Vol. 64 N.º 255 (2004): A singularidade de Jesus
A REB tem o prazer de abrir este fascículo com um ensaio que realça a singularidade de Jesus e de sua missão. Sinivaldo Silva Tavares consegue este resultado a partir de uma releitura dos testemunhos evangélicos em que qualifica o relacionamento de Jesus com as pessoas de seu tempo e, no seio da Trindade, com o Pai e com o Espírito Santo. Uma vez evidenciada, a própria singularidade sinaliza o surpreendente valor de Sua humanidade bem como o desconcertante paradoxo da pessoa humana. Ora, a humanidade de Jesus, pressupondo e partindo da plataforma do corpo enquanto possibilidade de relacionamento, articula o humano com o divino e o divino com o humano. Assim, o humano enquanto fragilidade e possibilidade de perversão remete para o drama de Sua paixão e morte e vice-versa; enquanto possibilidade de comunicação vital, remete para o encanto de Sua pessoa e missão. Portanto, vivendo nós hoje num contexto social marcado por brutal violência, que atinge o ser humano em seu corpo e em sua alma, a originalidade com que Jesus lida com as pessoas resgata a dignidade e a beleza original das mesmas: elas são sacramento do encontro entre o humano e o divino. O cuidado e o desvelo para com as necessidades físicas e sociais das pessoas, o carinho e a atenção a elas dispensados são distintivos dos seguidores de Jesus e fazem com que estes, quanto mais humanos, mais divinos se tornem, e quanto mais divinos, mais humanos!
A singularidade de Jesus, assim como percebida por admiradores e seguidores seus, é levada ao cinema. Pois, uma vez que Sua pessoa encanta e interpela a todos, também a linguagem que a exprime não é monopólio de alguma pessoa particular, grupo ou instituição, mesmo que de caráter religioso. Assim, através do enredo e do dinamismo da imagem, também o diretor recupera, reinterpreta e atualiza, a partir de seu ponto de vista, a memória de Jesus. E esta interpretação – como muitas outras – funciona como ponto de partida ou proposta para a aproximação da verdade que Nele encanta, liberta e salva. Mas, como são diversas e diferentes as aproximações e os caminhos, Carlos Eduardo Brandão Calvani se propõe acompanhar os leitores numa visita às películas sobre Jesus, a começar pela de Mel Gibson – “A paixão de Cristo”.
Da linguagem cinematográfica e das hermenêuticas ali transmitidas passamos à linguagem e à hermenêutica do livro bíblico do Apocalipse, onde o cordeiro imolado é figura-símbolo de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, chave para decifrar o sentido e o desfecho utopicamente feliz da história individual e coletiva dos que o seguem. É Isidoro Mazzarolo que percorre caminhos da exegese atual e retraduz a hermenêutica do Apocalipse para as pessoas de hoje.
Assim, de expressão em expressão, passamos, agora, para a linguagem ritual-simbólica. Francisco Taborda convida os leitores a transitarem da celebração dos sacramentos da Igreja católica à teologia dos mesmos. Portanto, a linguagem simbólico-sacramental também desempenha a função de introduzir no mistério celebrado, remeter à dimensão eclesial e sócio-transformadora aqueles que, membros de Seu corpo eclesial e humano, também são convidados a construí-lo.
Por sua vez, José Antônio de C.R. de Souza, acolhendo a oportunidade oferecida pela conjugação entre as próximas eleições municipais no Brasil e a popularidade de Santo Antônio, sintetiza a concepção ideal do Santo e da tradição cristã em relação ao poder público: instrumento a favor da justiça e da solidariedade humana. Uma mensagem sempre válida e oportuna!
Para fechar o fascículo, José María Vigil sonda o amanhã. Especificamente, procura conjugarosfundamentosdavidaconsagradacomosrumosdaatualculturasócio-religiosa. Para isso, repropõe a categoria “reino de Deus” para, com seu potencial de humanidade e utopia, recentralizar a vida consagrada ou religiosa no que considera ser seu específico. Estas reflexões repensam e ilustram o mistério e a missão da Igreja!
Elói Dionísio Piva, ofm
Redator