A paroquialização como fenômeno geopolítico e estratégia biopolítica no processo de formação da república no Brasil

Autores

  • Rogério Luiz de Souza Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

DOI:

https://doi.org/10.29386/reb.v78i310.785

Palavras-chave:

República laica, Igreja católica, Paróquias, Geopolítica, Biopoder.

Resumo

O artigo tem o objetivo de compreender o processo geopolítico de constituição da República no Brasil a partir das tecnologias do poder pastoral, disciplinar e normalizador adotadas pela Igreja católica. Parte-se do pressuposto de que foi preciso reativar e redefinir o poder pastoral enquanto tecnologia de poder e atribuir à Igreja católica a tarefa de reorganizar a repartição espacial do território brasileiro como condição para a multiplicação dos dispositivos disciplinares na sociedade e para o controle normalizador da população e sua prevenção biossocial. Mais que a criação de dioceses, a proliferação de paróquias constituiuse como a mais eficaz maquinaria geopolítica dos primeiros tempos da República. Esta governabilidade republicana requereu a constituição de uma geopolítica por meio de um poder pastoral para fazer aparecer um novo paradigma tecnológico e ordenador do exercício do poder normalizador e estatal sobre a população brasileira. A República que nasceu no Brasil precisou transformar seu próprio território em mecanismo estratégico e tecnológico de controle da sua população, em vista de uma lógica do biopoder. A paróquia, como organismo administrativo da Igreja católica e modelador do espaço geográfico e político brasileiro, mostrou-se o melhor veículo da ação governamental na tarefa de apresentar a República ao Brasil.

Abstract: The objective of the article is to understand the geopolitical process of the Brazilian Republic’s constitution starting from the technological pastoral power, the disciplinary, and the normalizing power adopted by the Catholic Church. It is assumed that it was necessary to reactivate and redefine pastoral power as a technological power and to assign to the Catholic Church the task of reorganizing the spatial distribution of Brazilian territory as a condition for the multiplication of disciplinary devices in society to normalize the control of the population. During the early period of the Republic, the proliferation of parishes established an even more powerful and effective geopolitical power and control over the population than the dioceses. This republican governance required the use of geopolitics by the pastoral power to construct the appearance of a new technological paradigm and implementation of the normalizing of state power over the Brazilian population. The Republic that was established in Brazil needed to transform its own strategic and technological mechanism to control its population, with the view of the logic of biopower. The parish, as an administrative body of the Catholic Church and shaped the Brazilian geographical and political space, proved to be the best vehicle for government action in the task of presenting the idea of the Republic to Brazil.

Keywords: Secular republic; Catholic Church; Parishes; Geopolitics; Biopower.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rogério Luiz de Souza, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná, com pós-doutoramento pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS/CEIFR) (Paris), professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), investigador estrangeiro do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL).

Referências

AZEVEDO, T. de. O catolicismo no Brasil: um campo para a pesquisa social. 21. ed. Salvador: EDUFBA, 2002 (publicado em 1955). BRUNEAU, T. O Catolicismo brasileiro em época de transição. São Paulo: Loyola, 1974.

CARVALHO, J.M. de. Formação das Almas. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

CERIS/DEPARTAMENTO DE ESTATÍSTICA. Anuário católico do

Brasil. Rio de Janeiro, 2000.

DELEUZE, G. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

DIOCESE DE CURITIBA. Boletim Eclesiástico. Curitiba, v 1, n. 9, 1900.

DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA. Recenseamento de 1890.

Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1895.

DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA. Recenseamento de 1920. 4° Censo geral da população e 1° da agricultura e das indústrias. Rio de Janeiro: Typ. da Estatística, 1929.

DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA. Recenseamento Geral do império de 1872. Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger; Typ. Commercial, 1876.

FOUCAULT, M. Segurança, Território, População. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

GIUMBELLI, E. O Fim da Religião. Dilemas da liberdade religiosa no Brasil e na França. São Paulo: Attar Editorial, 2002.

HOLANDA, S.B. de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

IBGE. Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1996.

LEITE, F.C. O Laicismo e outros exageros sobre a Primeira República no Brasil. Religião & Sociedade. Rio de Janeiro, v. 31, n. 1, p. 32-60, 2011. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S0100-85872011000100003>. Acesso em 12 mar. 2018.

LEME, S. Sobre a vida e a organização paroquial no Brasil. In: Cidade do Vaticano, ASV, Arch. Nunz. Brasile, busta 173, fasc. 951, ff. 6-29, 1924.

MANOEL, I.A. A criação de paróquias e dioceses no Brasil no contexto das reformas ultramontanas e da Ação Católica. In: SOUZA, R.L.; OTTO, C. (Org.). Faces do catolicismo. Florianópolis: Insular, 2008, p. 36-58.

MANOEL, I.A. D. Antônio de Macedo Costa e Rui Barbosa: a Igreja Católica na ordem republicana brasileira. Pós-História (revista de Pós-Graduação em História), Assis: Unesp, v. 5, p. 68-88, 1997.

MICELI, S. A elite eclesiástica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

ROSENDAHL, Z; CORRÊA, R.L. (Org.). Difusão e territórios diocesanos no Brasil, 1551–1930. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2006, v. 10, n. 218. Disponível em <http://www.ub.es/ geocrit/sn/sn-218-65.htm>. Acesso em: 15 mar. 2018.

SANCHIS, P. O repto pentecostal à cultura católica brasileira. In: ANTONIAZZI, A. et al. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 34-63.

SOUZA, R.; OTTO, C. (Org.). Faces do catolicismo. Florianópolis: Insular, 2008.

STEIL, C.A.; TONIOL, R. O catolicismo e a Igreja católica no Brasil à luz dos dados sobre religião no censo de 2010. Debates do NER, Porto Alegre, v. 14, n. 24, p. 223-243, 2013.

Downloads

Publicado

2019-02-05

Como Citar

Souza, R. L. de. (2019). A paroquialização como fenômeno geopolítico e estratégia biopolítica no processo de formação da república no Brasil. Revista Eclesiástica Brasileira, 78(310), 318–342. https://doi.org/10.29386/reb.v78i310.785