No berço da bioética. Encontro de um Credo (V.R. Potter) com um Imperativo (F. Jahr) e um Princípio (H. Jonas)

Autores

  • Leo Pessini Centro Universitário São Camilo - SP.

DOI:

https://doi.org/10.29386/reb.v74i293.547

Palavras-chave:

Bioética, Origem, Van Rensselaer Potter, Fritz Jahr, Hans Jonas.

Resumo

Este artigo faz uma incursão nas origens históricas da bioética, resgatando três importantes protagonistas. Um mais conhecido e reconhecido, Van Rensselaer Potter, e o outro completamente desconhecido e de quem somente muito recentemente temos notícia: o filósofo, teólogo, pastor e educador Fritz Jahr. Ficamos sabendo que a expressão Bioética foi utilizada pela primeira vez por Fritz Jahr, em 1926 e 1927, num artigo publicado na revista científica Kosmos e intitulado Bioética: uma revisão do relacionamento ético dos humanos em relação aos animais e às plantas. Jahr ampliou o conceito do imperativo kantiano e propõe o imperativo bioético: respeite todo ser vivo como princípio e fim em si mesmo e trate-o, se possível, enquanto tal. O terceiro protagonista é Hans Jonas, que elabora seu princípio da responsabilidade, pensando e elaborando uma ética frente ao crescente domínio da civilização técnico-científica. A expressão Bioéticaganhou certificado de nascimento e consolida-se nos EUA durante os anos 70 e é “exportada” para o mundo, a partir dos anos 80 do século passado, pelos trabalhos de Van Rensselaer Potter e do Instituto Kennedy de Bioética (1971), junto à Georgetown University, em Washington.

Abstract: This article attempts an incursion into the historical origins of bioethics and rescues three important protagonists. The first, better known and recognized, is Van Rensselaer Potter; the second one, totally unknown and of whom we have heard only recently, is the philosopher, theologian, pastor and educator, Fritz Jahr. We come to know that the expression Bioethics was used for the first time by Fritz Jahr, in 1926 and 1927, in an article published in the scientific magazine Kosmos under the title Bioethics: A Review of the Ethical Relationships of Humans to Animals and Plants. Jahr extended Kant’s concept of moral imperative and proposed the bioethical imperative: respect every live being, as a beginning and as an end in itself and treat it, if possible, as such. The third protagonist is Hans Jonas, who develops his principle of responsibility, thinking and elaborating a type of ethics to confront the increasing domination of the techno-scientific civilization. The expression Bioethics gained a birth certificate and strengthened itself during the 1970s being exported to the world from the 1980s onwards through the works of Van Rensselaer Potter and the Kennedy Institute of Bioethics (1971) at the Georgetown University in Washington.

Keywords: Bioethics. Origin. Van Rensselaer Potter. Fritz Jahr. Hans Jonas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Leo Pessini, Centro Universitário São Camilo - SP.

Professor Doutor no programa de pós-graduação em Bioética, mestrado e doutorado do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo. Autor de muitas obras no âmbito da bioética. Atualmente é Presidente das Organizações Camilianas Brasileiras, uma rede de 52 hospitais espalhados em 19 Estados brasileiros.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. 44 Cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

GORBACHEV M. Meu manifesto pela terra. São Paulo: Planeta, 2003.

GRACIA, Diego. Bioética. In: CASABONA, Carlos María Romeo

(dir.). Enciclopedia de Bioderecho y Bioética, t. I, a-h, Granada: Editorial Comares, 2011, p. 209-227.

JAHR, Fritz. Wissenschaft vom Leben und Sittenlehre. Die Mittelschule. Zeitschrift für das gesamte mittlere Schulwesen, v. 40, p. 604, 1926.

JAHR – Annual of the Department of Social Sciences end Medical Humanities at the University of Rijeka – Faculty of Medicine. Declaração de Rijeka sobre o futuro da bioética. Trad. de José Roberto Goldim, v. 2, n. 4, 2011, p. 587-588.

JONAS, H. O Princípio da responsabilidade: Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Trad. de Marijane Lisboa/Luiz Barros Montez.

Rio de Janeiro: Contraponto & PUC-Rio, 2006.

_______. Técnica, medicina y ética. Barcelona/Buenos Aires/México: Paidós, 1979.

LIPOVETSKY, Gilles. A sociedade pós-moralista. O crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos. Trad. de Armando Braio Ara. Baureri: Manole, 2005.

MUZUR Amir/RINCIC, Iva. Fritz Jahr (1895-1953): a life story of the “inventor” of Bioethics and a tentative reconstruction of the chronology of the discovery of his Word. JAHR – Annual of the Department of Social Sciences and Medical Humanities at University of Rijeka – Faculty of Medicine, v. 2, n. 4, p. 385-394, 2011.

