Vol. 68 N.º 269 (2008): Dizer Deus hoje
Prossigamos no tempo, enquanto nos for dada esta graça, iniciando este novo ano em nome de Deus! Mas a que ou a quem desejamos aludir quando dizemos “Deus”? A um dado historiográfico? A uma indicação intelectual apenas? A uma experiência pessoal e coletiva de transcendência? A uma aproximação ao/do totalmente Outro? A palavra “Deus”, todas as palavras e expressões humanas são relativas e, portanto, pouco importam por elas mesmas? Num contexto cultural, particularmente em nível filosófico, onde a tradição não importa tanto quanto a experiência pessoal, é indispensável percorrer os caminhos do humano, do ato de fé na revelação do segredo da Vida. E como é bom e necessário encontrar, acolher e projetar as fontes de um estilo de vida que carregue o sentido das palavras, da Palavra, de “Deus”! Relativo e absoluto, um “diálogo” estimulante e articulado com conhecimento de causa por Tiziano Tosolini.
A relação entre pobres e Mistério santo está presente em todas as religiões. De modo peculiar no cristianismo, por se referir a Jesus Cristo e à sua práxis libertadora. Recentemente, presente no Vaticano II, nas conferências de Medellín, Puebla, Santo Domingo, é confirmada em Aparecida como opção preferencial. Ela decorre da própria missão dos seguidores de Jesus Cristo, que identificam ou são conduzidos a perceber o convite de seu Senhor nos clamores dos pobres e excluídos e hoje. O desafio de vivenciar esta vocação é estimulado por Antônio Alves de Melo.
Referimo-nos, acima, a Medellín. Uma referência que, em 2008, chega aos 40 anos! Uma razoável distância no tempo. A partir de tudo o que esta distância já carrega, o que ainda e mais ainda é possível perceber a cerca daquela Conferência? Faz-se ela presente, estimulante e orientadora hoje? Sinivaldo Silva Tavares no-lo assegura, acenando para a criatividade da “recepção” do Vaticano II, naquela ocasião – o que não deixa de ser uma brilhante luz.
Há pouco, por ocasião do centenário do nascimento de Emmanuel Mounier, não poucos admiradores,trouxeramnovamenteàtonaaimportânciahumanaepastoraldeseuequilíbrio dialético entre vida interior e abertura ao social, entre vida ativa e contemplativa, e valorização da liberdade responsável. Confira com Paolo Cugini a pertinência pastoral de Mounier.
A justiça, particularmente a justiça social, sempre foi e continua sendo um horizonte do sonho humano. Não poucos sonharam que, através do desenvolvimento científico-tecnológico, a humanidade se aproximaria da realização deste sonho. Nesse caminho, dá-se conta, porém, de descaminhos tecnológicos, como, p. ex., o efeito dos desequilíbrios ecológicos, provocados pela própria ação humana. Onde está, pois, a chave do equilíbrio ou do desequilíbrio? Flaviano Oliveira Fonseca, reporta o que o filósofo Hans Jonas tem a partilhar sobre esta chave, que ele aponta como sendo a ética da responsabilidade. Como incentivar, porém, esta consciência e este modo de se relacionar com os seres humanos e não humanos?
Embates entre iluminismo e fé estão de volta. Na verdade, sempre estiveram presentes, pois são dimensões possíveis do ser humano. Mas, ao que tudo indica, pode-se mesmo verificar a oxigenação do assunto. À luz do caminho andado, Ferdinand Azevedo propõe uma “leitura” do conflito entre Dom Vital e o regalismo brasileiro do século XIX, chamando a atenção para os antecedentes do conflito, para o contexto, para um panorama amplo e abrangente. Uma leitura com olhos de hoje.
Feliz 2008!
Elói Dionísio Piva ofm
Redator