Vol. 55 N.º 217 (1995): Sínodo/94: Vida Consagrada
O Amor é que move o universo, dizia Dante, aludindo ao segredo de todos os seres e de todas as coisas.
Consequentemente, todo movimento e toda atividade, particularmente a humana, são expressão do amor e, por sua vez, geram mais amor. Talvez pareça enfadonho recordar a intuição do poeta, sendo que expressou o óbvio. Tão óbvio como lembrar que o motor possibilita o deslocamento do carro; água e comida, uma longa caminhada; o repouso, restabelecimento das energias. Alusões claudicantes, certamente, mas, uma vez que só vivemos e agimos sabiamente na força e pela força do Espírito, é de vital importância ajustar o motor, providenciar água e comida, retirar-se com o Senhor.
Escrevo isto, aludindo à direção geral dos ensaios – artigos e comunicados – contidos neste fascículo. Eles expressam a presença e a busca do combustível essencial para a contemplação e a atividade histórica da Igreja.
Dom Aloísio Lorscheider, fazendo um relato do último Sínodo dos bispos, não tem dúvida de que, na ocasião, se tratou de uma dimensão vital da e para a Igreja, ou seja, de sua vocação à santidade, manifestada de maneira evidente na consagração religiosa. A busca das raízes desta consagração significa reencontrar a alma, o espírito. Consagrar-se significa, sim, retirar-se do mundo, mas retirar-se significa principalmente mergulhar no coração do mesmo mundo e assim fecundar a história.
Nilo Agostini aborda uma temática tradicional – as virtudes – e reaviva a íntima e indispensável relação entre a força de Deus e o vigor da atuação histórica, relação esta que todo cristão é convidado a cultivar.
Francisco de Assis Correia escreve sobre bioética. Muito se fala hoje em dia sobre o assunto, e não é indiferente dar-se conta ou não dos apelos que, na veste da cultura atual, nos vêm da ética da vida, tomada quer em sentido amplo quer em sentido restrito.
Bemardino Leers, em relação à família, nos evidencia a necessidade de permanentemente caminhar com a evolução da história cultural que a envolve, cultivando, de maneira variada, os valores éticos que lhe são próprios.
Márcio Fabri dos Anjos dialoga com a comunidade científica biomédica sobre ética e clonagem humana. Diante das possibilidades da manipulação genética fica mais evidente a responsabilidade ética do agir humano.
Ildefonso Silveira, ao ensejo dos 800 anos do nascimento de Santo Antônio – o santo mais popular da religiosidade brasileira – e decodificando expressões culturais do século XIII, evidencia nele a atividade de evangelizador.
Finalmente, José Maria Vigil nos lembra que, diante de algumas circunstâncias históricas adversas, é preciso recobrar esperança e, acima de tudo, ter os olhos fitos na utopia de Jesus Cristo.
Elói Dionísio Piva, OFM
Redator