MUZUR, Amir/SASS, Hans-Martin (eds.). Fritz Jahr and the Foundations of Global Bioethics: the future of integrative bioethics. Münster: Lit Verlag, 2012.

NAESS A. The shallow and the deep, long-range ecology movements: a summary. Inquiry, v. 16, p. 100, 1973.

PESSINI, Leo. Bioética: das origens à prospecção de alguns desafios contemporâneos. In: ID./BARCHIFONTAINE, C. de Paul (orgs.). Bioética e longevidade humana. São Paulo: Loyola/Centro Universitário São Camilo, 2006, p. 5-46.

_______/SIQUEIRA, J.E/HOSSNE, W. Saad (orgs.). Bioética em tempo de incertezas, São Paulo: Centro Universitário São Camilo & Loyola, 2010.

_______/BARCHIFONTAINE, C. de Paul/HOSSNE, W. Saad/AN-

JOS, Márcio F. dos (orgs.). Ética e bioética clínica no pluralismo e diversidade: teorias, experiências e perspectivas. São Paulo/Aparecida: Centro Universitário São Camilo & Ideias e Letras, 2012. Cf., especialmente, a II parte: JAHR, Fritz. Ensaios em bioética e ética – 1927-1947, p. 438-482.

POTTER, Van Rensselaer. Bioethics: bridge to the future. Englewood Cliffs/New Jersey: Prentice Hall, 1971.

_______. Global bioethics: building on the Leopold Legacy. East Lansing: Michigan State University Press, 1988.

RATZINGER, Joseph. O homem desceu até o fundo do poço do po-

der, até a fonte de sua própria existência. Folha de São Paulo, São Paulo, 24/04/2005.

ROA-CASTELLANOS, Ricardo Andrés/BAUER, Cornélia. Presenta-

ción de la palabra bioética, del imperativo bioético y de la noción de biopsicología por Fritz Jahr en 1929. Revista Bioetikós, v. 3, p. 158-170, 2009.

SANTOS, Robinson dos. O problema da técnica e a crítica à tradição na ética de Hans Jonas. In: ID./OLIVEIRA, Jelson/ZANCANARO,

Lourenço (orgs.). Ética para a civilização tecnológica: em diálogo com Hans Jonas. São Paulo: Centro Universitário São Camilo, 2011, p. 22-40.

SASS, Hans-Martin. The many faces and colors of the Bioethics Imperative. In: MUZUR, Amir/SASS, Hans-Martin (eds.). Fritz Jahr and the Foundations of Global Bioethics: the future of integrative bioethics. Münster: Lit Verlag, 2012, p. 281-291.

_______. The Earth is a living being: We have to treat her as such! Eubios Journal of Asian and International Bioethics, v. 21, n. 3, p. 73-77, 2011.

_______. European roots of bioethics: Fritz Jar’s 1927 definition and vision of bioethics. In: COVIC, Ante-Gosie/TOMASEVIC, Luka (eds.). From new medical ethics to integrative bioethics. Zagreb: Pargamena, 2009, p. 22-25.

_______. Post Scriptum da II parte: JAHR, Fritz. Ensaios em bioética e ética 1927-1947. In: PESSINI, L./BARCHIFONTAINE, C. de Paul/ HOSSNE, W. Saad/ANJOS, Márcio F. dos (orgs.). Ética e bioética clínica no pluralismo e diversidade: teorias, experiências e perspectivas. São Paulo/ Aparecida: Centro Universitário São Camilo & Ideias e Letras, 2012, p. 484-494.

SILVEIRA, Denis Coutinho. Uma análise do princípio da responsabilidade de Hans Jonas: suas implicações metaéticas. In: SANTOS, Robinson dos/OLIVEIRA, Jelson/ZANCANARO, Lourenço (orgs.). Ética para a civilização tecnológica: em diálogo com Hans Jonas. São Paulo: Centro Universitário São Camilo, 2011, p. 235-267.

SIQUEIRA, J.E. Ética e tecnologia: uma abordagem segundo o princípio da responsabilidade de Hans Jonas. Londrina: UEL, 1988.

Downloads

Publicado

2014-10-19

Como Citar

Pessini, L. (2014). No berço da bioética. Encontro de um Credo (V.R. Potter) com um Imperativo (F. Jahr) e um Princípio (H. Jonas). Revista Eclesiástica Brasileira, 74(293), 50–77. https://doi.org/10.29386/reb.v74i293.547