v. 71 n. 281 (2011): Teologia: ciência de Deus
Teologia (Theos + Logos)?! É razoável que a experiência cristã integre estes dois conceitos: Theos – Deus – e Logos – Palavra, Verbo, Discurso racionalmente organizado? Questão equacionada, dirão alguns! Pode-se considerar a Teologia uma ciência, uma vez que a fé, seu objeto, é uma confiança, um conhecimento subjetivo, uma opinião – perguntarão outros? Ou questionarão: trata-se apenas de uma especulação teórica ou de um assunto que envolve a totalidade da pessoa humana e que, portanto, tem implicações práticas? Enfim, são razoáveis os pilares da ponte?
Estamos, sim, diante de questões pertinentes e sempre novas... Neste fascículo, algumas sugestivas reflexões. Muito brevemente:
João Batista Libanio postula que o diálogo entre fé e razão, entre teologia e ciência presta ou prestaria um grande bem à humanidade. Ele retoma, assim, o ensinamento tradicional da Igreja católica, ainda recentemente reafirmado pelos papas João Paulo II e Bento XVI. E quão enriquecedor é ou seria o diálogo! Com efeito, sem dialogar com a ciência, a fé pode perder-se em fantasias, superstições, mitos, ritos exóticos, sagrado selvagem, visão ptolomaica do mundo; e sem dialogar com a teologia, a ciência pode perder-se em veredas que conduzem o ser humano à loucura, aos campos de extermínio, a fantasmagorias tecnológicas, a armas de destruição...
Paulo Sérgio Lopes Gonçalves assegura que, por um lado, a teologia é sabedoria da fé, do amor, enquanto, como ouvinte, se põe à escuta do mistério inefável, absoluto e silencioso de Deus, que toma a iniciativa de se comunicar com o ser humano, e, por outro, ela pode, sim, ser creditada como ciência, porquanto o acesso do teólogo a seu objeto primeiro só é possível no e a partir do locus da realidade existencial humana. Portanto, ao lidar com dados da realidade humana, enquanto dados históricos e empíricos, também a teologia, como outras disciplinas, produz ciência.
Francisco de Aquino Júnior caracteriza e especifica este locus da realidade humana como locus do anúncio e da atuação do amor. Sua característica e especificidade lhe vem da imagem de Reinado de Deus em dinâmica configuração histórica. Aqui está o objeto da teologia enquanto ciência!
Por sua vez, João Mannes sonda, em são Boaventura, a possibilidade e a característica doconhecimentodeDeusporpartedoserhumano.Estapossibilidadesedápelocaminho da apreensão, em que o ser humano toma consciência e distância de seu próprio conhecimento, uma vez que se dá conta de que só constrói representações que, por sua natureza, sempre precisam ser ultrapassadas. Esta autocrítica culmina no encontro como Amor, que redunda em serviço incondicional a cada uma e a todas as pessoas, por amor a Deus. Portanto, teologia é atividade de Logos e é experiência de/com Theós!
Por fim, em assuntos variados, primeiramente Johan Konings resume e elogia a Exortação Apostólica Verbum Domini, indicando sua importância na vida da Igreja; Cleiton José Senem recorda e traz à atualização dois momentos inseparáveis da Eucaristia: a vida e a própria celebração; e Ângelo Cardita propõe hermenêutica dinâmica e dialogante em liturgia, em todos os níveis. Vale a pena conferir!
Elói Dionísio Piva ofm
Redator