v. 71 n. 283 (2011): Sociedade Secularizada
Seja qual for o segmento social em que alguém é classificado ou com o qual, de alguma forma, ele mesmo se identifica ou se filia, estará sempre num segmento, numa das partes de um todo. Temos, pois, o conjunto e sua diversidade. E, talvez seja hoje mais evidente do que no passado apercepção de que se faz parte de uma sociedade pluralista, sob todos os pontos de vista, e, com muitos matizes seja a nível de sonho e de realização, democrática. Ora, para muitos, isto é dizer o óbvio; para outros, talvez nem tanto, uma vez que o conceito de sociedade democrática, na interação do plural, envolve um processo de convivência, portanto, um dinamismo que a coloca em permanente estágio de construção. Mas, na percepção hodierna em que a sociedade e a vida como um todo aparecem mais pluralistas que no passado, levanta-se a pergunta pelo fundamento do edifício plural e democrático, fundamento que seria colocado a partir de um consenso básico. Nesta costura dos fundamentos da convivência a Igreja católica ou os católicos, em geral, também são chamados a participar. Esta participação significa oferecer sua contribuição, já que não é mais uma determinada igreja ou religião, nem mesmo simplesmente o fator religioso que determina o ethos social. Mas, é ainda a construção do próprio “ver”, de sua consciência, e da percepção da necessidade de se chegar a resultados que solidifiquem a convivência a partir de valores que sejam de consenso, que é ensaiada neste fascículo por Mário de França Miranda. Para isso, deve, sim, a Igreja católica cuidar e até cuidar mais da formação de seus quadros. “É preciso – como afirma o Autor –, que a hierarquia não só dê testemunho de sua fé e demonstre zelo pastoral, mas que também apresente um maior conhecimento da sociedade atual, de sua complexidade, de seus condicionamentos, das tensões nela presentes, para não se comportar de modo simplista, ingênuo, moralizante diante dos problemas que atingem nossos contemporâneos... e se refugie em aspectos externos do culto”.
Prosseguindo o ensaio de compreensão da autoconsciência, Emerson Sena da Silveira, vê nas atuais manifestações do sagrado e no emergente paradigma ecológico o entrecruzamento das vertentes do racional e do romântico, ou seja, modulações diferentes de aspectos já manifestados no passado da história humana, da civilização ocidental ao menos, mas evidentemente sob novas modulações.
Em meio à palavra humana, à sociologia e antropologia acima apontadas, Dom Filippo Santoro, comenta a Exortação Apostólica Pós-Sinodal A Palavra do Senhor e identifica e apresenta alguns de seus destaques. Sobressai a Tradição viva da Igreja, que é a dinâmica de encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, do qual decorre a tradição escrita, a Bíblia incluída.
Olga Consuelo Vélez Caro, da Colômbia, e José Comblin, in memoriam, levam avante o “aquecimento” para, por ocasião dos 50 anos do início do Concílio Vaticano II, manter e fortalecer o desejo de reinventar suas inspirações.
A Comunicação litúrgica é objeto do artigo de José Ariovaldo da Silva. Uma íntima relação entre o que se poderia assinalar como “vivência do mistério” e sua linguagem ou expressão é proposta como ideal.
Por fim, na seção de artigos, Sílvio José Benelli, com relação a outros artigos seus, prossegue a análise e a avaliação dos seminários católicos enquanto instituições destinadas à formação sacerdotal. Uma pergunta subjaz: em seu conjunto, como instituição, o seminário católico alcança sua missão de ajudar o educando a fazer uma determinante experiência como Deus de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, a construir uma adequada interação com as pessoas de hoje? Que resultados são observados? Que resultados sonhar?
Elói Dionísio Piva ofm
Redator