Vol. 47 No. 185 (1987): Da Conquista ao Descobrimento: 500 anos de Evangelização na América Latina

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Na última semana de fevereiro realizou-se em São Paulo um encontro ecumênico, reunindo vários especialistas da América Latina, para avaliar, numa primeira abordagem, os 500 anos de evangelização de nosso Continente. O encontro vinha patrocinado pela CNBB e pelo CIMI (Conselho Indigenista Missionário). Os trabalhos aí apresentados são agora publicados na REB e posteriormente, com novos, em forma de livro.

A perspectiva era a mais ampla possível: histórica, antropológica, intercultural, pastoral e teológica. Aproximamo-nos dos festejos dos 500 anos de presença de cristianismo em terras latino-americanas. Que destino conheceu aqui a evangelização? Qual foi a contribuição positiva, quais as distorções? Todo intento de resposta é perigoso, pois pode cair em graves unilateralidades, seja na ótica dos que promoveram a evangelização, tendendo para o triunfalismo, seja na ótica dos que sofreram a evangelização, pendendo para o criticismo. No encontro prevaleceu uma atitude critica que, por ser crítica, procura acolher as boas razões dos vários ângulos que a questão apresenta. Entretanto, por uma forte sensibilidade evangélica presente nos expositores, a visão dos vencidos e das vítimas da colonização e do processo de submetimento econômico e social ocorrido na América Latina ganhou especial atenção. Inegavelmente o evangelho penetrou capilarmente na realidade cultural dos povos ameríndios. Houve um processo de evangelização que ainda está em curso. Esta evangelização se fez em nome do Deus da vida e do Libertador Jesus Cristo; surgiram defensores dos indígenas, dos escravos e dos empobrecidos, seja da parte dos espanhóis e portugueses seja da parte dos atingidos pela evangelização.

Mas não podemos obviar as profundas distorções verificadas na pedagogia evangelizadora realizada em condições de expansão mercantilista e de colonização das terras invadidas por Portugal e Espanha. Quanto de evangelho, como boa-notícia e esperança de vida, poderiam transmitir os agentes da evangelização quando sabemos que eram os donos de escravos que evangelizavam os escravos, os invasores que pregavam o evangelho aos agredidos, as classes privilegiadas que anunciavam a mensagem cristã às classes subalternas, quando os poderosos e ricos pregavam aos explorados e pobres? O evangelho não podia, por estes canais inadequados, transmitir toda sua força libertadora e promotora da vida, da justiça e da liberdade.

Não é sem razão que o encontro fez sua a demanda do Papa no discurso à XIX Assembléia do CELAM em Santo Domingo: importa fazer “uma nova evangelização: nova em seu ardor, em seus métodos e em sua expressão”.

Os “Estudos Bíblicos”, que vinham inseridos na REB, serão a partir deste ano de 1987 publicados separadamente, como fascículos independentes. A aquisição poderá ser feita ou por assinatura da série ou por compra direta.

Frei Elói Dionísio Piva, OFM

Redator da REB

Publié-e: 2021-11-03