Clérigos: a produção da subjetividade eclesiástica no seminário católico. Revista Eclesiástica Brasileira, 71(282), 325–348. https://doi.org/10.29386/reb.v71i282.1029